Ermida de Santo António devolve a Faro «a melhor vista do Algarve»

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Monumento reabre ao público quinta-feira, dia 13 de junho, após obras de conservação e restauro que tiveram início em meados de janeiro. Cidade ganha um dos melhores miradouros do Algarve.

Após duas fases de intervenção, a carismática Ermida, propriedade do município, localizada num ermo atrás do Liceu de Faro, é finalmente devolvida à cidade.

«Há três anos todo o interior foi requalificado e restaurado. Este ano, fizemos obras de requalificação do exterior, das fachadas, da torre, como da igreja», começa por explicar ao «barlavento» Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro.

A cerimónia de reabertura, que acontece no dia de Santo António (13 de junho), terá início às 17h30 e será assinalada com a bênção do espaço, pelo Padre Rui Guerreiro e pelo Padre ortodoxo Oleg Trushko, já que é utilizado para ambos os cultos.

Seguir-se-à uma visita guiada pelo historiador de arte e professor universitário Francisco Lameira, um dos maiores especialistas do património religioso algarvio.

Esta revitalização surge também no seguimento de uma candidatura ao Orçamento Participativo Portugal (OPP), em 2018, avançada por duas munícipes de Faro, Samanta Duarte e Ana Morgado, que angariou cerca de 70 mil euros.

O objetivo é recuperar o antigo Museu Antonino, encerrado desde 1999, assim como «um espaço lateral e um logradouro» que ficarão à responsabilidade da Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg).

Neste sentido, será assinado um protocolo de cooperação entre o município de Faro e a DRCAlg, durante a cerimónia.

Rogério Bacalhau na Ermida de Santo António do Alto
Subida para o miradouro da Ermida

Ouvida pelo «barlavento», Adriana Freire Nogueira, diretora regional da Cultura, adianta que aquela entidade «está a fazer vários estudos sobre Santo António, de maneira a que possamos ter informações para disponibilizar a todos os que visitarem o novo Museu Antonino. Da nossa parte podem contar com o apoio à museulização, até porque estamos a colaborar com o Museu Municipal de Faro», que detém todo o espólio na sua reserva.

Já Rogério Bacalhau garante que «da nossa parte já foi feito o projeto de requalificação e o mesmo encontra-se concluído. Aguardamos agora que seja lançado o concurso para se começarem os trabalhos.

Na inauguração da Ermida será assinado o protocolo onde se estabelecem esses mesmos termos porque, apesar das intervenções serem feitas pela DRCAlg, o património é do município».

Apesar de nenhum responsável avançar com datas para concretizar o projeto vencedor do OPP, espera-se que após as obras previstas, «se faça a dinamização daquele espaço», até porque uma parte da verba (25 mil euros) é para este objetivo.

O Museu vai voltar a abrir ao público e existirá uma loja de merchandising. Além disso, assim que o processo de intervenção seja concluído, temos preparado um projeto de divulgação, para que as pessoas visitem não só o museu, como também toda a envolvência. Desde janeiro que uma funcionária mantém as portas da igreja sempre abertas e prontas para receber visitas. No futuro, haverá ainda mais dinamização», promete Rogério Bacalhau.

Esta dinamização poderá vir a ficar a cargo da recém-fundada Faro Vivo – Associação Cultural, cuja direção é composta por Samanta Duarte, presidente da direção, Rita Sampaio, presidente mesa da assembleia e Rita Assunção, presidente do concelho fiscal.

A nova associação tem no plano estratégico promover o miradouro como «a melhor vista do Algarve».

Para já, e a partir de quinta-feira, será possível visitar o miradouro, há muito encerrado, e vislumbrar uma vista única sobre a Ria Formosa.

Será um dos locais de visita obrigatória durante o Açoteia – Faro Rooftop Festival, a decorrer entre os dias 20 e 22 de junho.

Espólio Antonino está à guarda do Museu Municipal de Faro

«Ó meu rico Santo António/ Ainda não me quero casar/ Poime livre do demónio/ Que me anda a tentar» é uma das quadras que enfeita um manjerico no painel de azulejos de 1933 que anuncia o «Museu Antonino» na Ermida de Santo António do Alto, em Faro.

Ouvido pelo «barlavento», Marco Lopes, diretor do Museu Municipal de Faro, explica que aquele espaço foi encerrado em 1999, citando um artigo publicado numa das edições da revista Anais de Faro.

«Há um despacho que diz, taxativamente, que o número de visitantes era insuficiente, que não existiam condições sanitárias nem de conservação de algumas das peças, e que do ponto de vista patrimonial, a coleção não teria interesse. Desde então, tem estado encerrado», explica.

Aspeto exterior da Ermida de Santo António do Alto

Ainda com base no artigo, «em 2003 existiu uma petição de alguns interessados em reabrir o Museu Antonino. A Câmara Municipal de Faro voltou a fazer uma avaliação e manteve a mesma posição de o manter encerrado», conta. E desde então, o espólio tem estado à guarda do Museu Municipal de Faro, em reserva. E o que contém? Marcos Lopes revela.

«É uma coleção homogénea que tem pequenas medalhas, moedas, cerâmicas, notas antigas, esculturas, peças que estão ligadas ao culto, à vida e aos milagres de Santo António. Quase todas são contemporâneas do século XX, há algumas do século XIX e um ex-voto do século XVIII».

No conjunto, há, contudo, um pequeno tesouro. «Há algumas peças das oficinas de Bordalo Pinheiro sobre Santo António. São muito bonitas. Já as conhecia, embora nunca as tivesse associado ao museu» da Ermida.

Para Marco Lopes, «desde que haja uma boa museografia, moderna, conteúdos, uma boa conservação das peças, e alguém para abrir e fechar a porta, qualquer museu pode ser sustentável», até porque «sentimos que há interesse e que faz parte dos circuitos turísticos de visita à cidade» e «há um carinho especial das pessoas de Faro em relação à Ermida».

O diretor também já teve uma experiência no local, durante as Jornadas Europeias do Património 2018, no final de setembro.

«É um espaço de paz, que se presta a tudo e mais alguma coisa. Na ocasião tivemos ali palestras, concertos e até cinema», recorda. Este carismático monumento está sob tutela da Câmara Municipal de Faro, mas não é o único.

Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro e Marco Lopes, diretor do Museu Municipal de Faro.

Há também a Ermida de São Sebastião (junto à GNR) e a Ermida de Nossa Senhora do Repouso (na Cidade Velha). Locais que, na opinião de Marco Lopes, poderiam originar a «criação de um roteiro de património religioso, e estarem regularmente abertas para visitas e para atividades culturais e turísticas».

Fotografias: Maria Simiris