Depois de meses de ausência, teve hoje lugar, em Loulé, a conferência de imprensa para dar conhecimento da situação epidemiológica causada pela pandemia de COVID-19 no Algarve.
No uso da palavra, António Miguel Pina, presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil de Faro, começou por explicar que situação de «Calamidade parece transpor para uma situação de quase caos. Não é necessariamente assim. Os números são conhecidos, mas parece-nos a todos óbvio que é preciso voltarmos a reagir e acionar aquilo que está previsto nos planos que já foram postos em prática no passado. É nisso que estamos a trabalhar, para nos organizarmos quer seja ao nível da vacinação, quer ao nível da ajuda da saúde pública no controlo dos links epidemiológicos, fruto desta ativação dos planos distritais e municipais».
Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de saúde do Algarve, traçou o ponto da situação atual, que considera «preocupante».
«A situação na região do Algarve, tal como a nível nacional, consideraria que é preocupante. Preocupante por um lado porque os números são elevados, e por outro porque a estimativa é ainda de algum crescimento. Isto faz pressão sobre os serviços de saúde e é uma das nossas grandes preocupações. Depois, a temperatura baixa joga a favor do vírus e a atividade social pré-natalícia favorecedora de contactos, principalmente em espaços fechados, também ela própria é favorecedora dessas possibilidades de contágio», considerou.
A responsável justificou com números. «Os últimos dados, referentes a dia 4/12, apresentam 265 novos casos e isso faz com que na região tenhamos 3339 pessoas positivas. O número de casos em vigilância ativa, ou seja, que constam da lista de contactos com casos positivos e contactos de alto risco, é de 3129. O número de doentes internados às 24 horas de sábado é de 88, 20 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos e dentro destes, 14 ventilados».
Em relação às taxas de incidência, «a nossa é elevada, como têm acompanhado pelos dados da Direção-Geral da Saúde e, neste momento, temos uma taxa de 761 casos a 14 dias por 100 mil habitantes, com alguns concelhos mais afetados do que outros», como é o caso de Portimão, Lagoa, Monchique, Loulé e Faro.
Por grupo etário, apontou Ana Cristina Guerreiro, a incidência tem sido predominante no grupo dos 30-39 anos. Seguido, depois, de perto, pelo grupo dos 40-49 e pelo grupo das crianças dos zero aos nove que nos últimos 15 dias «tem crescido bastante».
«A taxa de incidência nos últimos três grupos etários mais idosos, a partir dos 60, principalmente no último (80+), verifica-se que não cresce proporcionalmente tanto como nos outros grupos etários. Ou seja, têm sido poupados os grupos etários mais idosos. Isso é claramente uma evidência do efeito da vacinação, que neste grupo etário vai à frente porque começaram a ser vacinados mais cedo», detalhou.
Em relação aos surtos, «neste momento temos 35 surtos ativos, dos quais 20 em escolas. Depois temos dois surtos em lares, um deles com alguma dimensão, mas já com alguns dias e portanto já está estabilizado, apesar de não ter ainda sido dado como concluído. Das escolas, na região não temos tido grandes surtos. Temos surtos que envolvem alunos e familiares. Estes casos isolados em escolas, para nós, são um levar e trazer de casos para a comunidade e é nessa medida que estes acabam por dar algum trabalho e provocar alguns danos. As escolas com casos são 85, mas escolas com surtos são 20. São casos pontuais. Os alunos que estão positivos são 171 e em isolamento profilático 2487. Funcionários são 20 positivos e em isolamento profilático 385. Estavam, à meia noite de sábado, 111 turmas em isolamento profilático», disse ainda.
«Os gráficos mostram a evolução dos casos todos ao longo da pandemia e mostram o impacto nítido de avaliação na diminuição de mortalidade. Na onda de inverno no ano passado, a mortalidade acompanhava a curva».
Paulo Morgado apela à vacinação
Por sua vez, no uso da palavra, Paulo Morgado, presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, fez um balanço do processo de vacinação.
«No Algarve, neste momento, temos 85 por cento das pessoas com vacinação completa e 86,3 por cento de pessoas com a vacinação iniciada. Isto são dados de sábado. Estamos, neste momento, num processo de vacinação de reforço. Queria fazer um apelo às pessoas que vivem e trabalham no Algarve para se vacinarem, nestes grupos etários, porque é da maior importância», sublinhou aos jornalistas.
E deixou um apelo: «as pessoas que se dirijam aos centros de vacinação porque estamos disponíveis para vacinar quem está elegível neste processo. Não recusamos a vacina a ninguém. Este processo vai continuar. A expetativa que temos é que nos próximos meses mais grupos de pessoas sejam incluídas e a exemplo daquilo que já acontece noutros países, iremos vacinar crianças entre os cinco e os 11 anos. Iremos certamente também vacinar outros grupos populacionais em forma descendente. É algo que já estamos a trabalhar, no sentido de podermos oferecer essa possibilidade que tudo leva a crer que deverá ser nos próximos meses essa situação de vacinarmos um número ainda maior de pessoas com a dose de reforço», concluiu.
Pina quer o Algarve como «região modelo» no combate à COVID-19
Para António Miguel Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve e autarca de Olhão, a região «tem de se preparar para os próximos seis meses. Até no seguimento da ativação do plano distrital. É isso que vamos fazer em articulação com cada um dos municípios e dos seus planos municipais: preparar a nossa região para os próximos seis meses. Torna-se evidente de que todos teremos de ser vacinados novamente, inclusivamente, como se espera, as crianças. Porque só a vacinação dá uma resistência coletiva para este vírus».
Pina reforçou o apelo de Paulo Morgado. «É preciso que não se tire o pé do acelerador desta consciência coletiva. Só a vacinação nos trará a normalidade, até com as variantes que possam ou não surgir. Nos últimos dois meses, quando parecia que as coisas já estavam todas ultrapassadas, foi-se perdendo esta perceção coletiva, e foi por isso que o início da terceira dose correu menos bem. Não foi tanto por uma questão de organização, porque as vacinas estavam lá e os profissionais também. Foi porque começámos a achar e a por em dúvida a necessidade da vacinação».
«Felizmente, coletivamente, as coisas mudaram, e hoje há uma grande adesão à terceira dose. Mas vamos todos ter de ser vacinados. Essa é a nossa convicção, a convicção da Proteção Civil e a convicção dos 16 autarcas da região. Só assim é que também se controla a proliferação do vírus. Se somos das regiões com maior número de infetados, queremos ser a primeira a sair deste processo. Por isso, só com planificação e com uma grande progressão da vacinação é que conseguimos ser a região número um do país, porque queremos passar esta mensagem: que quando chegarem as férias da Páscoa e o Natal de 2022, o Algarve é uma região modelo no que diz respeito ao combate à COVID-19.
Desde 1 de dezembro que o Algarve ativou os planos de emergência de Proteção Civil para reforçar o apoio às autoridades e serviços de saúde regionais.
Até ao final do estado de Calamidade, cada município algarvio tem um Posto de Comando Municipal a funcionar 24 horas por dia para assegurar uma resposta coordenada e acompanhar, em proximidade, a situação no terreno, numa plena articulação com o Posto de Comando Regional, instalado no Comando Regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve, em Loulé.
Vacinação prioritária para 22 mil pessoas
«Foi iniciado a nível nacional e também obviamente no Algarve por faixas etárias, aos profissionais das instituições de saúde, quer públicos, quer privados, aos funcionários das Estruturas Residenciais Para Idosos (ERPI), cuidados continuados e instituições similares, também a profissionais da direção geral dos recursos prisionais, bombeiros e quem transporta doentes. É um processo de vacinação de reforço que está a ser feito nestes profissionais em regime de casa aberta, ou seja, com profissionais que têm uma declaração da sua entidade patronal e dirigem-se em regime de casa aberta aos nossos centros de vacinação. Temos, neste momento, a vacinação a funcionar em regime de marcação, por agendamento central, por agendamento local, convocamos as pessoas por SMS e também em regime de casa aberta», explicou Paulo Morgado, presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve.
«A vacinação está aberta para os maiores de 65 anos nestas condições, para os profissionais mencionados que têm um maior risco e também já começámos a vacinação dos utentes que tinham sido vacinados com vacina Jassen, que têm mais de 50 anos. Essas pessoas que foram vacinadas com vacina jassen há mais de três meses, podem também dirigir-se aos nossos Centros de Vacinação. Estamos a convocá-las centralmente por SMS. As pessoas recebem uma mensagem para se dirigirem aos centros de vacinação e esta vacinação começou no dia 5, continua dia 8, no dia 12 e no dia 19. São os dias deste mês em que está previsto vacinar esta população que foi vacinada com a Jassen na região. No Algarve são cerca de 22 mil pessoas que estão nesta circunstância. Ou seja, que foram vacinadas com a Jassen há mais de três meses e que estão elegíveis para este processo».