Erik de Vlieger empreende sete grandes projetos em Lagoa

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Centro desportivo de alto rendimento, reabilitação de edifícios devolutos e habitação acessível para famílias jovens são algumas das apostas do empresário holandês Erik de Vlieger, cujo valor de mercado ascende a 132 milhões de euros.

Quando se mudou de Amesterdão para o Algarve, em 2006, a ideia de Erik de Vlieger era viver uma semi-reforma tranquila e trabalhar à hora que quisesse. Na altura, tornou-se acionista da empresa Carvoeiro Clube e começou a dedicar-se à gestão de propriedades.

«Eu era o típico europeu do norte, um homem de negócios que podia trabalhar quando me apetecesse». Não durou muito, contudo. «Mas sou um empresário e sou viciado em trabalho. Em 2014 comecei a ficar aborrecido. Gosto de estar no escritório às 8h30 e ir para casa às 18 ou 19 horas. Então, tive que fazer uma escolha: ganhar algum dinheiro comprando e vendendo terrenos ou abrir a minha própria empresa», recorda.

Assim nasceu a imobiliária Carvoeiro Branco, que, entre outros projetos em carteira, é responsável pelo Atrium Lagoa, que passou de mamarracho de betão devoluto a prédio de apartamentos modernos, e pela reabilitação do antigo edifício Mabor, junto à zona ribeirinha de Portimão. Atualmente, a Carvoeiro Branco está a desenvolver sete grandes projetos cujo valor de mercado ascende aos 131,9 milhões de euros.

Um dos mais ambiciosos é o Match Lagoa (12 milhões de euros), descrito como um «centro desportivo de alto rendimento para equipas e atletas de elite». O complexo, a ser construído num terreno de sete hectares entre Lagoa e Carvoeiro, contará com dois campos de futebol híbridos exteriores, um ginásio de última geração e áreas de reabilitação e ciências do desporto, bem como um hotel de 40 camas. O projeto está em vias de obter o licenciamento final, que deverá ser emitido até maio ou junho.

Match Lagoa.

«O plano é começar a construir imediatamente», assim que toda a parte burocrática estiver concluída, diz Erik. «Este projeto está a pedir para ser feito em Lagoa. Irá funcionar durante todo o ano e atrair ocupação aos hotéis e resorts locais. Do ponto de vista financeiro, vai trazer estabilidade». O objetivo é abrir as portas num prazo estimado de 18 a 24 meses após o início das obras.

Outro projeto basilar é o Vale da Pipa, investimento que ronda os 65 milhões de euros para a construção de um empreendimento residencial de 304 apartamentos na periferia de Lagoa. «Neste projeto queremos construir habitação acessível para jovens famílias, com um ou dois filhos, que consigam pagar uma prestação mensal ao banco a rondar entre 600 e 700 euros», revela, sublinhando «a importância de criar esta resposta para residentes locais, sobretudo para as camadas mais jovens».

Vale da Pipa.

«Muitos jovens, assim que concluem os estudos universitários, saem do Algarve para nunca mais voltarem. Isto porque não conseguem encontrar uma casa, a menos que procurem nas áreas mais remotas da região ou fiquem a viver com os pais. Este projeto é para essas pessoas», garante.

Aliás, o empresário holandês assume-se como «fanático» por esta causa e critica o «egoísmo» da maioria dos promotores imobiliários no Algarve, que «apenas desenvolvem projetos para estrangeiros com poder de compra ou portugueses ricos».

No entanto, também não descura este nicho. Em marcha está o projeto Prime Life, com um valor de mercado de 13,2 milhões de euros. Será um resort de luxo em Carvoeiro com 30 apartamentos, próximo de Vale de Milho, que segue a filosofia de reabilitação urbana da empresa.

Prime Life.

«É um projeto marcado por uma década de conflitos. O construtor faliu quando tinha completado apenas 25 por cento do imóvel. Comprei-o, limpei tudo e agora vou concluir a obra», revela de Vlieger.

Também num terreno nessa zona, o empresário holandês está a construir o empreendimento Monchique View Carvoeiro (22 milhões de euros), mas com um conceito diferente, tirando proveito da sua localização elevada.

«É normal que os promotores se foquem mais no litoral porque quem compra no Algarve quer aproveitar o sol e as praias, viradas a sul. Porém, as vistas de mar são quase sempre as mesmas. Mas quando olho para Monchique, vejo uma paisagem que adoro, as nuvens, as luzes, o nevoeiro», compara.

Monchique View Carvoeiro.

Por outro lado, o bem-sucedido Atrium Lagoa servirá de inspiração para o novo Atrium Liberdade (7,2 milhões de euros), hoje um «bloco de ruínas» no centro histórico de Lagoa, que será demolido para dar lugar à construção de 33 apartamentos, destinados a uma clientela variada. Por fim, Carvoeiro Branco tem ainda em mãos os projetos Arade Premium Village (9,5 milhões de euros), que inclui 20 apartamentos e moradias a construir na zona da Bela Vista, no Parchal, e o Atrium Residence Lagoa (3 milhões de euros), uma unidade residencial a ser construída na Rua Coronel Figueiredo.

YouTube influencia mercado imobiliário

O mundo dos conteúdos digitais, uma forte presença nas redes sociais e o lançamento de uma nova série de vídeos no YouTube são alguns dos meios com que o empresário Erik de Vlieger dá a conhecer o mercado imobiliário português. Os vídeos variam entre apenas um ou dois minutos e mostram dicas e conselhos sobre como investir em Portugal e no Algarve. O holandês acredita que este mercado «só pode aumentar», sobretudo se houver uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia em breve. No entanto, a falta de «oferta de qualidade» manterá os preços estabilizados.

Atrium Liberdade.
«Desisti de Portimão»

Apesar de ter dado uma nova vida ao antigo edifício Mabor, um projeto que demorou 10 anos a concluir, a «falta de abertura» por parte da autarquia para trabalhar em parceria, levou o empresário holandês Erik de Vlieger a abandonar os planos de desenvolvimento para aquela cidade e concelho.

«Sempre achei que uma das grandes joias do Algarve é a zona ribeirinha de Portimão, por isso criei um grande plano para restaurar todo o edificado. Ninguém se interessou. Os municípios em Portugal, por vezes, não sabem a beleza que têm sob o seu controlo», lamentou. Em vez disso, de Vlieger diz que vai apostar em oportunidades noutros concelhos como Albufeira, Faro, Tavira e até Vila Real de Santo António.

Arade Premium Village.
«Algarve precisa de novas indústrias»

A recente pandemia de COVID-19 veio a reforçar algo que já se sabia: o sector do turismo é o primeiro a ser atingido durante qualquer grande crise internacional. E a economia do Algarve continua fortemente, se não totalmente, dependente do turismo. «Acho que as autarquias do Algarve precisam de trabalhar em conjunto para atrair diferentes indústrias», opina de Vlieger, que sugere nichos que vão desde o fabrico de fibra de vidro até data centers de ponta. «Seria ótimo termos aqui um call center da Google ou uma equipa de I&D da Amazon», exemplificou, destacando a importância de diversificar a base da economia da região. «Precisamos mesmo de ter novas indústrias no Algarve».