Três municípios e a Universidade do Algarve (UAlg) já assinaram o protocolo que visa candidatar o património a Geoparque Algarvensis Mundial da UNESCO.
Os três municípios, com a parceria do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve (UAlg) começaram os trabalhos há quase dois anos, mas a história geológica e paleontológica remonta há quase 360 milhões de anos.
«Eis que chegámos a um grande dia. Quando me falaram pela primeira vez do projeto, rapidamente percebi que estava perante uma oportunidade única que não podia deixar de agarrar e que possibilita contrariar o clima de declínio demográfico, económico, natural do interior do Algarve. Este é um projeto de gerações e que só se fará com a colaboração das pessoas e dos habitantes do território. É preciso que as pessoas incorporem a ideia de que o seu território tem esta riqueza geológica e que associado aos acontecimentos de importância nacional e mundial têm toda a sua cultura», disse Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé e anfitrião na cerimónia de assinatura do protocolo entre todas as entidades envolvidas, na segunda-feira, dia 2 de dezembro.

O autaca enalteceu ainda a importância política desta iniciativa. «Precisamos de projetos regionais e que os atores políticos com relevância possam experimentar cada vez mais, a arte da colaboração. O Algarve precisa muito destes projetos que tenham a capacidade de agregar os atores políticos, além das suas diferenças ideológicas», reforçou.
Também do ponto de vista económico, «este projeto vai convocar empresários. Pretendemos valorizar o interior que economicamente tem perdido valor. Vivemos numa economia que se concentra onde as oportunidades de lucro são maiores. E levam a desequilíbrios territoriais. As pessoas fogem, quem lá fica envelhece e geram-se discrepâncias que, mais tarde, todos somos chamados a pagar muito caro», reforçou.

A corroborar esteve o discurso de José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira. «Não nos esqueçamos que vivemos numa zona turística. Falamos em diminuir a sazonalidade e esta pode ser também uma motivação e um incentivo para isso mesmo».

Já Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves frisou o que, na sua opinião, se pretende com o Geoparque. «Queremos que este local seja ganhador e que a palavra Algarvensis entre na boca de toda agente. Queremos que as pessoas sejam contagiadas e reconheçam o seu território e que tenham este sentimento de pertença e de orgulho.Queremos que as rochas contem uma história e queremos ser reconhecidos pela UNESCO».

Em representação do CIMA, usou da palavra a diretora Maria João Bebiano que revelou que há já diversos jovens a trabalhar no terreno. Paulo Águas, Reitor da UAlg, encerrou a cerimónia com otimismo.
«Estou convicto que com a energia, o saber e o conhecimento acumulado, com este comprometimento dos territórios e com as equipas técnicas que temos nas autarquias, isto tem tudo para dar certo. É um projeto fundamental para cuidarmos deste património e para o tornarmos mais coeso e com melhores condições de vida».

Aos jornalistas, Vítor Aleixo esclareceu que «é muito difícil haver um compromisso concreto com períodos de tempo, uma vez que estamos a falar de um projeto de valorização de território, cultura, ambiente e geologia. Coisas muito novas para que possamos ter a pretensão de limitar em termos de tempo quais os seus diferentes momentos. O que podemos dizer nesta fase é que há um grande entusiasmo, um trabalho multidisciplinar».
Já se identificaram mais de 25 geossítios

Cristina Veiga-Pires, professora da Universidade do Algarve e diretora do Centro Ciência Viva do Algarve, em Faro, ficou encarregue da coordenação científica do projeto do Geoparque Algarvensis.
Aos jornalistas, a docente destacou quais os pontos de relevo no território que justificam a candidatura à UNESCO. «O Grés de Silves, a Serra do Caldeirão, o aquífero Querença – Silves, a jazida onde foi encontrado o Meroposauros Algarvensis [espécie de anfíbio pré-histórico] na Penina; a Mina de Sal-Gema da Campina de Cima e os Calcários do Escarpão», enumerou.
Ainda segundo a investigadora, esses são só exemplos de alguns geossítios (locais de interesse geológico) que já foram descobertos no território. «Temos uma lista com mais de 25 geossítios a serem documentados e ainda não os descobrimos a todos. É um trabalho longo porque temos de ir ao terreno, verificar a acessibilidade e o estado».
Veiga-Pires revelou ainda que em certos locais de releveo haverá projetos de museonalização para que compreendam o que estão a ver. «É difícil contabilizar e dizer ao certo o que vai existir, mas onde há fósseis e eventos geológicos de importância terá certamente de existir» estruturas de interpretação.