Greve dos Sindicatos da Administração Pública deixa o Algarve a meio-gás, contabilizaram esta manhã os dirigentes, em Faro.
Alunos sem aulas, hospitais com serviços mínimos em Faro, Portimão e Lagos e também nos Serviços de Urgência Básica (SUB) de Albufeira e Loulé.
A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública convocou uma greve para hoje, dia 17 de março, e ao final da manhã chamou os jornalistas para um conferência de imprensa conjunta, junto ao Mercado Municipal de Faro, onde as estruturas avançaram os dados disponíveis.
Lígia Martins, do Sindicato dos Professores da Zona Sul, não tinha números exatos para dar aos jornalistas mas apontou que encerram em Faro a D. Afonso III, a Escola Básica de S. Luís. Também o Agrupamento de Escolas Silves sul, além de escolas em Tunes, Pêra e Armação de Pêra.
«Durante a tarde teremos mais escolas encerradas porque há colegas que foram obrigados a cumprir serviços mínimos para uma greve que não os tinha. Temos conhecimento de direções que se deslocaram a todos equipamentos dos agrupamentos para fazerem essa coação», denunciou.
«A partir de segunda-feira, faremos o levantamento dessas situações que consideramos que são irregulares e que violam a liberdade do trabalhador no direito à greve. Agiremos em conformidade. Foi através da luta que os professores têm tido até aqui, que o ministério marcou para a próxima semana com agendamento de outros assuntos que reivindicamos e que esperamos que sejam levados a bom porto», disse ainda.
Sónia Lopes, do Sindicato de Enfermeiros Portugueses (SEP) estimou a adesão em cerca de 80 por cento. «Ainda nos faltam números, mas no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) temos serviços praticamente parados e outros 100 por cento» bloqueados pela greve. «Os blocos operatórios só têm a equipa de urgência a funcionar. As unidades de cirurgia de ambulatório em ambos os hospitais, Faro e Portimão, também estão paradas».
Um resultado «muito claro» que mostra bem «o descontentamento dos enfermeiros. Temos serviços mais cruciais apenas estão a presta cuidados mínimos». Em relação aos equipamentos sob tutela da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, não avançou dados.
Há ainda adesão de 100 por cento à greve no Serviço de Urgência Básica (SUB) de Albufeira e adesão no congénere de Loulé.
Rosa Franco, do Sindicato dos trabalhadores em funções públicas e sociais do sul e regiões autónomas, confirmou os serviços mínimos no CHUA, em Faro, Portimão e Lagos, «apenas para urgências» e que a adesão ronda os 90 a 95 por cento.
Na educação, «temos o problema da imposição dos serviços mínimos aos auxiliares de ação educativa já muitos deles estão impedidos de fazer greve. Estamos contrariados e para já há algumas escolas a funcionar devido a essa situação».
Segundo Bruno Luz, coordenador da região de Faro do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL), nas autarquias, a adesão ronda os 75 por cento.
«Os trabalhadores aderiram massivamente à greve. No fundo, aquilo que querem é melhorar as suas condições de vida. Pedem a revogação do sistema de avaliação, pretendem o aumento do salário mínimo em 10 por cento, no mínimo de 100 euros para compensar o aumento da inflação. E reivindicam o aumento do subsídio de alimentação e que sejam repostas as carreiras de origem», enumerou
«Aquilo que o governo fez foi deixar os trabalhadores mais pobres. Houve um aumento salarial, mas continuam a empobrecer, cada vez com mais trabalho e menos condições. Portanto, estão a colocar-nos num ponto em que os trabalhadores vão ter de aderir massivamente às várias lutas que vierem (no futuro) e mostrar o seu descontentamento pelo que estão a passar».
E exemplificou: «há fome entre os trabalhadores das autarquias. Há trabalhadores que neste momento já não têm capacidade para se alimentar e andam a pedir ajudas aos colegas para se poderem alimentar. É para isto que o governo tem de olhar. Tem de olhar para estes trabalhadores como pessoas dignas e não como mais um número».
«Estamos a falar no Algarve, onde podemos assumir que custo de vida será mais caro devido ao turismo, mas as condições de vida destes trabalhadores são transversais de norte a sul do país. E é isto que está a acontecer. O governo não pode deixar as pessoas com fome. Os salários que se hoje se praticam em Portugal na administração local deixam as barrigas vazias. E é isto que tem de acabar», concluiu.
Catarina Marques, coordenadora da União dos Sindicatos do Algarve, considerou que a greve «enquadra-se, em primeiro lugar, pela degradação das condições de trabalho» dos trabalhadores da administração pública.
«Os trabalhadores além de terem vindo a assistir à degradação das suas profissões, não têm hoje uma valorização salarial que possa acompanhar este aumento do custo de vida. E portanto, há uma desvalorização deste sector. Isto é um sintoma de um desagrado geral que já existia, mas veio agora aumentar com a inflação, a subida dos preços dos bens essenciais, com o aumento das taxas de juro nos créditos à habitação. Os trabalhadores começam a ver que mesmo a trabalhar não conseguem fazer face às despesas», explicou.
«E por essas razões estão em luta e não aceitam inevitabilidades porque sabemos que pode e deve haver, por parte do governo, uma política de aumentos salariais para a administração pública. O governo regular os preços dos bens e dos serviços essenciais e deve estabelecer também normas que promovam o acesso à habitação para todos. Todas estas questões fazem parte de um todo que levaram os trabalhadores para a rua», acrescentou.
Em relação à frequência das greves começar a ter uma certa impopularidade social, sobretudo para quem tem filhos e vê com regularidade as escolas fechadas e a suas vidas profissionais prejudicadas, além de prejudicar o ritmo de aprendizagem dos educandos, a dirigente tem uma perspectiva diferente.
«No que me diz respeito, daquilo que as pessoas me dizem, os pais não estão satisfeitos com a escola pública», tal como os utentes do serviço Nacional de Saúde.
«Aquilo que tenho sentido e reparado é que as pessoas têm uma enorme solidariedade com quem tem esta luta, que também é para se concretizar em melhores serviços públicos. Ou seja, as populações ficam beneficiadas se os serviços públicos tiverem mais investimento, e se os trabalhadores tiverem melhores condições salariais e de trabalho. Sentimos essa solidariedade», disse.
A coordenadora da União dos Sindicatos do Algarve confirmou que os números da adesão à greve estão a atingir «percentagens positivas», apesar de, no que diz respeito à escola pública, «o questão dos serviços mínimos que foram decretados têm criado muitas confusões. Houve até tomadas de decisão por parte de alguns diretores que não vão ao encontro daquilo que são os serviços mínimos» o que acabou por afetar a adesão.
Ainda assim, «temos escolas encerradas, temos percentagens entre os 60 a 70 por cento ao nível dos auxiliares de ação educativa nas escolas e também há percentagens elevadas nos hospitais, centros de saúde e alguns serviços de impostos e tribunais que têm sido afetados».
Por fim, «o ideal seria não considerarmos novas greves. Isso quereria dizer que o governo tinha resolvido os problemas dos trabalhadores da administração pública. Mas se insistir neste caminho, dos baixos salários, do desinvestimento das funções sociais do Estado, os trabalhadores vão continuar empenhados e determinados na luta. Depende do governo», garantiu.