Município de Loulé, Direção Geral de Património Cultural e a Direção Regional de Cultura do Algarve já assinaram os protocolos para montar a exposição «Com os pés na terra e as mãos no mar – 6 mil anos de História de Quarteira», a inaugurar no dia 13 de maio de 2021.
«O turismo trouxe, nos anos 1960, a um território pacato, onde a vida decorria quase em total harmonia com a envolvente e com a comunidade, uma energia destruidora e criativa ao mesmo tempo. Trouxe pessoas novas, ocupou o território de forma extensa, transplantou hábitos e realidades que eram desconhecidas a uma pacata vila piscatória. Houve uma realidade que se organizou e se estruturou em cima de uma outra. De tal maneira que a tapou. Havia insatisfação por parte dos quarteirenses e chegou o momento de corrigir isso».
Foi com estas palavras que Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, abriu o seu discurso na cerimónia de assinatura do protocolo de preparação de uma nova e grande exposição dedicada a Quarteira, ontem, terça-feira, dia 14 de janeiro.
«Com os pés na terra e as mãos no mar – 6 mil anos de História de Quarteira» é o nome dado à exposição, q ue terá curadoria do arqueólogo Rui Parreira e vai unir o município à Direção Geral de Património Cultural e a Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg), com o objetivo de valorizar memórias e uma identidade.
Segundo a autarquia de Loulé, Quarteira conta com diversos vestígios do período romano, tendo sido durante séculos uma vila piscatória até à explosão do turismo. Hoje é já um dos destinos mais concorridos por quem procura a região do Algarve para passar férias. De acordo com Vítor Aleixo, a futura exposição pode também ser uma mais-valia para esse sector.
«O turismo, que nos trouxe tantas coisas boas, precisa de aceitar a sua oferta na valorização do património, na mostra dos hábitos, dos costumes e das pessoas. Os turistas de hoje apreciam cada vez mais aquilo que é a nossa identidade cultural e este projeto destina-se também a isso», explicou.
Aleixo sublinhou ainda que esta iniciativa pretende fazer justiça aos quarteirenses. «Há capítulos da história de Quarteira que não estão bem contados. Quarteira não é só o legado romano que todos nós conhecemos. É bem mais que isso. É também atividade agrícola. As primeiras plantações de açúcar no Algarve aconteceram na área de Vilamoura. Alguma da primeira mão de obra escrava da região terá trabalhado naqueles terrenos agrícolas. É muito interessante podermos trazer essa parte da história aos contemporâneos. Há aqui muitas coisas que têm de ser mostradas e valorizadas. Quarteira espera isto há muitos anos. Sinto isso e sinto que estamos no momento de fazer justiça àquelas pessoas», refletiu.

População, que segundo Vítor Aleixo «não se sentia devidamente valorizada. Quarteira tem uma história, um passado e precisa que a sua raiz possa ser mostrada porque temos orgulho nela. Sempre houve uma necessidade coletiva para a valorização do património cultural, da memória, da identidade e da história. É um ato de justiça que vamos fazer com Quarteira», enfatizou.
Ainda no uso da palavra, o presidente da Câmara Municipal de Loulé revelou que será constituída uma comissão de honra de consultores de forma a «envolver a comunidade local, porque quando a população se envolve nos projetos, traz sempre contributos valiosos. Se não tivermos o cuidado de ouvir e de acolher os seus contributos, as coisas resultam sempre mais pobres. Queremos uma exposição rica em Quarteira e daí essa necessidade», rematou.
Adriana Nogueira, diretora da DRCAlg também marcou presença na cerimónia protocolar, onde começou por enaltecer a escolha de Rui Parreira para comissário geral da exposição.

«Seria bom se pudéssemos todos estar à sombra do Rui porque é uma pessoa sábia e sensata. Loulé fez muito bem em ter-nos convidado para sermos parceiros e em dar a oportunidade de o ter à frente deste projeto», considerou a responsável.
Quanto à amostra, Adriana Nogueira afirmou que enquanto entidade, a DRCAlg tem o dever de «valorizar o património e contribuir para que esteja acessível a todos. Será um motivo de orgulho para todos os quarteirenses saberem que a sua história é antiga e que essa antiguidade vai ser demonstrada. De certeza que vamos ter memórias, património e identidade. Há seis mil anos, o mundo estava em desenvolvimento e as pessoas estavam a descobrir mais formas de se relacionarem com o território. Por isso, esta exposição vai fazer com que as pessoas olhem para a sua terra de outra forma. Não é uma terra recente, tem um passado. Um dia que a memória desapareça, também nós desaparecemos. Estas produções servem também para isso», considerou.
«Com os pés na terra e as mãos no mar – 6 mil anos de História de Quarteira» é uma projeto que segue a filosofia da exposição «LOULÉ – Territórios, Memórias e Identidades» que, entre 2017 e 2019 esteve patente no Museu Nacional de Arqueologia, nos Jerónimos, e que contou com mais de 400 mil visitantes.
António Carvalho, diretor do museu lisboeta, também assinou os protocolos em representação de Paula Silva, diretora geral do Património Cultural. Carvalho referiu que a amostra contribuiu para que «o Museu Nacional de Arqueologia fechasse o ano de 2019 com 263650 visitantes, um número fantástico na sua história».

Para o diretor «é fundamental que se continue a investir na identidade. Quarteira precisa que essa identidade venha ao de cima. Loulé está hoje na Rede Portuguesa de Museus e tem obrigações fundamentais. Quando falamos do que é nacional, esquecemo-nos dos locais. Esse nacional é composto por estes locais todos. A Rede é composta por todos os Museus locais, municipais, públicos, privados, regionais, locais, que temos no tecido social, como grandes ancoradouros de memórias».
Por fim, António Carvalho alertou para que «não nos esqueçamos que estas exposições são dínamos para avançarmos mais».
Até ao dia 13 de maio de 2021, data marcada para a inauguração, serão a partir de agora realizados trabalhos ao nível da inventariação e do estudo de bens culturais a integrar a amostra, por parte de dezenas de investigadores. Além disso, serão ainda realizadas sessões com a população local.