Empresário holandês Erik de Vlieger renova Atrium Lagoa

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O Atrium Lagoa deverá estar pronto a receber os primeiros residentes em maio de 2020 e será um dos grandes investimentos do empresário holandês Erik de Vlieger em Lagoa.

Num edifício que promete destacar-se pelo conceito serão construídos 52 apartamentos, 13 espaços comerciais e 70 lugares de estacionamento subterrâneo.

A obra, que transformará a atual estrutura de betão numa das principais entradas de Lagoa, junto à Adega Única e ao terminal de autocarros, deverá começar a ser construída ainda este mês. O prazo estimado variará entre os 18 e os 24 meses e a área total coberta quase ascende aos 12 mil metros quadrados.

Ao «barlavento» Erik de Vlieger confidenciou que aquela estrutura abandonada o «irritava» desde 2006, sempre que circulava na rotunda em direção ao Carvoeiro Clube, um dos empreendimentos no seu portfólio de investimentos. «Olhava para ele todos os dias. Fui ao Banco Montepio em 2010, pois a construção, que era de um empresário local, parou com a crise, mas o preço pedido era muito elevado. No ano passado, vieram ter comigo, sentaram-se no meu escritório e fechámos negócio».

A construção, conforme assegura o empresário holandês, só será iniciada após a Câmara Municipal de Lagoa aprovar todos os procedimentos necessários. «Se não nos apoiarem com as questões técnicas, não construiremos e o edifício permanecerá, tal como está agora, nos próximos dez anos. Eu fiz o meu trabalho, que estava pronto em julho deste ano, por isso agora é com a autarquia», justificou.

Por seu turno, Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, esclareceu que da parte da autarquia o projeto está a andar. «O que falta agora é a aprovação do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) para que o processo seja integrado na Área de Reabilitação Urbana (ARU)», sendo que será a tutela a decidir se é classificado ou não e integrado nesta medida criada para incentivar a reabilitação.

Aliás, o presidente considera que este é um projeto muito importante, até porque acaba com a imagem do «mamarracho que está numa das principais entradas de Lagoa», sendo que será um «ótimo cartão de visita».

Por sua vez, tem também a mais-valia de colmatar a procura do mercado, pois com a crise a construção parou, havendo falta de habitação para responder à procura. Por outro lado, mostra que há interessados na renovação das cidades.

É o que o empresário holandês pretende. Caracterizando-se como um urban developer, e, tal como em Portimão, quer dar o exemplo, deixar uma marca e dinamizar a economia local. Não é por acaso que escolheu a empresa Simão e Martins para concluir a construção do edifício. Apesar de a obra estar parada há mais de uma década, Erik de Vlieger garante que a estrutura já existente é de qualidade, tendo sido feita uma inspeção que atesta a segurança.

O projeto promete revolucionar a imagem de Lagoa, pois terá como premissas a sustentabilidade, a simplicidade, a transparência e o open space. O arquiteto João Carriço, do Studio Arte, atelier situado em Portimão responsável pela conceção do renovado Atrium Lagoa, avançou que serão criados 52 apartamentos, de tipologias T1 a T5. «Terá, no último piso, que é recuado, apartamentos de dimensões muito generosas (penthouse), sendo que o T5 contabiliza cerca de 250 metros quadrados de área, o T4 cerca de 200 e o T3 com perto de 190».

Haverá ainda 13 espaços comerciais e 70 lugares de estacionamento subterrâneo, que devem já ter carregadores elétricos para os automóveis do futuro. Na cobertura será ainda «criada uma horta urbana e uma zona lounge, num terraço acessível com uma área de lazer, utilizável por todos os residentes», revelou o arquiteto.

Em todo o edifício, sobretudo no interior dos apartamentos, a intenção é promover a fluidez de circulação, sem compartimentar muitos as divisões.

O responsável pelo Studio Arte, Arnold Aarsen, reforçou ainda que todo o Atrium Lagoa é caracterizado por um conceito que envolve elementos de natureza e iluminação natural. «Percebemos que em Portugal as casas têm muitos estores ou cortinados para as proteger do sol, mas gostamos de um prédio mais transparente, por isso vamos usar estores diferentes. O residente vai sempre ver luz natural em casa e a varanda será integrada na sala. O Atrium terá na zona traseira um mini-jardim, com água, com luz natural e uma parede vertical com plantas. Para nós é essencial», descreveu ainda.

Uma das regras que poderá ser imposta para promover o aspeto clean e simplificado será em relação aos estendais nas varandas. «Vamos trabalhar muito para dizer que é proibido tê-los nas varandas. Também estudámos bem a posição dos ares condicionados e das máquinas para tentar manter o edifício o mais limpo possível. E, dentro deste complexo, teremos uma lavandaria comum, bem como uma sala de condomínio e um mini-ginásio», enumerou Arnold Aarsen.

Num dos espaços comerciais, a intenção é criar um restaurante, num género de showroom para quem passa junto ao edifício, com balcão e mesas corridas que venda marisco e peixe fresco», idealizou.

Entre algumas diferenças, o responsável pelo Studio Arte aponta o facto de não existirem roupeiros nos apartamentos, havendo formas de arrumação alternativa, bem como o revestimento nas casas de banho até ao teto, existindo depois um teto falso, com luz, e o revestimento do pavimento em tom pedra, em cerâmica.

«Less is more (menos é mais). É muito importante. Comprar menos, ter consciência sobre o ambiente, a natureza e a energia. Encontro casas muito, muito cheias. E a verdade é que se vive bem com pouca coisa», opinou Arnold Aarsen. A questão da sustentabilidade também está presente no prédio, havendo painéis solares e uma bomba de calor. O conforto térmico e acústico foi muito planeado, «e temos também painéis perfurados para quebrar um pouco a fachada muito despida do edifício. Dará algum apontamento ornamental, mas ao mesmo tempo cria filtros que permitem que as varandas tenham mais sombras, com algumas trepadeiras», exemplificou ainda.

Este prédio será uma forma de «coser o tecido urbano, porque está ali uma grande falha no coração de Lagoa. Dará uma nova identidade e criará um novo chamariz» à cidade, atestou ainda o arquiteto João Carriço.

Pegando no esqueleto existente, o conceito foi adaptado. Ao que o arquiteto explicou foram adicionados poucos elementos, como é o caso do vidro nas varandas e nas janelas, pois a estética já lá estava. «Há um poço de luz, nas traseiras, que fará a ponte com a parede vertical de plantas e o espelho de água. O processo passou por depurar o projeto antigo e simplificar. Criar uma vivência mais limpa, mais estilizada, com compartimentação muito fluida, um pouco na mesma linguagem que aplicamos nas fachadas e que se prolonga pelo interior. O conceito é usar a boa qualidade, mas ter um aspeto muito clean com apontamentos ornamentais», descreveu.

Por sua vez, a arquiteta Joana Dalmau Pinto considera que este projeto «cria uma forma diferente de habitar os centros das cidades. Os apartamentos não são enormes, mas são muito fluidos, têm vãos grandes. É o transpor da nossa linguagem, da arquitetura que nós gostamos de fazer para uma tipologia diferente. Não tem que ser elitista», defendeu.

O prédio será ainda incluído na Área de Reabilitação Urbana (ARU) de Lagoa, uma medida que ajuda, conforme diz a arquiteta, a fomentar o investimento nestas zonas das cidades, porque simplifica o processo e oferece diversos benefícios fiscais. «Desde que começou o ARU temos notado mais investimentos nos centros das cidades de Portimão, Silves, Lagos e Lagoa», enumerou.
Esta aposta do empresário holandês enquadra-se nesta perspetiva de reabilitação urbana, mas poderá haver mais passos a dar neste sentido.

«Eu decidi ficar em Portugal para o resto da minha vida. Sou feliz aqui. No entanto, sou um urban developer. A minha especialidade é melhorar o aspeto das cidades, ainda que seja também um homem de negócios e não um filantropo», brincou.

Erik de Vlieger considera que há mais localizações no Algarve que podem ser uma boa oportunidade. Ao «barlavento» tornou oficial o interesse pela zona da estação ferroviária de Faro, porque considera que existem muitos edifícios à espera de serem promovidos. «É necessário que alguém dê o sinal de partida», defendeu.


Em Lagos ainda tem uma propriedade com 610 hectares, onde havia pensado criar o Match Algarve, com um centro de futebol, pistas de atletismo, oito campos de futebol e râguebi com acomodações privadas, oito campos de ténis, e até um percurso de 36 buracos de footgolf, uma modalidade que alia o golfe às habilidades do futebol. «Tento encontrar promotores, mas é difícil», admitiu. Há, porém, concelhos que lhe enchem o olho. Aponta como possível futuros negócios em Vila Real de Santo António, Tavira e Alcoutim. Para já, a prioridade, após o investimento em Lagoa, será mesmo Faro.

Empresário comprou outros dois edifícios para renovação em Lagoa

Erik de Vlieger, que avançará com um projeto de renovação do edifício Atrium Lagoa, numa das principais entradas da cidade, adquiriu ainda dois imóveis na Rua da Liberdade para impulsionar o início de uma verdadeira revolução urbana. O empresário considera que não pode «fazer tudo sozinho», mas tem a intenção «de incentivar o desenvolvimento» local. De resto, quer efetuar em Lagoa, algo semelhante ao que implementou em Portimão, com a requalificação do edifício Mabor e a construção de um hotel na mesma zona, na antiga Feitoria. Em Lagoa investirá, nesses edifícios na Rua da Liberdade, com lojas e apartamentos. Segundo Arnold Aarsen, do Studio Arte, atelier sediado em Portimão, responsável por estes projetos, a intenção é criar um conceito eco friendly no centro da cidade, quase como «uns pulmões verdes», até porque na base da história da cidade, esta era uma zona onde havia muitas hortas e os proprietários das habitações aproveitavam os espaços para produzir verduras e vegetais para consumo próprio. «Este bloco de apartamentos contemplará também [como o Atrium Lagoa] o conceito verde, com elementos simples», revelou. Serão diversos espaços reservados a lojas e cerca de 40 apartamentos de várias tipologias.

Carvoeiro Clube ganha golfe com gestão do Vale de Milho

A empresa situada em Carvoeiro, fundada em 1982, foi um dos primeiros investimentos visíveis de Erik de Vlieger no Algarve, em 2006. Juntou-se a Andreas Stocker e entrou na área da gestão de propriedades, piscinas e jardins. «Há cinco anos executámos um plano, porque pensamos que Portugal tem futuro», explicou Erik de Vlieger ao «barlavento». Hoje contam com 11 resorts, incluindo, por exemplo, a Quinta do Paraíso, o Vale de Milho Village e a Quinta do Algarvio, que está em construção. Nesse plano verificaram que era necessária a oferta de mais serviços aos clientes e compraram também o Carvoeiro Clube Ténis. Agora passaram também a operar o Vale de Milho Golfe. «Gerimos 400 unidades, temos 250 colaboradores e o nosso cliente pode desfrutar de diversos serviços e atividades como é o caso do fitness, do ténis e do golfe. É mais do que um clube, pois tem todos os serviços num só espaço», contou.