Secretários de Estado foram os convidados especiais na casa da Emergência Infantil, em Faro, para a inauguração da iluminação natalícia do espaço.
A tradição voltou a cumprir-se. Há 33 anos que o dia 1 de dezembro fica marcado por uma cerimónia para ligar as luzes de Natal da instituição e que simboliza o início da quadra para as crianças e jovens que alberga.
O que começou com apenas seis lâmpadas brancas, junta hoje 3500 luzes de diferentes cores e uma estrela colocada no cimo de um pinheiro, a 30 metros de altura.
Luís Villas-Boas, diretor da instituição, abriu a efeméride, dirigindo as suas primeiras palavras aos secretários de Estado Jorge Botelho e José Apolinário. «A vossa presença significa muito. É preciso afirmar o governo de Portugal como testemunho da preocupação social e clínica. A vossa presença dá-nos ânimo, algo que necessitamos todos os dias para levar por diante, o trabalho que bem conhecem, marcado pelo sentimento de solidariedade ativa. A expetativa é que esta pequena Instituição Particular de Solidariedade Social, com o seu trabalho contínuo, continue a merecer o apreço que todos lhe dedicam e que o modelo de intervenção de sua autoria, a Emergência Infantil, seja cada vez mais interpretado como um modelo e não como o modelo», disse.

«Portugal não pode servir de laboratório de provas de exportação de modelos, alguns de má memória entre nós. Somos um povo de afetos e de mãos abertas para intervir. No universo das crianças temos experiências com mais de 500 anos, como é o caso da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Temos de saber ser humildes no agir. Não nos podemos deixar envergonhar por autênticos promotores internacionais de soluções que melhor fora que cuidassem das suas crianças e famílias com eficácia», reforçou o diretor.
Por fim, Luís Villas-Boas, no uso da palavra, relevou os mais recentes números e estatísticas da instituição.
«Em 2018 saíram desta casa, para as suas famílias, ou para novas, 39 crianças. No final deste ano serão 31 saídas. Somando totalizam-se 70 crianças que, em dois anos, foram recuperadas. O número de acolhimentos por violência doméstica tem vindo a aumentar, assim como situações de forte negligência, o que implica uma cada vez maior intervenção nossa. Temos ainda 16 crianças especiais no Refúgio. Relembro que cada criança só tem um tempo de ser criança e o seu superior interesse deve nortear toda e qualquer intervenção do Estado ou de quem o representa nas mais variadas circunstâncias».

Também Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, fez questão de marcar presença. Ao «barlavento» afirmou que, na sua opinião, «é obrigatório todas as entidades virem aqui hoje prestar a sua homenagem ao excelente trabalho que o Refúgio faz 24 horas por dia, 365 dias por ano, com crianças que não tiveram a sorte de a vida lhes correr bem de início. É esta instituição que de alguma forma coloca as suas vidas no rumo certo, dando-lhes carinho, dando-lhes colo e dando-lhes uma coisa que provavelmente teriam perdido, que é um futuro».
Nesse sentido, disse o autarca, «é mais que uma homenagem à instituição, mas a todos aqueles que aqui trabalham, é um agradecimento àquilo que a instituição faz».
Bacalhau agradeceu, em nome de toda a comunidade, à equipa da instituição, «pessoas boas, capazes de criar e de desenvolver obras grandiosas e notáveis, que devotam amor fraternal a estas crianças». E dirigiu-se a Luís Villas-Boas: «conte connosco para continuar a acordar uma sociedade que por vezes parece adormecida para aquilo que verdadeiramente nos devia mobilizar: a necessidade de proporcionar educação, alimento e esperança a todas as crianças. Em particular às mais frágeis».
Já Jorge Botelho, que assumiu há pouco mais de um mês o dossier do governo da Descentralização e da Administração Local, garantiu ao «barlavento» que fez questão de estar presente porque «não podemos dizer que apoiamos uma causa e depois quando surge a oportunidade de estarmos presentes, há outra coisa para fazer. Faço questão de estar aqui porque acredito neste trabalho e porque o acompanho desde os meus tempos de diretor regional da Segurança Social do Algarve. Além disso, é prova simbólica do apoio político neste cargo que agora desempenho. Esta instituição trabalha bem, tem apoios do Estado, trabalha com os tribunais, tem crianças e acho que o governo deve também apoiar aquilo que é reconhecido como competente», referiu.

No discurso oficial, o ex-autarca de Tavira referiu que «aquilo que for preciso ajudar para que esta casa seja cada vez melhor e continue a fazer o trabalho que tem feito, eu estou cá. Se há uma coisa que o cargo que me foi atribuído no governo significa, é que devemos dar atenção àquilo que bem se faz nas regiões e que isso deve ser multiplicado, preservado e defendido. A todos um bom Natal».
Por fim, decorreu o momento tão esperado por todos e, sobretudo pelas crianças – o acender das lâmpadas. Luís Villas-Boas pediu a diversas entidades que o ajudassem na tarefa, das que marcaram presença durante a tarde, como Ana Fazendo, coordenadora regional da Comissão Nacional de Proteção das Crianças e Jovens (CPCJ); Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; Margarida Flores, diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social e Nídia Cavaco, presidente da CPCJ de Faro.

Natal das crianças no Refúgio é vivido com festa todos os dias
Luís Villas-Boas, diretor do Refúgio Aboim Ascensão recebeu inúmeros abraços de muitas crianças e adolescentes que marcaram presença em tempos, na instituição de acolhimento e que hoje já têm uma casa e uma família, no domingo, dia 1 de dezembro.
Data que, há 33 anos, marca o início da época natalícia na instituição farense, com o acender das luzes. Uma marca, que segundo o diretor, é importante «para qualquer criança».

Até 6 de janeiro (Dia de Reis) todos os dias há festa no Refúgio. Atividades «decisivas para o crescimento e para a estabilidade emocional das 70 crianças que aqui temos», revelou o diretor aos jornalistas.
Já ao «barlavento», Villas-Boas descreveu como a época é vivida naquela casa. «De várias formas. Há muitos voluntários que vêm cá atuar, cantar e dançar. Depois, na noite de Natal, as crianças que não estão acordadas à meia-noite, fazem um jantar com as empregadas de serviço e com os muitos de nós que cá vêm. Como a idade deles assim o exige, vão para a cama cedo. Quando acordam vão ao sapatinho e têm lá uma prenda à sua espera, que o Pai Natal lhes deixou. Além disso, na festa do Refúgio, que este ano calha a dia 22 de dezembro, há uma festa para todas as crianças, para os amigos delas e para os voluntários e aí têm outra prenda»
«Não é só o Algarve que tem necessidade de um Refúgio», diz Rogério Bacalhau
O presidente da Câmara Municipal de Faro Rogério Bacalhau marcou também presença na cerimónia do Refúgio Aboim Ascensão.

Ao «barlavento», o autarca farense explicou que a presença de dois Secretários de Estado é de enaltecer, uma vez que «é importante que o governo tenha também a perceção do trabalho que esta instituição faz por forma a manter os apoios que já dá, mas também a tirar daqui as boas práticas e as poder levar para outros locais. Isto porque, não é só no Algarve que temos necessidade de um Refúgio Aboim Ascensão, é provavelmente em todo o país e até fora de Portugal. É portanto importante que o governo esteja aqui, que tenha conhecimento daquilo que de melhor aqui se faz e possa replicar pelo menos a ideia, difundindo-a para outras instituições».