Situação epidemiológica no Algarve foi hoje descrita como «longe de estar controlada», durante a conferência regional da Proteção Civil, em Loulé. Na última quinzena, o Algarve contabilizou o maior número de novos casos de pessoas infetadas com COVID-19 e de contactos em vigilância ativa, desde o início da pandemia.
Totalizam-se, no Algarve 1489 casos ativos de COVID-19 e 2790 cidadãos em vigilância diária pelas forças policiais. 40 doentes estão internados, sendo que 11 estão em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), onde quatro estão a receber ventilação respiratória.
O número de óbitos aumentou para 51, uma vez que nas últimas 24 horas faleceram três pessoas, do sexo feminino, nos concelhos de Albufeira, Faro e Portimão.
Tratavam-se de mulheres internadas no Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), com 84, 93 e 57 anos.
A última era residente da capital algarvia e tinha diversos fatores de risco. No total, desde o início da pandemia, já recuperaram 3479 pessoas.
Estes foram os números que Ana Cristina Guerreiro, delegada de saúde regional, apresentou na conferência de imprensa para ponto da situação sobre a pandemia do novo Coronavírus, na tarde de sexta-feira, dia 27 de novembro.
Nas palavras da responsável, nos últimos 15 dias «temos tido mais casos ao longo desta pandemia. Tivemos alguns dias com números superiores a 100, distribuídos por toda a região, mas com maior incidência na zona central e Barlavento. Nestes últimos tempos o Sotavento tem sido mais poupado».
Em relação aos surtos, Guerreiro revelou que o maior encontra-se no Estabelecimento Prisional de Faro, com 80 casos, na grande maioria em reclusos.
No entanto, «temos também alguns relacionados ainda com festas, aniversários e reuniões de família, como por exemplo nos concelhos de Lagoa e Portimão», divulgou.
Em Lagos existe também um surto ativo, a envolver 19 casos diretos e sete relacionados com uma residência de pessoas idosas, sendo que a frequência de um restaurante estará na origem da propagação.
Ainda de acordo com a delegada de saúde regional, existem muitos estabelecimentos de ensino com turmas inteiras em isolamento profilático.
Apesar de não ter adiantado detalhes, afirmou que existem duas creches/jardins de infância com surtos confirmados, uma no concelho de Loulé e outra no concelho de Monchique.
Ana Cristina Guerreiro foi questionada pelos jornalistas sobre a possibilidade de também existir algum surto na comunidade académica da Universidade do Algarve (UAlg).
«Temos alguns casos identificados e o levantamento dos respetivos contactos. No nosso conhecimento, não temos nenhum surto derivado de festas ou ajuntamentos, que os jovens fazem nas suas casas particulares, onde acabam por juntar um número superior de pessoas ao recomendado sem uso de máscaras e logo propícios a contágios», respondeu.
Todavia, «sabemos que a comunidade académica fez teste em grande grupo, pelo Algarve Biomedical Center (ABC). Ainda não tenho esses resultados, mas para terem feito tantos testes podem ter alguma suspeita dentro da própria UAlg», especulou a responsável.
Jorge Botelho, secretário de Estado e coordenador da região do Algarve fez questão de abordar esse tema e de deixar uma mensagem aos alunos em particular.

«Nesta semana houve mais um surto na Universidade de Aveiro. Não queremos nada que aconteça um caso semelhante na UAlg. Esperamos que os jovens se contenham e que façam as coisas com regras. Era importante que houvesse alguma contenção nesta fase em que estamos todos a trabalhar para que os números possam baixar substancialmente. Faço este apelo à academia, que está numa altura de exames. Quando comemorarem a realização de algum exame, façam-no com alguma moderação».
Já sobre os concelhos que causam maior preocupação às autoridades de saúde, a delegada regional afirmou que se tratam de Faro, Lagoa, Lagos, Portimão e Vila do Bispo, «que por ser um município pequeno, qualquer aumento, eleva a taxa».
R/T da região está superior ao nacional
Quanto ao número de profissionais de saúde com COVID-19, Paulo Morgado, presidente do conselho diretivo da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, deu nota de que contabilizam-se 24, sete de instituições privadas de prestação de cuidados.
Sobre o indicador que define o grau de transmissibilidade (r/t), na região, o valor encontra-se em 1,10. Um número «acima do nacional, mas que não é o pior de todas as regiões», esclareceu. De acordo com o presidente, «só agora se começa a ver alguma diminuição em regiões que possuem medidas há muito mais tempo que nós, como é o caso da região Norte, onde o rt está a aproximar-se do um. É sabido que estas medidas demoram semanas a produzir efeito, portanto temos pela frente um período de várias semanas até começarmos a ver o efeitos das medidas», no Algarve.
Ainda segundo Morgado, a situação epidemiológica a nível global, na região, «está acima do limiar dos 240 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias [valor que classifica o risco de transmissão como elevado]. Este número tem vindo a aumentar ligeiramente nos últimos dias. Ou seja, apesar de não se estar a agravar de forma pronunciada, poderemos estar a caminho de chegar a uma situação de planalto, mas neste momento ainda nos oferece alguma preocupação. A situação está longe de estar controlada. Alguns concelhos, a situação está próxima dos 480 casos por 100 mil habitantes, o limite do limiar seguinte [risco muito elevado de transmissão]. Noutros está abaixo dos 240, mas globalmente, a situação não está de modo algum controlada».
O presidente da ARS divulgou também que existem, até ao momento, 29 doentes internados em enfermaria, num total de 92 camas abertas só para doentes com o novo Coronavírus. «Ainda temos uma taxa de ocupação relativamente baixa em comparação a outras regiões do continente. Nas UCI temos 11 camas ocupadas em 17 disponíveis nesta fase. Ainda temos uma capacidade significativa», evidenciou.
Questionado sobre se o CHUA terá capacidade de resposta de internamento caso a situação se agrave e exista um aumento de número de doentes, Morgado respondeu de forma afirmativa.
«Neste momento, mais de 60 por cento das camas não estão ocupadas. Se a doença continuar a evoluir da forma que está a evoluir e estivermos a atingir aquilo espero que seja um planalto e depois se conseguirmos entrar numa fase descendente de incidência, obviamente que não precisaremos da quantidade total de camas que estão abertas. Com aquilo que é a situação epidemiológica na região, com o número de casos que temos e com o perfil dos nossos casos, onde uma parte muito significativa são em faixas etárias mais jovens, com risco de internamento inferior, diria que temos capacidade. Aquilo que é a nossa análise, a capacidade instalada que temos é suficiente para a fase em que estamos. Temos capacidade para expandir, mas, neste momento, não precisamos, de forma alguma, de o fazer».
Aos jornalistas, o responsável opinou ainda que a fase descendente não irá acontecer, «antes de meados de dezembro».
Pina: «Temos 10 dias para salvar o Natal»
António Miguel Pina, presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil, como já tem sido hábito, quis deixar uma mensagem aos algarvios. «A fase descendente vai depender dos comportamentos nos próximos dias. Temos 10 dias para tentar salvar o Natal e isso depende de todos nós. Vamos ter fim de semana prolongado. Não é um confinamento geral, mas já que a economia vai parar bastante nesses dias, era importante que a comunidade percebesse que é também um desafio que temos perante todos nós, o de salvar o Natal. Como sempre, depende de todos».
Ainda nas palavras do também presidente da Câmara Municipal de Olhão, há um desafio pela frente: «aproveitar os próximos dias a pensar na família reunida no Natal. O desafio agora é de todos. Fiquem em casa».
Jorge Botelho acrescentou: «estamos a aproximar-nos de uma época que une as famílias e somos de uma região em que recebemos muita gente. Temos de tentar garantir que o Natal se faça com a menor mobilidade possível e com os números de internamento mais baixos possíveis, porque nos dá margens muito maiores. Quando vier a vacina será outra história que envolve outras preocupações. Agora, é bom que as pessoas saibam que isto ainda requer muita pedagogia»