Eurodeputados do PS viram «uma região com futuro e a trabalhar para ele» em Sagres, Portimão, Loulé e Faro.
A oportunidade de fazer o circuito por onde a terra termina sobre o Atlântico, em BTT, seguida de uma visita guiada ao novo Centro Expositivo da Fortaleza de Sagres, deixou a comitiva de seis eurodeputados do Partido Socialista (PS) rendida, logo no início do périplo que teve lugar na sexta-feira, dia 14 de julho.
O evento «Roteiros Europa: Turismo de Futuro no Algarve» trouxe à região Carlos Zorrinho, Isabel Carvalhais, Margarida Marques, Maria Manuel Leitão Marques, Pedro Silva Pereira e Sara Cerdas. A primeira paragem foi o concelho de Vila do Bispo, onde foram recebidos pela autarca Rute Silva.
Após o almoço, a comitiva teve oportunidade de fazer um cruzeiro, a bordo de um catamarã movido a energia solar, na baía do Arade, na companhia de Álvaro Bila, vice-presidente da Câmara Municipal de Portimão.
Apesar de esta tecnologia, no mundo náutico, e sobretudo no universo das marítimo-turísticas, ainda estar atrasada em comparação às necessidades do sector, a Algarve SUN BOAT Trips impressionou os parlamentares por ter aderido e montado uma operação que evita a emissão de 90 toneladas de CO2 por ano.
Margarida Marques elogiou a aposta do empresário Pedro Mestre. «É fundamental que os instrumentos comunitários de financiamento que existam possam ser orientados para a transição climática. Ao vermos aqui um projeto que reduz as emissões de CO2, imediatamente começamos a fazer as contas e a tentar perceber o que isso significa em termos de mercado. É necessário agradecer a todos os que, no terreno, trabalham para utilizar instrumentos que têm um menor efeito poluidor e que estão solidários com as questões da transição climática», disse.
Outro dos pontos altos foi a vista ao Centro de Simulação Clínica UAlgTec Health, na Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve, no campus de Gambelas, em Faro. Maria Manuel Leitão Marques foi a primeira a manifestar o seu entusiasmo.
«Acompanho com muito interesse as questões do digital e da inteligência artificial, porque tenho muita curiosidade científica em perceber como é que evoluem e como é que podemos prevenir os riscos com alguma regulação, sem parar a inovação. Em tempos anteriores, fui professora universitária, e é muito bom ver a tecnologia a melhorar os cuidados de saúde», sublinhou.
Em Sagres, «vimos como a tecnologia valorizou a nossa história num local que era um bocadinho inóspito e que se tornou muito mais vivo, com o novo centro multimédia». E um dia, até «será possível irmos numa caravela, através da realidade virtual, quase a caminho da Índia ou a caminho do Brasil, porque hoje isso é possível», sugeriu.
A deputada referiu ainda a passagem pelo Centro de Artesãos e Criatividade de Loulé, do Loulé Criativo, onde está a ser feita «a recuperação das atividades e dos ofícios tradicionais. É muito bom olhar para o futuro, mas não perder o passado. Creio que este foi um bom dia, em que a Europa esteve no Algarve junto das suas gentes, dos seus investigadores e dos seus empresários que também arriscam no seu dia a dia, e a quem queremos ajudar mais e melhor».
Ainda sobre a UAlg, contaria aos colegas em Bruxelas e Estrasburgo, sobre «o meu brilho nos olhos. Acho que é uma Faculdade de Medicina muito distinta das outras, com uma metodologia muito moderna e que pode ser inspiradora para outras unidades de ensino em Portugal e na Europa. E este Centro de Simulação pode ser um ponto de referência nesse sentido. Penso que esta é uma região com futuro e a trabalhar para ele. O futuro não é algo que se herda ou que se leva ao colo. É uma coisa que se constrói com muito trabalho, com muita persistência, concorrendo, perdendo, ganhando e falhando. Quem inova e acerta sempre é porque inova muito pouco. Por isso mesmo, acho bom que haja aqui este espírito de risco e de tentar», concluiu Maria Manuel Leitão Marques.
Uma «visão integrada»
Por sua vez, ouvido pelos jornalistas, Carlos Zorrinho também corroborou a visão da colega. «Começamos o dia de hoje na Fortaleza de Sagres. Ao seu tempo, significava que Portugal, e o Algarve em particular, estava na fronteira do conhecimento que depois levou àquilo que podemos ver ali», a epopeia dos Descobrimentos.
«Esta unidade de simulação médica coloca também a esta região e esta universidade na fronteira da tecnologia, na fronteira do conhecimento. Permite formar pessoas com mais capacidade. Permite prestar cuidados de saúde com mais qualidade aos habitantes da região e onde estas pessoas forem trabalhar. Mas acredito também que um Centro como este atrai jovens com muita capacidade. Qualifica-os e acredito que também possa ajudar a fixar a parte desses recursos qualificados na região», afirmou.
«Sabemos hoje que construir centros de saúde, construir hospitais, enfim, é difícil, mas faz-se mais facilmente do que construir equipas e construir respostas ao nível das da capacitação de profissionais. A tecnologia não os vai substituir, mas vão poder fazer mais e melhor, chegando a ainda mais gente», disse.
Em jeito de balanço, Zorrinho mostrou-se impressionado com «a visão integrada da relação entre a identidade e o futuro», com os exemplos de Sagres, do barco solar e do projeto Loulé Criativo.
«Este cruzamento é a solução para um território com sucesso: não esquecer aquilo que foi. Não deixar de aplicar tudo aquilo que é, e ter sempre uma visão de futuro daquilo que poderá ser». Uma nota final sobre a dinâmica demográfica: «esta é uma região que tem de estar sempre a integrar a gente nova. Mas, além de atrair gente de fora, é importante que fixe também uma percentagem significativa dos que aqui nasceram para que essa transição seja sustentável».

Votar nas europeias é «do interesse dos portugueses»
Pedro Silva Pereira, vice-presidente do Parlamento Europeu, questionado sobre a elevada abstenção que Portugal tem registado nas eleições europeias, reconheceu a questão, mas deixou um apelo para que as próximas possam vir a ser mais participadas.
«Enfrentamos um desafio muito particular, que é o facto de as eleições acontecerem numa data muito inconveniente, dia 9 de junho, no meio de um fim de semana grande e em véspera de um feriado. É preciso fazer um esforço suplementar de mobilização das pessoas para irem votar. O governo está a fazer bem ao tentar encontrar formas alternativas de voto, inclusive o voto em mobilidade. Mas mais importante ainda é que as pessoas percebam que aquilo que se joga nestas eleições é decisivo. O que está em causa é saber se vamos consentir o crescimento de uma extrema-direita, adversária do projeto europeu, ou se vamos responder em defesa do mesmo», explicou.
«O nosso objetivo com estes roteiros, como aqui fizemos no Algarve, é exatamente recordar a importância da integração europeia de Portugal, a importância dos fundos europeus para o desenvolvimento do país, para o desenvolvimento da região do Algarve. Como tal, acho que temos razões muito concretas para defender o projeto europeu. Infelizmente, temos visto que existe da parte dos partidos do centro-direita, um certo namoro com a extrema-direita. E esta normalização da extrema-direita que se verifica em vários países, como em Itália e aqui na nossa vizinha Espanha, é um perigo. Acho que os portugueses, na defesa dos seus interesses, têm todas as razões para defender também o projeto europeu ao votar e, já agora, votando bem».
PRR mais robusto
Segundo Pedro Silva Pereira, «estamos neste momento a renegociar, em primeiro lugar, o próprio montante do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) português. Na altura, foi aprovado com 16,6 milhões de euros. O governo pretende aumentar a verba para mais de 22 mil milhões de euros. Essa negociação já está em curso em Bruxelas. E há também uma discussão sobre o alargamento dos prazos de execução dos projetos por várias razões, mas sobretudo por causa da inflação que fez subir e derrapar os custos dos projetos que estavam previstos. Isto tudo tem de ser equacionado para tirarmos o melhor partido possível do PRR. Temos defendido, de facto, uma atitude realista. A este propósito, era preciso reforçar o PRR, mas também dar-lhe todas as condições para ser um sucesso para a recuperação da economia europeia».

Por fim, Pedro Silva Pereira fechou o roteiro algarvio com nota positiva. «Esta visita foi muito positiva porque nos permitiu visitar projetos concretos de fundos europeus que estão em execução ou que já estão mesmo executados, a projetar valor ao turismo sustentável, como a ciclovia da Costa Vicentina ou os investimentos no Centro de Exposições da Fortaleza de Sagres e também na UAlg, com um Centro de Formação Biomédica da maior importância, tudo com fundos europeus. Temos uma taxa de execução do PT 2020 na ordem dos 90 por cento. Por isso, Portugal está na dianteira. Está entre o grupo dos países que melhor estão a executar o PRR. Nós, ao visitarmos o Algarve, constatamos no confronto com a realidade que as coisas estão a andar e que estão a ser úteis para as pessoas, que é o mais importante».
Os fundos europeus «estão a ser bem aplicados e a permitir um salto qualitativo nas condições de desenvolvimento da região. Ainda bem que o governo os pôde negociar tão bem, porque permitiu, de facto, um volume de financiamento que é decisivo para o futuro do país», rematou.