Faro quer um «Quilómetro Cultural» frente à Ria Formosa

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Câmara Municipal de Faro quer nova ligação pedonal e ciclável entre o Teatro das Figuras e o Largo de São Francisco. Projeto «Quilómetro Cultural» anula duas passagens de nível, cria uma Área de Reabilitação Urbana (ARU) para a frente ribeirinha e recupera antigos armazéns para criar mais polos de cultura na cidade.

O Dia do Município de Faro foi hoje celebrado com a apresentação do projeto «Quilómetro Cultural», no fundo, uma ideia há muito desejada na cidade: a devolução da Ria Formosa à população farense.

Apresentado por Sophie Matias, vereadora das Infraestruturas e Urbanismo, o projeto pretende criar uma ligação pedonal e ciclável direta entre o Teatro das Figuras e o Largo de São Francisco, segura e com novos polos de interesse.

Sophie Matias, vereadora das Infraestruturas e Urbanismo.

Nas palavras de Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, a «designação do projeto é paradigmática do que pretendemos, num duplo compromisso: um com esta zona tão promissora do concelho, mais uma vez na ligação entre terra e mar, e, outro, com a ideia de criação de um espaço público cada vez mais ao serviço da população e do seu processo de crescimento civilizacional».

Rogério Bacalhau no uso da palavra.

O primeiro passo é a elaboração de um plano de Requalificação da frente ribeirinha, da autoria do arquiteto Miguel Caetano que está a ser elaborado em conjunto com a autarquia.

Prevê quatro passos: a criação de uma passagem superior rodoviária, ciclável e pedonal junto ao Teatro das Figuras; a transformação de alguns antigos edifícios da (IP) Infraestruturas de Portugal junto à estação de comboios em polos de cultura; a supressão da passagem de nível junto ao Hotel Eva/Capitania, e, por fim, a ampliação do Porto de Recreio de Faro através da ampliação da doca exterior.

Em relação às passagens de nível, o primeiro passo foi dado na efeméride com a assinatura de um acordo entre Rogério Bacalhau e Carlos Fernandes, vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP).

Rogério Bacalhau e Carlos Fernandes durante a assinatura do protocolo.

«A Câmara assumiu o desenvolvimento do projeto de execução e a IP irá fazer a obra, que tem um investimento previsto de 2,5 milhões de euros. A solução técnica ainda está a ser discutida, mas enquanto não houvesse a supressão da passagem junto às Figuras, a requalificação da envolvência não poderia ser autorizada. Com a criação de uma passagem superior, eliminamos esse ponto de segurança e aquele espaço já pode ser desenvolvido. Antecipamos que o concurso público e a obra demorem, em conjunto 24 meses a serem executados. Falta o projeto estar concluído e ser aprovado, depois temos dois anos para o concretizar», disse Carlos Fernandes aos jornalistas.

Luís Pinelo, gestor regional de Beja e Faro da IP, acrescentou ainda que a solução técnica para aquela passagem de nível «nunca será totalmente consensual. O desenvolvimento do novo projeto é que dirá qual será a solução encontrada. De qualquer maneira, já há uma equipa formada que está agora a começar a trabalhar nisso».

Por outro lado, ainda dentro do projeto «Quilómetro Cultural», também o Porto de Recreio será alvo de algumas intervenção. A doca será ampliada para a parte exterior, permitindo assim um aumento da capacidade atual. Ficará, segundo Rogério Bacalhau, na «continuidade do passadiço que culminará no Largo de São Francisco. Haverá uma estrutura leve e de suporte às embarcações. Será uma intervenção ligeira. O que falta decidir é se a ligação ao Largo será superior ou inferior». Neste aspeto, a Docapesca está a estudar uma solução para a concretização da doca exterior.

O espaço público desde o Largo da Estação, passando pela Avenida da República e o Jardim Manuel Bivar, até ao Largo de São Francisco, será também reordenado. O pretendido é que o caminho termine num edifício emblemático da cidade conhecido por antiga Fábrica da Cerveja, que pontualmente acolhe atividades culturais.

ARU da zona ribeirinha de Faro.

Apesar de estas serem zonas nobres da capital algarvia, «perderam conforto, atratividade e coerência, fruto de um conjunto de intervenções ao longo de décadas. O que queremos é contratar uma equipa que faça a requalificação que é necessária fazer», admitiu Rogério Bacalhau.

«Toda essa zona será requalificada nos próximos anos e teremos uma componente cultural e humanística neste quilómetro cultural», garantiu o autarca.

Ainda em relação aos espaços culturais, o edil revelou que dentro de um mês, será assinado um novo protocolo com a IP, de transferência de competências dos armazéns da estação ferroviária.

«Vão passar para a nossa responsabilidade e queremos fazer uma grande área de exposições», previu.

Por fim, questionado sobre se o «Quilómetro Cultural» surge no âmbito da candidatura de Faro à Capital Europeia da Cultura 2027, Bacalhau não escondeu as intenções.

«Para mim tudo isto estaria pronto até no ano passado, mas são processos burocráticos que levam tempo e que são angustiantes. O objetivo é estar pronto o mais rápido possível. Queremos é ter um projeto coerente e sustentável para desenvolver. Estamos a pensar na requalificação tanto a nível urbanístico como a nível cultural e social de toda a frente ribeirinha e de toda a baixa de Faro. Este Quilómetro Cultural é uma ideia estruturada que aparece quando estivemos a estudar o Plano Estratégico para a Cultura. Tínhamos um conjunto de projetos que já estavam em andamento e juntamo-los todos de forma coerente», concluiu.

Bruno Lage e Rogério Bacalhau à entrada da sessão solene que decorreu hoje no Teatro das Figuras.

Ferrovia do Algarve à beira da modernização

Carlos Fernandes, vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP) marcou presença nas comemorações do Dia do Município de Faro.

Aos jornalistas, revelou que no âmbito do Plano de Investimentos Ferrovia 2020, «temos estado a desenvolver projetos para a modernização da linha do Algarve entre Tunes e Lagos e entre Faro e Vila Real de Santo António (VRSA). Esses projetos de execução estão concluídos. O processo de avaliação ambiental entre Faro e VRSA está também concluído e o entre Tunes e Lagos está praticamente pronto. A IP prevê lançar estas duas empreitadas nas próximas semanas. Estamos apenas à espera das últimas autorizações».

Ainda de acordo com o responsável, os trabalhos devem estar terminados em 2023. «Isto vai permitir modernizar os dois troços com eletrificação e automatização de todas as passagens de nível. Vamos ter ainda a supressão de mais duas passagens de nível no Barlavento. Trata-se de mais um passo importante para a requalificação desta infraestrutura. Permitirá aos Comboios de Portugal (CP) utilizar composições mais novas, mais modernas, mais confortáveis e mais rápidas. Prevemos uma economia de tempo, entre VRSA e Lagos na ordem da meia hora com este novo material circulante. Será um impulso importante na requalificação do sistema ferroviário do Algarve», concluiu.

Viagem de Faro – Lisboa afinal poderá ser mais curta

O vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), Carlos Fernandes afirmou aos jornalistas, no final da cerimónia do Dia do Município de Faro que «foi proposto ao governo e colocado em discussão pública, dentro do Plano Nacional de Infraestruturas, uma melhoria significativa da ligação ferroviária entre Faro e Lisboa. Estavam previstos mais de 100 milhões de euros neste plano de infraestruturas para a próxima década para reduzir o tempo de ligação entre as duas cidades. Além disso, ainda dentro desse Plano, está em discussão o projeto da nova travessia ferroviária em Lisboa. Se estes dois projetos tiverem a aprovação do Plano Nacional de Infraestruturas, os dois juntos permitirão tirar cerca de uma hora na ligação entre Faro e Lisboa. Passaríamos a ter um sistema ferroviário com outro nível de competitividade em relação ao que temos agora».

Carlos Fernandes referia-se ao Plano de Investimento 2030, onde se compreendem 65 milhões com uma comparticipação da comunidade europeia de cerca de 75 por cento.

O vice-presidente falou ainda de uma possibilidade que pode ser discutida entre os governos de Portugal e Espanha, uma ligação ferroviária entre os dois países, prolongando assim o corredor mediterrânico até ao Algarve.

«Este projeto estava previsto na Cimeira em 2003 e chegou a ser estudado, mas entretanto com a troika acabou por cair» no tempo do governo de Passos Coelho e Paulo Portas.

«A próxima Cimeira entre Portugal e Espanha poderá dar passos decisivos para que este projeto possa voltar a entrar na agenda e dê as condições para que a IP o possa de novo estudar», concluiu.