Comité Insular da Culatra promete materializar a «sustentabilidade»

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Assinatura do protocolo para o desenvolvimento sustentável da Ilha da Culatra e a constituição oficial do Comité Insular são marcos importantes para o plano de ação da iniciativa Culatra2030 – Comunidade Energética Sustentável.

«Era necessário institucionalizar um processo que passa pelo compromisso para a sustentabilidade por parte das entidades. Para a criação deste Comité Insular convidámos as sete entidades que têm jurisdição no território mais as empresas que têm responsabilidades na área dos resíduos, água e energia, de forma a que essa solução seja validada por todos, e passarmos as barreiras complicadas de pareceres com restrições», explicou André Pacheco, professor e investigador da Universidade do Algarve, no momento da assinatura do protocolo, na manhã de sexta-feira, dia 9 de outubro, na Biblioteca Municipal de Faro.

«Na prática, assim conseguimos um diálogo mais próximo. As ideias propostas pela UAlg ou por outras organizações, serão avaliadas por este Comité para se saber se podem ou não ser colocadas em prática», disse ainda.

Agora, para os próximos meses, o objetivo traçado é que «o Comité Insular desenhe um plano estratégico, que irá passar por se ouvirem os técnicos, os investigadores, os residentes, entre outros», explicou ainda o investigador que tem estado na linha da frente da iniciativa Culatra2030.

André Pacheco.

Para Sílvia Padinha, presidente da Associação de Moradores da Ilha da Culatra (AMIC), o momento foi de especial importância porque «as entidades estão a assumir um compromisso sério e demonstram que querem percorrer este caminho connosco».

No uso da palavra, Padinha pediu que «a sustentabilidade deixe de ser apenas uma palavra, para se tornar um conceito e um modo de vida para onde o ser humano tem que caminhar».

«Essa é a minha convicção desde a primeira hora em que abraçámos o projeto Culatra2030. Agradeço desde já a todos os envolvidos porque a AMIC assumiu que não tinha vocação, nem capacidade, nem disponibilidade e o conhecimento faz toda a diferença para que o objetivo seja conseguido. Ter a academia algarvia do nosso lado a abrir caminho e a dizer qual o rumo a seguir para que o projeto em 2030 seja de sucesso e possa ser replicado, é uma honra», enfatizou.

Para a dirigente associativa «é muito importante envolver as pessoas, dentro da realidade que têm. Depois há outra realidade que não conhecemos e que tem de ser adaptada. É daí que vem a Universidade do Algarve e os técnicos. É ainda uma honra para a Culatra poder servir de laboratório para este caminho que é necessário para que o planeta seja mais limpo, mais saudável e mais seguro para todos nós».

Ouvida pelos jornalistas, Padinha acrescentou que «a ideia inicial sempre foi criar a harmonia entre o homem e o meio ambiente num espaço que é natural. Perceber até onde o comportamento humano por ir, para que não se fique a perder nem a ganhar, mas em equilíbrio. Queremos que as pessoas assumam esta responsabilidade no meio em que vivem. O conhecimento levar-nos-á a ter as melhores práticas. Nesse sentido, desde o início que a população tem vindo a acompanhar este projeto, para que se consiga evoluir».

E é o que tem vindo a acontecer. «Aém das sessões de diagnóstico participativo em que a população tem vindo a intervir ao enunciar problemas e procurar soluções, temos já duas medidas que serão postas em prática em breve. O Centro Social da Nossa Senhora dos Navegantes vai optar, já a partir do próximo mês, por usar motas elétricas para fazer o apoio domiciliário aos idosos, em substituição das atuais a gasolina», revelou.

Também com a AMIC, através do Culatra2030, «candidatámo-nos ao Programa Operacional MAR 2020 para termos um barco movido a energia solar. Isto porque a nossa preocupação também tem a ver com a qualidade da água da Ria Formosa, pois somos uma população em que a atividade económica está no mar. É quase tão importante para nós como a qualidade da água que bebemos porque é dela que retiramos o rendimento. Estamos muito preocupados com isso», disse ainda.

«Queremos dar o exemplo de que é possível navegar na Ria Formosa e não a poluir. A embarcação é movida a energia solar e tem a capacidade para transporte de quatro toneladas. Assim, vamos juntar os pequenos produtores e fazer menos viagens, com uma embarcação coletiva, dando o exemplo a outros produtores de maior capacidade que possam investir também neste tipo de embarcações».

Segundo Sílvia Padinha, há dois viveiristas interessados que também apresentaram candidaturas. «A mudança tem de sair de cada um de nós e a sustentabilidade vai começar a fazer parte do dia a dia», opina a responsável da AMIC. «Daqui a alguns uns anos, quem sabe, se a navegação na Ria Formosa não se faça 90 por cento por barcos movidos a energia solar?».

Culatra pode ser exemplo para a Europa

Durante a cerimónia, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, mostrou-se expectante a iniciativa Culatra2030.

«É uma satisfação enorme poder colaborar com um projeto que nos leva a acreditar na sustentabilidade dos nossos espaços ribeirinhos e no futuro do planeta. E que se enriquece com a participação dos membros da comunidade e nas suas expectativas. A constituição deste Comité Insular leva-nos a compreender de uma forma mais completa a história das comunidades ilhéus. Assentes nas suas raízes, seguras das suas crenças e abnegadas na busca do seu futuro, estas comunidades procuram agora deixar um sinal de esperança e legar às gerações vindouras um território mais sustentável e ambientalmente mais ordenado», disse o autarca farense.

«Temos bastante expectativa em relação aos resultados desta iniciativa, que corresponde aos nossos objetivos para esta jurisdição autárquica e vai ao encontro da nossa política de fomento de um desenvolvimento sustentável em todo o território concelhio. Até 2030, muita coisa irá acontecer em resultado deste programa, mas a Câmara não deixará de acompanhar estes desenvolvimentos e de se posicionar como agente da mudança virtuosa que daqui saia, a bem das comunidades residentes e da valorização do território farense. Este é o nosso posicionamento: nas ilhas, no interior e na cidade».

Por outro lado, Francisco Serra, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, enalteceu o «grande potencial para se encontrarem novas soluções de sustentabilidade e de autossuficiência. Muitas entidades estão expectantes sobre os resultados que podemos obter para tentar replicar a iniciativa, adaptada a pequenas localidade do interior, por exemplo».

Francisco Serra.

«Toda a experimentação, todo o leque de possibilidades e a problemática diversa que estamos a tratar leva-nos a considerar que esta iniciativa não tem a ver com a dimensão territorial da Ilha da Culatra, mas com a dimensão universal das problemáticas em estudo, em investigação e em experimentação. Congratulo o progresso que todos temos vindo a fazer, com a capacidade que temos demonstrado de nos organizarmos e fazermos uso das competências que irão contribuir localmente para a resolução de problemas globais», finalizou.

Já Paulo Águas, magnífico Reitor da Universidade do Algarve reiterou que a academia se sente «muito confortável e estimulada com o desafio. É esse o nosso papel, fazemos ensino, fazemos investigação, mas cada vez mais estamos ligados aos territórios. Temos a felicidade de ter este laboratório na Ilha da Culatra para podermos, num primeiro momento, melhorar as condições de vida das populações, de uma forma harmoniosa do ponto de vista económico, social e ambiental. Este já é um projeto de sucesso e que nos coloca numa posição com elevada responsabilidade».

Paulo Águas.

Marta Ferretini, em representação da SMILO – Small Islands Organisation, uma Organização Não Governamental (ONG) internacional que pretende fazer a futura certificação energética da Culatra, contratulou-se pela união dos parceiros.

Para que tal galardão possa ser alcançado é necessário que a Culatra se torne sustentável em cinco pilares: água; resíduos; energia; património cultural e atividades humanas; e biodiversidade e proteção dos ecossistemas.

«É uma das primeiras vezes que vejo um compromisso local tão forte. Acho que pode mesmo tornar-se um exemplo na região, no país e até ter um papel muito importante ao nível europeu para dar voz às pequenas ilhas que são tão peculiares no território e que podem ter um papel muito importante na transição para a sustentabilidade e para o ambiente. Espero que este seja o começo de uma longa colaboração», rematou.

Marta Ferretini.

Comité multidisciplinar

O Comité Insular da Ilha da Culatra é comporto por: Agência Portuguesa do Ambiente (APA); Águas do Algarve SA; Algar – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos SA; Areal – Agência Regional de Energia e Ambiente do Algarve; Associação de Moradores da Ilha da Culatra (AMIC); Associação Nossa Senhora dos Navegantes; Câmara Municipal de Faro; Clube União Culaterense; Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve; Docapesca – Portos e Lotas; FAGAR – Faro, Gestão de águas e resíduos; Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF); Make it Better (BiM); SMILO; União de Freguesias de Faro (Sé e São Pedro) e Universidade do Algarve.