Hugo Gonçalves: «o Algarve não precisa de promover mais o seu sol e mar»

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Formado em gestão turística e com um percurso de 25 anos na hotelaria, Hugo Gonçalves, diretor geral do Tivoli Marina Vilamoura Resort perspetiva um excelente ano turístico e acredita na capacidade do destino em continuar a esbater ainda mais a sazonalidade.

barlavento: Como tem sido dirigir uma unidade que é um ícone algarvio?
Hugo Gonçalves: O Tivoli Marina Vilamoura Resort celebra este ano 36 anos e é um ícone não só do destino Algarve, de Vilamoura, como também da hotelaria internacional. Há seis anos dá-se uma grande alteração, quando a cadeia Tivoli foi adquirida pela Minor Hotels. Conseguiu atrair ótimos profissionais para um processo grande de desenvolvimento destas unidades. A primeira fase da mudança foi a criação do Centro de Congressos do Algarve, tentando dar resposta à sazonalidade que ainda existe e que temos de combater. Tem mais de 7000 metros quadrados e pode receber eventos internacionais. Uma grande ambição associada ao ADN deste hotel é a cultura. As condições permitem acolher espetáculos, concertos, exposições. Depois, tentámos desconstruir os espaços que só podiam ser utilizados por hóspedes, abri-los cada vez mais ao exterior, e conseguirmos. Foi aí que também começámos a virar toda a nossa vertente gastronómica, que era de excelência e que passou a primar por produtos diferenciados. 

E também apostaram no wellness
Certo. Aparecem dois conceitos, o Tivoli Spa e o Tivoli Shape. Dentro do universo Vilamoura, os proprietários dos barcos não podiam aceder a um ginásio, então criámos todas as condições necessárias para tal. 

Seguiu-se a mudança de visual.
Um hotel com 36 anos precisava de uma reforma maior. É um hotel que tem vindo a primar por estar à frente do seu tempo. Portanto, teríamos de continuar a avançar para esse caminho. Concluímos a renovação de 383 quartos e de todas as áreas públicas, tornando o ambiente mais leve, mais orientado para o resort e para a praia. Somos um cruzeiro atracado. À nossa volta temos a Marina e o mar. Tínhamos de pôr esta essência no ambiente para o mercado de lazer, de famílias e de branding de empresas e eventos que nos visitam. Criámos espaços mais funcionais, num ambiente que se pretende formal, mas descontraído. Oficializámos zonas de leitura, de partilha de livros e de jogos de tabuleiro no jardim de inverno. 

Por fim, veio a adaptação às novas exigências ambientais.
Sim. A nossa grande aposta recai numa ambição anterior. Sabendo que o município de Loulé e o Algarve têm um risco enorme em relação ao seu consumo de água, reduzimos a capacidade do tanque da piscina de 2,40 metros para 1,40 na zona mais profunda. Isso permitiu reduzir 30 por cento de consumo, assim como os químicos e toda a bombagem e o gasto energético. Foi uma mudança bem sucedida por essa vertente e também pela acessibilidade. A segunda parte foi a alteração de toda a jardinagem. A rega foi adaptada para ser mais eficiente.

Todo o projeto já está concluído?
Na realidade ainda não está, porque há uma ambição de continuar a investir, a renovar e a melhorar os espaços. 

Quais os próximos passos?
Temos um espaço que se chama Lake Side, que fica dentro do perímetro do resort, com capacidade de 1200 pessoas para banquetes, refeições e eventos como casamentos e batizados. Cada vez mais sentimos que o Algarve é um destino para eventos, mas há poucas zonas onde se possam fazer refeições para 500 a 1000 pessoas. Poucos são os hotéis que têm essa capacidade nas suas próprias estruturas. O que sabemos é que todos os produtos que lançarmos já têm que ter ainda uma maior consciência ambiental. Temos um projeto que está quase a ser concluído a nível de gastronomia que tem uma vertente muito sustentável, de economia circular, e que a seu tempo será dado a conhecer. O outro está ainda para vir, tem várias entidades envolvidas e está também relacionado com a gastronomia, porque achamos que é algo que tem de estar cada vez mais presente no destino com uma boa referência para conseguir mostrar a nossa identidade e cultura. 

Hugo Gonçalves, diretor geral do Tivoli Marina Vilamoura Resort perspetiva um excelente ano turístico e no combate à sazonalidade.

O que é que os hóspedes mais antigos acham da mudança?
Quando reabrimos, a 1 de fevereiro, e quando mostrámos o produto renovado, convidámos os nossos 50 melhores clientes, assim como os melhores parceiros e pessoas que fazem parte desta história. A primeira impressão foi fantástica. Sabíamos que esta renovação era merecida e necessária. Ouvimos o que nos pediram e adoraram. Mantemos a traça identitária da marca e da excelência do serviço. O edifício continua a ter a sua imponência, mas num ambiente muito mais fresco, muito mais leve, que pode ser do agrado das novas gerações que nos visitam. 

Como está a correr a operação?
Está a correr muito bem. Temos eventos que tinham vindo a ser adiados desde os anos pandémicos. Falo de congressos médicos e encontros internacionais. Sentimos a necessidade que as pessoas tinham em viajar. Portugal ficou muito bem conotado pela gestão que fez da pandemia. Toda a vertente de medidas de segurança e protocolos implementados permitiu que Portugal elevasse o seu nível de segurança, o que incrementou o número de reservas e estamos muito bem nessa área. O país continua a ser um destino seguro porque não há uma grande oscilação de preços, não há uma grande instabilidade. Continua a ser um destino acessível em termos de viagem, alojamento e refeições. E são valores baixos em comparação com outros destinos. Conseguimos ser um país acessível e apetecível. A nossa época baixa já está a ser preenchida por mercados e por tipologia de clientes que não procuram só sol e mar e é aí que temos de nos focar. O Algarve não precisa de promover mais o seu sol e mar.

Quais as perspetivas para a época alta?
Estamos cheios. Temos tido ocupações mensais entre os 70 a 75 por cento em fevereiro, março e abril. Para o verão vamos bem encaminhados. 2022 foi uma referência de boom. A procura estava retraída e de um momento para o outro abriu-se uma janela. Estamos já acima de 2019. Os indicadores que temos é que será um excelente 2023. Em janeiro, os dados que tínhamos já mostravam muitas pessoas a procurarem o Algarve. Fevereiro foi excecional para os mercados de lazer. Os mercados de eventos voltaram e os mercados de golfe já estão implementados. Estamos também a tentar adaptar-nos ao mercado do desporto que traz até ao Algarve os desportos nacionais e internacionais, vela, remo, ténis em cadeira de rodas, ciclismo. Temos de apostar nesse tipo de prova. Há um potencial grande, por exemplo, nos desportos náuticos não motorizados. Quando é que procuram fazer treinos, estágios e preparar campeonatos? Fora da época alta. É para aí que devemos caminhar.

E em relação a novos mercados?
Estamos a ver um crescimento e a chegar a outros mercados que são muito bons: o mercado americano e o mercado brasileiro que faz estadias longas. Outro que está a surgir são os Emirados, com famílias mais volumosas e estadias maiores. Estamos a receber muito mais clientes de Espanha e França. Continuamos muito fortes nos mercados britânico e irlandês, também devido ao golfe. O que queremos agora é, cada vez mais, que esses mesmos mercados possam dar origem a outros propósitos. Ou seja, que os britânicos nos visitem em alturas de inverno para passear e visitar a região, que os golfistas possam realizar eventos aqui depois de conhecerem as nossas infraestruturas. É assim que pretendemos aumentar o potencial e variar o propósito das visitas. Tudo isto está a ser trabalhado pela equipa.

Novos espaços abertos ao público

Uma aposta deste ano é o The Argo, um bar «onde podemos chegar antes ou depois de jantar e ter uma ótima experiência de um cocktail inspirado numa carta de navegação de especiarias. É uma caravela que nos leva aos nossos antepassados como navegadores», explica ao barlavento o diretor do hotel. «Prima por cativar os não hóspedes a experimentar. A entrada pode ser feita por um elevador panorâmico e queremos que seja uma referência internacional», acrescenta Hugo Gonçalves. Conta com direção do reconhecido barman Nelson Matos.

«Outro espaço alterado foi a sala do pequeno-almoço. Fizemos uma grande renovação do espaço, que agora é um restaurante versátil com buffets, aberto 365 dias ao ano. Quando acolhemos um evento, pode ter um menu que se adapta ao cliente». Outro projeto, este nascido na pandemia, é o Glee Boutique Café, no lobby do hotel. «Demos a oportunidade à equipa de pasteleiros de exporem o que de bom fazem. É um espaço que se pretende que seja sociável, onde se pode tomar um chá das cinco disruptivo, beber um vinho rosé ou um champanhe», sob a criação diária de pastelaria do chef pasteleiro Patrick Mestre.