Há vários anos que Faro se habituou a ver os aviões da britânica Monarch, que suspendeu as operações no início desta semana. «Não é uma boa notícia e vai traduzir-se em prejuízos», diz Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), ouvido pelo «barlavento».
«A Monarch não é apenas uma companhia aérea, também é uma agência de viagens e um operador turístico. Portanto, tem dívidas aos hoteleiros que ficarão por pagar», lamentou. A situação apanhou os empresários do sector desprevenidos, pois, de acordo com o presidente da AHETA, nada faria prever esta paragem repentina.
«Não. O que se pode dizer é que, no ano passado, a Monarch foi a terceira companhia aérea no Aeroporto de Faro. Tinha um share de 7,4 por cento. Transportou 567835 passageiros em 2016. É verdade que nos últimos três a quatro anos, eles tinham tido descidas ligeiras no movimento, mas este ano estavam com um aumento de 10,4 por cento. Até ao final de agosto tinham transportado 418 mil passageiros e turistas», contabiliza.
Agora, «o problema que nos preocupa mais a nós, hoteleiros, são as dívidas existentes que, em situações de insolvência, como é o caso, dificilmente serão cobradas. Isto além de encontrar alternativas». Elidérico Viegas ainda não tem números concretos, mas garante que vários associados da AHETA já o contactaram sobre o problema. «Estão a arder», garante.
«Não era expectável, a Monarch era uma empresa com algum peso, embora tivesse uma importância relativa no Algarve, o grande volume de negócio seria para outros destinos. Penso que isto é uma consequência direta de três fatores importantes. Por um lado, o aumento do preço do petróleo e a desvalorização da Libra. Há a concorrência no mercado entre as companhias aéreas low cost e, por fim, seria difícil que o Brexit não começasse a produzir efeitos» negativos.
«Com a crise e a instabilidade na Turquia e no Egito, a Monarch terá perdido muito negócio» e não conseguiu competir em mercados como a Grécia ou Espanha.
A queda da Monarch não poderia ter sido em pior altura, visto que abriu a época do golfe, em que muitos jogadores já teriam comprado as suas temporadas na região. «Estas coisas produzem sempre efeitos, porque as pessoas que já teriam comprado bilhetes de avião e estadias, não vão ser ressarcidas. Apenas o passageiro que já está em estadia no Algarve é que tem proteção, não é o que está para viajar para este destino. Esse perdem», explica. «A partir de hoje, que é o dia da falência, há fundos de garantia para o repatriamento e custos de estadia para os passageiros que estão na região. Mas as dívidas todas anteriores, e os turistas que marcaram para vir depois de hoje, ficam a arder também. É verdade que a Monarch pagava, por norma, a 30 dias e portanto, o volume de prejuízo para os hoteleiros algarvios poderá não ser muito elevado. Mas tudo junto, será sempre muito, porque foram prestados serviços. Há dívidas a hoteleiros e a outros fornecedores certamente que ficarão por liquidar. Fica também a região a perder os turistas que teriam marcado viagem, a partir de amanhã e que já não virão», concluiu o representante da AHETA em declarações ao «barlavento».
«Se vierem, terá de ser por outras companhias. Haverá muitos que, tendo pago e gasto o dinheiro, não estarão disponíveis para gastar mais. É um duplo prejuízo para a região», constatou.
O «barlavento» contactou também Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), que se mostrou indisponível para comentar, por estar ainda a reunir informações.
Rui Schönenberger de Oliveira, Media Officer da ANA Aeroportos de Portugal, informou que «na sequência do cessação de atividade da Monarch, a Civil Aviation Authority (CAA) está a implementar um plano que gere o impacto nos passageiros desta companhia aérea. Estamos em contacto com a CAA e restantes entidades envolvidas neste plano, e comprometida na implementação das alterações necessárias para o executar e encaminhar os passageiros afetados em todos os aeroportos da nossa rede».
«No website https://monarch.caa.co.uk/ podem ser encontradas todas as informações sobre as políticas aplicadas aos passageiros que têm voos com esta companhia aérea bem como aeroportos afetados e informação por aeroporto e por voo», disse ainda.
Além de Faro, a Monarch voava para a Madeira (Funchal), Lisboa e Porto.