COVID-19: UE prevê recessão profunda e desigual com retoma incerta

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Pandemia de Coronavírus representa um profundo choque para a economia mundial e europeia, com consequências socioeconómicas muito graves. Não obstante a rápida adoção de uma resposta estratégica global, tanto a nível nacional como europeu, a economia da União Europeia (UE) registará este ano uma recessão que assumirá proporções históricas.

De acordo com as previsões económicas da primavera de 2020 avançadas ontem, dia 6 de maio, pela Comissão Europeia, a economia da área do euro registará uma contração sem precedentes, equivalente a 7,¾ por cento em 2020, que deverá ser seguida de um crescimento de 6,¼ por cento em 2021.

Por seu turno, a economia da UE deverá contrair-se em 7,½ por cento em 2020 e crescer 6 por cento em 2021.

As projeções de crescimento para a UE e a área do euro foram revistas em baixa em cerca de nove pontos percentuais face às previsões económicas do outono de 2019.

Trata-se de um choque que afetou a economia da UE de forma simétrica, na medida em que a pandemia afetou todos os Estados-Membros, mas quer a queda da produção em 2020 (que oscilou entre -4,¼ por cento na Polónia e -9,¾ por cento na Grécia) quer a dinâmica da retoma em 2021 deverão divergir acentuadamente.

A recuperação económica de cada Estado-Membro dependerá não só da evolução da pandemia no país como também da estrutura da sua economia, bem como da sua capacidade de resposta por intermédio de políticas de estabilização.

Dada a interdependência das economias da UE, a dinâmica da recuperação em cada Estado-Membro afetará também a solidez da retoma dos demais Estados-Membros.

De acordo com Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo e comissário responsável pela pasta Uma Economia ao serviço das Pessoas, «na fase atual, só é possível identificar, a título indicativo, a dimensão e a gravidade do choque que a crise do coronavírus irá representar para as nossas economias».

«Apesar de as repercussões imediatas serem indubitavelmente muito mais graves para a economia mundial do que a anterior crise financeira, a gravidade do impacto dependerá da evolução da pandemia, da nossa capacidade para retomar a atividade económica de forma segura e da recuperação subsequente».

Trata-se, portanto, «de um choque simétrico, uma vez que todos os países da UE foram afetados e deverão entrar em recessão este ano. A UE e os Estados-Membros já acordaram medidas extraordinárias para atenuar o seu impacto. A nossa retoma coletiva dependerá da prossecução de respostas firmes e coordenadas a nível nacional e europeu. Unidos, somos mais fortes».

Paolo Gentiloni, comissário europeu responsável pela Economia, afirma que «a Europa está a atravessar um choque económico sem precedentes desde a Grande Depressão».

«Tanto a gravidade da recessão como a dinâmica da recuperação serão desiguais, uma vez que dependerão da celeridade com que as medidas de confinamento possam vir a ser suprimidas, da importância de sectores como o turismo na economia de cada país e dos recursos financeiros à sua disposição. Esta divergência suscita riscos para o mercado único e para a área do euro, mas é possível atenuá-los mediante uma ação decisiva e conjunta a nível europeu. Temos de estar à altura deste desafio».

Crescimento afetado por um choque enorme, seguido de uma retoma incompleta

A pandemia de coronavírus afetou gravemente o consumo, a produção industrial, o investimento, as trocas comerciais, os fluxos de capitais e as cadeias de abastecimento.

Prevê-se que a supressão progressiva das medidas de confinamento deverá criar condições favoráveis à retoma. Não se prevê, todavia, que a economia da UE consiga compensar totalmente as perdas registadas este ano até ao final de 2021. O investimento continuará a ser fraco e não se verificará uma plena recuperação do mercado de trabalho.

A eficácia continuada das medidas estratégicas adotadas a nível nacional e europeu para dar resposta à crise assumirá uma importância crucial, tendo em conta a necessidade de limitar os prejuízos económicos e de facilitar uma recuperação célere e robusta, para que as economias retomem um rumo de crescimento inclusivo e sustentável.

O desemprego deverá aumentar, embora as medidas estratégicas possam contribuir para limitar esse aumento

Embora os regimes de tempo de trabalho reduzido, as subvenções aos salários e o apoio às empresas possam contribuir para limitar a perda de postos de trabalho, a pandemia de coronavírus terá graves repercussões nos mercados de trabalho.

A taxa de desemprego na área do euro deverá aumentar, passando de 7,5 por cento em 2019 para 9,½ por cento em 2020, antes de voltar a diminuir para 8,½ por cento em 2021.

Na UE também se prevê um aumento da taxa de desemprego, que passará de 6,7 por cento em 2019 para 9 por cento em 2020, devendo em seguida diminuir para cerca de 8 por cento em 2021.

O aumento do desemprego será mais significativo nalguns Estados-Membros do que noutros.

Aqueles que registam uma elevada percentagem de trabalhadores com contratos de curta duração e em que uma grande parte da mão de obra depende do sector do turismo são particularmente vulneráveis.

Os jovens que entram no mercado de trabalho na conjuntura atual também enfrentarão mais dificuldades para obter o seu primeiro emprego.

Descida acentuada da inflação

Prevê-se uma diminuição significativa dos preços no consumidor este ano, devido à quebra da procura e à queda acentuada dos preços do petróleo que, em conjunto, deverão mais do que compensar quaisquer aumentos isolados dos preços decorrentes de perturbações na cadeia de abastecimento relacionadas com a pandemia.

Atualmente, projeta-se que a inflação na área do euro, medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), atinja 0,2 por cento em 2020 e 1,1 por cento em 2021. No que respeita à UE, a inflação deverá atingir 0,6 por cento em 2020 e 1,3 por cento em 2021.

Medidas estratégicas decisivas provocarão um aumento da dívida e dos défices públicos

Os Estados-Membros reagiram de forma decisiva, tendo adotado medidas orçamentais para limitar os prejuízos económicos causados pela pandemia.

Os denominados «estabilizadores automáticos», como o pagamento de prestações da segurança social, em conjugação com as medidas orçamentais discricionárias, deverão resultar no aumento das despesas.

Em consequência, prevê-se um aumento do défice público agregado da área do euro e da UE, que deverá passar de apenas 0,6 por cento do PIB em 2019 para cerca de 8,½por cento em 2020, antes de diminuir para aproximadamente 3,½ por cento em 2021.

Após uma trajetória decrescente desde 2014, o rácio dívida pública/PIB deverá igualmente aumentar.

Na área do euro, prevê-se que este rácio aumente de 86 por cento em 2019 para 102,¾ por cento em 2020, devendo em seguida diminuir para 98,¾ por cento em 2021. Na UE, prevê-se que aumente de 79,4 por cento em 2019 para cerca de 95 por cento em 2020, devendo em seguida diminuir para 92 por cento em 2021.

Contexto de incerteza excecionalmente elevada e riscos de revisão em baixa

As previsões da primavera estão sujeitas a um maior grau de incerteza do que acontece habitualmente.

Assentam num conjunto de premissas quanto à evolução da pandemia de coronavírus e às medidas de confinamento associadas. O cenário de base projetado pressupõe que as medidas de confinamento sejam progressivamente eliminadas a partir de maio.

Os riscos inerentes a estas previsões são também excecionalmente elevados e tendem para a revisão em baixa.

Uma pandemia mais grave e duradoura do que aquilo que é atualmente projetado poderá vir a provocar uma descida do PIB muito mais acentuada do que se previa no cenário de base em que assentam as previsões.

Na falta de uma estratégia de recuperação comum, firme e atempada a nível da UE prevalece o risco de a crise poder conduzir a graves distorções no mercado único e a profundas divergências económicas, financeiras e sociais entre os Estados-Membros da área do euro.

Existe também o risco de a pandemia poder desencadear mudanças comportamentais mais drásticas e permanentes no que respeita às cadeias de valor mundiais e à cooperação internacional, o que afetaria a economia europeia extremamente aberta e interligada. A pandemia poderá igualmente causar danos irreversíveis, devido às falências e a problemas duradouros nos mercados de trabalho.

O risco de imposição de direitos aduaneiros após o termo do período de transição entre a UE e o Reino Unido poderá igualmente travar o crescimento, embora mais no Reino Unido do que na UE.

Em relação ao Reino Unido, uma hipótese puramente técnica

Uma vez que as futuras relações entre a UE e o Reino Unido ainda não são claras, as projeções para 2021 baseiam-se na hipótese puramente técnica de manutenção da situação atual no que respeita às relações comerciais. Esta hipótese é formulada unicamente para efeitos da elaboração das previsões e não reflete qualquer antecipação ou expectativa quanto aos resultados das negociações entre a UE e o Reino Unido sobre o futuro das suas relações.

Contexto

As presentes previsões baseiam-se num conjunto de pressupostos técnicos em matéria de taxas de câmbio, taxas de juro e preços dos produtos de base à data de 23 de abril. Relativamente a todos os outros dados utilizados, incluindo os pressupostos relativos às políticas públicas, as presentes previsões têm em consideração as informações disponíveis até 22 de abril, inclusive.

A menos que as políticas a aplicar sejam anunciadas de forma credível e suficientemente pormenorizada, as projeções continuarão a assentar no pressuposto de políticas inalteradas.

A Comissão Europeia publica anualmente dois exercícios de previsão exaustivos (primavera e outono) e dois exercícios intercalares (inverno e verão).

As previsões intercalares cobrem, para o ano em curso e para o ano seguinte, as taxas de crescimento do PIB e as taxas de inflação anuais e trimestrais para todos os Estados-Membros, bem como para a UE e a área do euro no seu conjunto.

O próximo exercício de previsões económicas da Comissão Europeia será o exercício intercalar do verão de 2020, cuja publicação está prevista para julho de 2020. Estas abrangerão apenas o crescimento do PIB e a inflação. As próximas previsões completas serão elaboradas em novembro de 2020.