Proposta «Exposição de Saint Stadium a Estádio de São Luís (1923-2023)» vence Orçamento Participativo de Faro com 216 votos.
O estádio mais antigo do país, o São Luís, em Faro, inaugurado em dezembro de 1923, celebra este ano o centenário da sua inauguração. Foi com o objetivo de assinalar a efeméride, «importante não só para o Sporting Clube Farense como para toda a cidade», e, em simultâneo, dar a conhecer «a identidade e a história local desta infraestrutura, que é desconhecida para a população em geral», que Pedro Gonçalves, tesoureiro da direção do clube, decidiu criar a proposta «Exposição de Saint Stadium a Estádio de São Luís (1923-2023)» para votação na terceira edição do Orçamento Participativo (OP) de Faro.
Com 216 votos dos munícipes residentes e/ou trabalhadores no concelho, revelou ser, na quinta-feira, dia 20 de abril, o projeto com mais votos na apresentação dos resultados que decorreu no Museu Regional do Algarve, com a presença de Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro e Carlos Baía, vereador daquela autarquia.
«Será também importante a produção desta exposição como veículo principal para conhecer a nossa história de Faro. Se pensarmos bem, e a exposição vai demonstrar isso mesmo, quando este estádio foi construído, não existia nada ali, exceto o cemitério judaico. A cidade desenvolveu-se a partir do São Luís. O próprio futebol, quer o Sporting Clube Farense, quer o Sport Faro e Benfica, equipas que utilizaram este estádio, teve um desenvolvimento a partir desse mesmo momento. Portanto, esta data é um marco importante para a cidade e daí ter apresentado esta proposta a título individual. Só mais tarde informei a direção», justificou aos jornalistas o promotor da proposta, que contou ainda um pouco da história do equipamento. «Inicialmente, o senhor Santos, que veio dos Estados Unidos da América, decidiu investir num espaço para o futebol e para outro tipo de eventos, porque em Faro não existia. Foi aí que nasceu o Saint Stadium. Ele não fez o estádio a pensar no Sporting Clube Farense, mas como acabou por se endividar mais do que esperava, anos mais tarde acaba por o entregar ao clube. A partir daí, o estádio tem tido a utilização que todos conhecem, fins desportivos de várias modalidades e eventos culturais [como o concerto de Luciano Pavarotti, em junho de 2000, o único do italiano no Algarve e o segundo no país]. Isso tudo vai aparecer na exposição», assegurou.
Na prática, vai tratar-se de uma mostra com fotografias e documentos históricos «daquilo que foi o surgimento do Saint Stadium e de toda a evolução do São Luís até aos dias de hoje», explicou Pedro Gonçalves. E quem possui esse espólio? «Infelizmente, o Sporting Clube Farense tem pouco material porque não houve um cuidado em guardar fotografias e documentação. No entanto, há muita gente na cidade a ajudar. Já fizemos uma chamada aos sócios históricos que sabemos que possuem material e vamos apelar a mais pessoas da cidade para reunirem o que tiverem e fazerem-nos chegar», respondeu o tesoureiro do clube de Faro.
Apesar de ainda não haver data prevista para a inauguração da mostra, «esta será, certamente, ainda durante 2023». Primeiro, vai estar exposta no Palácio Belmarço, [imóvel de interesse público] «um edifício que pertence ao presidente do Clube [João Rodrigues], que está fechado, mas que deve ser visitado pelas pessoas. A exposição vai lá estar durante, pelo menos, dois meses. Depois, o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) já me informou que também gostaria de ter lá a exposição. E também o diretor do Agrupamento de Escolas João de Deus, Carlos Luís, acaba de me dizer que quer a mostra na Secundária», referiu Pedro Gonçalves.
A proposta «Exposição de Saint Stadium a Estádio de São Luís (1923-2023)» vai ter um investimento previsto de 30 mil euros, sendo que a secção de Urbanismo da autarquia farense também já se encontra a recolher documentação de suporte à narrativa da exposição. Ainda de acordo com o projeto, «o Museu Municipal de Faro «poderá dar apoio na produção e suporte para a escolha dos materiais mais adequados, bem como na definição do guião de suporte à visita da exposição, criando um documento de maior conhecimento da história do concelho e da cidade».
Trilhos e requalificações marcam a edição
Na lista dos mais votados na terceira edição do OP Faro, em segundo lugar ficou a proposta «Um Novo Espaço de Estar na Travessa da Saúde», num investimento estimado de 25 mil euros, proposto por Joana Nunes e que obteve um total de 212 votos. A ideia passa por retirar alguns lugares de estacionamento e construir um espaço de lazer com bancos, floreiras, suporte para bicicletas e trotinetes e ainda a plantação de algumas árvores autóctones.
Com 187 votos dos farenses, a proposta do acordeonista Nelson Conceição intitulada «Antalogia das Charolas da Bordeira», com um investimento de 29.800 euros, mereceu o terceiro lugar. Trata-se da publicação de um livro com todas as 500 obras musicais e poéticas transcritas e mais de uma centena de letras que deram substância à tradição secular do acordeão. Acresce ainda a criação de uma página na Internet, um vídeo documentário e uma exposição.
Promovido por Vera Fernandes, a «Requalificação do Polidesportivo de Santo António do Alto – Atalaia», prevê um investimento de 30 mil euros e teve 161 votos, o que lhe valeu o quarto lugar. Seguiu-se, com 119 votos, o projeto «Trilhas de Faro e do Montenegro» de João Rios, também com o mesmo investimento estimado, que prevê a sinalética em madeira dos percursos de 10 quilómetros entre a Cidade Velha, o Aeroporto e o Biogal. Por fim, a proposta de João Afonso, com 86 votos e um investimento de 30 mil euros, denominada «Trilhos de Estoi», promove a marcação de três percursos pedestres na freguesia, com a colocação de sinalética.
Bacalhau: «gostava de ter mais participação»
Nesta edição do OP Faro, a autarquia recebeu 52 propostas, 35 apresentadas nas Assembleias Participativas presenciais e 17 online. Depois de analisadas, foi constituída a Comissão Técnica, com representantes das várias áreas do município, que acabaram por selecionar os 31 projetos a votação que se encontravam em conformidade com o regulamento. No total, as propostas mereceram 2301 votos dos farenses, sendo que 2141 foram feitos online e os restantes 160 na banca existente no Mercado Municipal de Faro para esse mesmo fim. 1173 munícipes votaram apenas uma vez e 564 duas, visto que o regulamento permitia, no máximo, dois votos por pessoa em projetos diferentes.
Para Rogério Bacalhau, os números poderiam ter sido mais elevados. «Gostaria de ter mais participação. No entanto, foram quase três mil, o que é bom se tivermos em conta que não há uma cultura deste tipo de participação em Faro e no país. Temos aumentado o número de projetos apresentados e o número de votantes, aos poucos, o que é gratificante. Espero que para o ano possamos melhorar o processo e chegar a mais pessoas», disse aos jornalistas depois da apresentação dos projetos vencedores.
Questionado sobre o projeto vencedor, a «Exposição de Saint Stadium a Estádio de São Luís (1923-2023)», o presidente da autarquia farense respondeu que: «todos eles estão muito ligados às comunidades e todos têm o seu valor. Gostava de realçar não cada um dos projetos, mas sim como eles aparecem, como chegam a nós e como as pessoas se apropriam do resultado final destes projetos. Isso é que é importante».
O OP Faro 2022/23 prevê um investimento total de 184.800 euros, onde 10 mil estão destinados para as Escolas, mas o autarca estima que, para a próxima edição, esse valor tenha de ser aumentado. «Já tivemos essa conversa. Tendo em conta que custos subiram, assim como a inflação, os preços podem ser um pouco superiores. Não iremos aumentar o número de projetos beneficiados, mas poderemos aumentar o valor máximo de 30 mil euros para cada um deles. Vamos fazer essa análise», afirmou.
Ao longo destes três anos, a Câmara Municipal de Faro investiu quase 600 mil euros no OP.
Projetos anteriores ainda em curso
O vereador da Câmara Municipal de Faro, Carlos Baía, antes de anunciar os vencedores da 3ª edição do Orçamento Participativo (OP), deu ainda nota sobre o estado dos projetos aprovados em anos anteriores. «Quando abrimos uma nova edição, em regra os projetos da edição anterior ainda estão a ser desenvolvidos», explicou. Em relação a 2020/21, «ainda temos um projeto para implementar que tem a ver com questões do território e que está por terminar», disse. Já sobre a segunda edição, as propostas estão em diferentes fases de andamento. «Em Santa Bárbara de Nexe aprovámos o Parque Infantil e de Lazer da Igreja que tem a obra em execução. Temos também os Percursos Pedestres em Santa Bárbara de Nexe que estão em procedimento concursal para execução das marcações do percurso. No caso de Faro, temos a Melhoria das Acessibilidades da Rua de Berlim e envolventes que já tem as peças concursais em desenvolvimento no nosso Serviço de Projetos Municipais. Um outro projeto com alguma semelhança é o Faro + Verde + Limpa, no Bom João, relacionado com a requalificação de uma pequena zona e que está em processo concursal. Nas Gambelas, a Reabilitação da Praça Hélder de Azevedo também se encontra em processo concursal e o projeto as Árvores Históricas de Estoi tem o estudo a ser desenvolvido pela Universidade do Algarve (UAlg)», justificou o vereador.
Escolas com nove propostas aceites
O Orçamento Participativo (OP) de Faro destina 10 mil euros só para as escolas, cabendo à comunidade escolar do concelho apresentar projetos. Nesta terceira edição, foram nove os projetos selecionados, que abrangem várias escolas do município de cinco Agrupamentos. Três projetos foram aprovados no Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa: climatização (Escola Básica Emiliano da Costa), campos de ténis (Escola Básica Dr. Neves Júnior) e suporte básico de vida (Escola Secundária Pinheiro e Rosa, num total de 2750 euros. Por sua vez, o Agrupamento de Escolas do Montenegro vai poder ter um animal de estimação na Escola Básica do Montenegro, num total de 750 euros. Já no Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira foram dois os projetos vencedores: melhoria do pavimento desportivo e espaços exteriores (Escola Básica Joaquim Magalhães) e a Criação de um espaço de convívio no recinto da escola, com o objetivo de promover o convívio escolar e o conforto dos alunos (Escola Secundária Tomás Cabreira), que estima 3250 euros de investimento. Foram também dois os projetos aprovados no Agrupamento de Escolas João de Deus: Música ambiente na sala dos alunos + Ouvir além do som (Escola Básica Santo António) e Sofás para a sala de alunos (Escola Secundária João de Deus), totalizando 2500 euros. Por fim, o Agrupamento de Escolas D. Afonso III vai ter um apoio de 750 euros para suportes para bicicletas e um microondas na (Escola Básica D. Afonso III).