Eletrões verdes de Alcoutim impulsionam descarbonização da GALP

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Complexo fotovoltaico da Galp em Alcoutim, terá um papel fundamental na descarbonização da GALP e da refinaria de Sines.

São quatro centrais fotovoltaicas em S. Marcos, Viçosa, Pereiro e Albercas, licenciadas de forma independente, três das quais já em plena operação desde dezembro do ano passado. No total, têm 252.532 painéis solares que se estendem por uma área de 250 hectares. Contas feitas, a capacidade de produção anual estimada da Galp em Alcoutim é de 250 mil megawatts-hora de eletricidade, o suficiente para fornecer energia renovável a mais de 80 mil famílias e evitar a emissão de 75 toneladas de CO2 para a atmosfera. Com este complexo no interior algarvio, a Galp conta agora com uma capacidade instalada de 1,4 GW, assegurando 5,5 por cento da potência fotovoltaica da Península Ibérica.

Georgios Papadimitriou, vice-presidente executivo de renováveis da Galp, explicou a importância desta infraestrutura para a empresa, na cerimónia de inauguração que contou com a presença do ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, do presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves, e do presidente executivo da Galp, Filipe Silva, entre representantes de várias entidades, no final da manhã de sexta-feira, dia 29 de setembro.

Georgios Papadimitrio.

«Alcoutim é o primeiro grande investimento da Galp no solar em Portugal. Alcoutim está na linha da frente de transição energética, que não se faz sem o envolvimento e o apoio das comunidades. Os projetos de energias renováveis são descentralizados por natureza. Estão mais próximos das pessoas. Cobrem áreas mais vastas. Ainda que sejam benignos do ponto de vista ambiental, são mais visíveis e presentes na vida das pessoas. Proximidade é uma das palavras que melhor define um novo sistema energético. Uma outra é cooperação. Contamos, desde o primeiro momento, com a visão e o empenhamento da autarquia, com a compreensão e abertura das instituições locais e envolvimento dos cidadãos. Foi esta coligação de boas vontades que nos permite hoje dizer que Alcoutim é um caso de sucesso de desenvolvimento sustentável à escala nacional», sublinhou.

Dirigindo-se a Osvaldo Gonçalves, Georgios Papadimitriou garantiu que «estamos aqui para ficar, para criar valor para esta comunidade. Somos vossos parceiros e vizinhos. O nosso trabalho não está terminado. Na verdade, está só a começar. Estamos a planear uma extensão de 12 MWp. Mais importante do que isso, esperamos instalar aqui a nossa primeira bateria de 5 MWp, provando que é possível acrescentar valor e ter capacidade de armazenamento de energia perto da fonte».


No que toca ao impacto local, «continuaremos a criar convosco, uma comunidade mais inclusiva e mais sustentável, desenvolvendo projetos em espaços de saúde, continuaremos a apoiar os bombeiros, e a Escola Básica de Martin Longo, a quem entregámos 30 computadores logo no início da pandemia. Vamos desenvolver um plano de biodiversidade e incentivar os jovens deste concelho a prosseguir os estudos com bolsas para a universidade, porque queremos que construam o futuro da energia e o futuro da sua terra. Estamos preparados para arrancar com um novo projeto de autoconsumo solar que vai estar ao serviço das instituições e comunidade de Alcoutim».

«Petróleo português» para Sines

No início desta semana, a Galp anunciou também dois grandes projetos para a refinaria de Sines: a instalação de 100MW de eletrolisadores para a produção de hidrogénio verde, e o lançamento de uma unidade de produção de biocombustíveis avançados (HVO/SAF), investimentos avaliados em 650 milhões de euros.

Agora, «terminamos a semana com a inauguração do nosso primeiro projeto solar em Portugal. Parecem dois acontecimentos sem relação, mas, na verdade, os eletrões de Alcoutim são essenciais para o sucesso dos projetos de Sines», referiu Papadimitriou.

Filipe Silva, 59 anos, presidente executivo da Galp, detalhou. «O que vocês estão a ver atrás de mim, vai ser encontrado no depósito do vosso carro. Vamos transformar o sol de Alcoutim em combustíveis» de baixo carbono.

Filipe Silva.

«Esta eletricidade vai daqui para a subestação de Tavira, entra na rede nacional, chega a Sines, alimentará um eletrolisador e vai fazer hidrogénio verde que irá produzir combustível. É petróleo português, made em Portugal, a começar aqui mesmo em Alcoutim», sublinhou o CEO.

«A minha geração herdou o problema dos combustíveis fósseis que desenvolveu o mundo ao longo das últimas décadas. Hoje, combustível fóssil representa 83 por cento da energia primária do mundo, portanto, a eletricidade pesa muito pouco. É fundamental que a eletricidade verde como esta, vá substituindo cada vez mais os combustíveis fósseis. Mas este valor dá-nos uma ideia daquilo que temos pela frente. É muito complexo, teremos de priorizar onde é que vamos querer pôr estes eletrões para fazer a maior diferença possível no planeta», explicou.

«Em Sines temos uma necessidade desmesurada de eletrões como estes. Este projeto é um início, pois vamos precisar de muitos mais para conseguir eletrificar, transformar e descarbonizar o próprio processo industrial da refinaria de Sines, e também os seus produtos. Estamos a falar em algo gigantesco e à escala global. Anunciámos um grande projeto de biocombustíveis avançados que vai servir sobretudo para substituir o gasóleo de origem fóssil. Um gasóleo sem carbono para automobilistas [mobilidade] e para o sector da aviação. A maior capacidade de eletrólise verde hoje a funcionar é de 20 MW, algures no norte da Europa. Nós anunciamos 100 MW, cinco vezes mais. E vamos querer multiplicar isto, até chegar aos 500 ou 600 MW nos próximos anos. Sem vocês saberem, dentro do depósito vai estar um produto que nasceu com um eletrão verde aqui de Alcoutim», anunciou o CEO.

«Portanto, a nossa jornada nos próximos anos, fará com que qualquer português olhe para 2023 e, sobretudo, para esta semana, onde conseguimos integrar a cadeia completa desde o sol de Alcoutim» até à renovada refinaria na costa alentejana.

O caminho, contudo, ainda tem ainda alguns obstáculos, que o executivo aproveitou para lembrar ao ministro do Ambiente. «Sines precisa de capacidade de interconexão, sem a qual nada desta acontece. Portanto, o governo quando prioriza o que é que é mais importante para o planeta, deverá ter em atenção, onde é que o problema está hoje. Deve assegurar que estes eletrões cheguem lá para alimentar os eletrolisadores. Sem esta eletricidade não há descarbonização de Portugal. Este ponto é absolutamente crítico. Não pedimos subsídios nem ajudas. Só precisamos que o eletrão chegue ao sítio certo. Temos ainda o projeto de Ourique, de 250 MWp, que aguarda a conexão».

E frisou que «nenhuma empresa em Portugal sequer se aproxima do que a Galp está a fazer para descarbonizar o país. Temos o capital, o talento, o interesse e o apoio acionista. Há risco tecnológico, mas sabemos que as empresas que seguem na dianteira no mundo do hidrogénio e dos biocombustíveis avançados vão ser os vencedores. E tudo isto nasce em Alcoutim».

Também Papadimitriou deixou um recado. «Estamos a fazer transição para a produção de energias renováveis do futuro, garantindo simultaneamente a segurança de abastecimento no presente. É um desafio difícil que exige cooperação. Trabalhei em Itália, Grécia, França, Espanha e Estados Unidos. Estou há 21 meses em Portugal, que tem condições únicas para ser um dos países mais competitivos na produção de eletrões verdes. Digo por experiência própria que a abordagem pragmática do governo está alinhada com a urgência da descarbonização. Isso faz de Portugal um destino atrativo para os investidores do sector das renováveis. Medidas como o Simplex ambiental e outras são passos no sentido certo e exemplos para serem seguidos por outros governos e por outros países. Quatro anos depois do Green Deal, vemos que muita coisa foi feita no espaço europeu. Mas a execução está longe da ambição. Precisamos muito de acelerar os investimentos».

A Galp tem onze parques solares em operação ou construção em Portugal e Espanha. Estes ativos serão responsáveis pela produção de cerca de 2,4TWh de energia renovável em 2023.

Ministro sublinha metas do governo

Duarte Cordeiro, no uso da palavra, elogiou o projeto que «privilegia a independência e autonomia do nosso país, fornece eletricidade a preços competitivos e, sobretudo, evita emissões de gases com efeito de estufa. Em poucas palavras, é uma transição nossa, barata e sustentável».

O governante lembrou o objetivo do governo em «identificar os melhores locais para instalar, obviamente, com os menores impactos possíveis, as energias renováveis. Queremos desenvolver, ao máximo que pudermos a produção descentralizada, que hoje já um peso significativo e que queremos que continue a crescer. Se contabilizarmos todas as potenciais oportunidades de investimento que vamos identificando, estamos a falar de mais de 75 mil milhões de euros. O que é que isto não representa para um país como o nosso?».
«Continuamos a precisar naturalmente de produção de eletricidade com gás natural, mas já estimamos um phasing out para 2040», previu. Na atual revisão do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), «procurámos antecipar o objetivo do país em produzir, pelo menos 85 por cento da energia elétrica a partir de fontes renováveis até 2030».
Em relação ao solar fotovoltaico, «temos a neste momento cerca de 3,1 gigawatts instalados no nosso país, que já se já de si, significa um crescimento muito significativa face àquilo que foi passado recente. Mas vamos acelerar e queremos acelerar de forma muito significativa».

«Temos na energia descentralizada cerca de 40 por cento de toda a capacidade instalada. Sabemos que vamos ter de crescer também na produção centralizada e é muito importante saber que um grupo como a Galp está a apostar nas duas dimensões, totalmente alinhada com os objetivos estratégicos de Portugal. Portanto, por aqui se faz uma importante parte do caminho que precisamos daqui a 20 anos: um país mais soberano, com energia mais barata e acessível no quadro de uma economia descentralizada, sendo uma referência para o mundo».

Duarte Cordeiro.

Questionado sobre a contestação de que foi alvo por parte das gerações mais jovens, Duarte Cordeiro respondeu aos jornalistas que «não tenho receio absolutamente nenhum, nunca tive e não vou ter agora com certeza. Tem existido uma participação de forma intensa, de uma nova geração que está bastante preocupada com o seu futuro, com o planeta, que quer que os governos e as empresas acelerem que sejam mais rápidos e assumam compromissos mais ambiciosos, tendo em conta as consequências das alterações climáticas. Fazem-no convictos de uma causa que é muito importante para todos nós. Mas é importante que mantenhamos sempre um conjunto de aspetos determinantes nas nossas vidas. Vivemos em democracia. Respondemos aos cidadãos perante um programa político. Obviamente, queremos acelerar as metas de transição climática e ambiental, mas há equilíbrios fundamentais e temos de ter atenção aos impactos sociais das medidas que tomamos».

«Há uma diferença entre aqueles que acham que podemos eliminar as empresas que existem no nosso país e partir do zero. Nós achamos que temos de entrar num processo de descarbonização com as empresas que existem», disse o governante, referindo-se aos investimentos anunciados pela Galp. «Temos de continuar esta política de alinhamento. Na nossa opinião é a única eficaz. De outra forma, podemos estar todos a viver ilusões de metas que podiam ser alcançadas mais cedo, mas não são mais do que ilusões», concluiu.

Osvaldo Gonçalves.

Compensações ainda em aberto

Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e Ação Climática, admitiu que ainda está em aberto a compensação que o município de Alcoutim receberá por receber a instalação do projeto fotovoltaico da Galp. «O governo criou um mecanismo de compensação para os municípios à medida que vamos instalando energia renovável. Através do Fundo Ambiental, transferirmos 13.500 euros por cada megavolt/ampere instalado. No entanto, antes de este regime entrar em vigor, já alguns municípios tinham tido uma atitude de abertura e de proatividade relativamente ao licenciamento destes projetos. Importa perceber como é que nós podemos agora compensá-los. A nossa proposta é avaliar caso a caso, ou se há alguma capacidade de agregar todos esses e procurar negociar uma forma de compensação, com valor aproximado ou equivalente àquilo a que teriam direito», explicou.