Desde final de junho que vários grupos de escuteiros belgas estão a limpar o núcleo da Culatra, no âmbito de um projeto europeu promovido pela aECO. Muitos preferiram esta iniciativa a participar num acampamento mundial nos Estados Unidos da América (EUA).
A ideia foi envolver toda a comunidade e população local numa iniciativa de voluntariado, na manhã de domingo, 21 de julho.
Apesar do sol e do calor, cerca de 60 pessoas responderam e juntaram-se ao quarto (e último) grupo de escuteiros belgas que têm vindo a participar em ações de limpeza no núcleo da Culatra. Desta vez, o alvo foi a zona do porto de abrigo, e a recolha de lixo fez parte das comemorações do Dia da Ilha da Culatra (19 de julho).
«Esta é uma chamada de atenção. Vivemos numa zona privilegiada em que é necessário preservar os recursos naturais. É muito importante que todos tenham esta sensibilidade, pois trata-se de um problema comum. Estamos na linha da frente das alterações climáticas, numa zona de costa e queremos chamar a atenção para que os oceanos possa vir a recuperar a qualidade. Isso trará melhorias no peixe e no marisco que consumimos. Nós seres humanos somos os únicos que temos capacidade de fazer a mudança e ajudar outras espécies a sobreviver neste caos», afirmou Sílvia Padinha, Associação de Moradores e Amigos da Ilha da Culatra (AMIC), ao «barlavento».

Segundo Ester Serrão, professora de Biologia Marinha na Universidade do Algarve (Ualg) e uma das quatro mergulhadoras do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), «esta zona está repleta de todo o tipo de poluentes, mas sobretudo artes de pesca, como restos de redes, cabos, armadilhas, muitas garrafas e partes de sacos de plástico. Há zonas que acumulam mais lixo do que outras, mas aqui no porto de abrigo, encontrámos» desde cadeiras a botijas de gás.
«Foi apenas um trabalho demonstrativo porque há tanto lixo dentro de água que não conseguimos recolher tudo. As pessoas olham para a superfície da água e não fazem ideia do que é o fundo. Desta forma, podem ter uma pequena amostra do que o está espalhado por todo o lado», lamentou.
Impressionados ficaram também os escuteiros de Dion-Valmont, uma vila interior da Bélgica, nos arredores de Bruxelas. Quando tiveram conhecimento do projeto «Campaign for a Plastic Free Ria Formosa» criado pela Associação para o Estudo e Conservação dos Oceanos (aECO), «nem pensaram duas vezes».
«Queríamos mesmo participar num projeto social que fizesse a diferença no mundo. Este tema é muito importante para nós e apesar de ser a primeira vez que estamos a fazer algo do género queremos continuar a deixar a nossa marca», contou ao «barlavento» a belga Alexis Legros de 20 anos.

Uma afirmação corroborada pelo colega Charles Bary, de 22 anos, que sublinha o quão a sério levam esta causa. «Neste momento está a decorrer o acampamento mundial, nos Estados Unidos da América. É a atividade mais importante para um escuteiro e só há uma oportunidade para participar. Mesmo assim optámos por vir para a Culatra porque o que queríamos mesmo era fazer a diferença numa comunidade local, ajudar o ecossistema, participar num projeto social e deixar a nossa marca. Estamos muito felizes por estar aqui e estamos a adorar o Algarve».
Este grupo, de cerca de 15 escuteiros belgas, foi o quarto a aderir ao projeto da aECO. Chegaram à Ilha na quarta-feira, dia 17 de julho e devem regressar no final da presente semana.
Os dias dos jovens são passados entre trabalhos de limpeza, ações de voluntariado junto dos culatrenses e também a praticar desportos aquáticos, no tempo que lhes sobra.
De forma a que a mensagem perdure, no âmbito do projeto da aECO foi ainda possível inaugurar uma escultura do conhecido algarvio Tó Quintas, mesmo à entrada do núcleo habitacional da Culatra, na quinta-feira, 18 de julho.
«O peixe de metal com o plástico dentro pretende sensibilizar as pessoas. Queremos passar a mensagem que os plásticos cada vez mais entram na cadeia alimentar, acabando o ser humano por consumir os microplásticos», explicitou Ricardo Barradas, presidente da aECO ao «barlavento».
«Campaign for a Plastic Free Ria Formosa» foi o projeto criado pela Associação para o Estudo e Conservação dos Oceanos (aECO), vencedor de um concurso europeu com dez mil votações, que possibilitou orçamento para diversas ações de limpeza durante todo o mês de julho, na Ilha da Culatra.

O projeto culminará com uma exposição de fotografia sobre a temática da proteção dos ecossistemas marinhos, a exibir nos Mercado Municipais de Olhão e de Faro.
«A mudança individual tem pouco impacto, mas se cada um fizer a sua parte e se agirmos localmente, essa mudança será global e coletiva. Temos de agir. É uma mudança que começa por nós. Se cada um fizer pequenas alterações nos comportamentos diários, isso terá um impacto brutal em termos de números e de produção de lixo. A redução do consumo e a rejeição de determinados produtos, como o plástico são fundamentais para a mudança», disse Ricardo Barradas.
«A nossa missão é ajuda a mudar comportamentos. A informação está acessível e é verdade que as pessoas estão mais conscientes dos problemas ambientais, mas para se verem atitudes na prática ainda falta bastante. Queremos mudar isso», concluiu.

Sílvia Padinha rematou: «isto é um incentivo que nos dá força. Os maus hábitos são também por parte dos visitantes e não só dos pescadores. Todos têm de assumir boas práticas».