Cinemalua é um projeto que pretende mostrar os bons filmes de sempre, debaixo do céu estrelado em todo o Algarve.
«A minha ideia era um cinema itinerante, fazê-lo chegar onde não existe, aos montes e às aldeias. Matutei no assunto e, certa noite, lembrei-me da opção de um reboque que pudesse servir de cockpit de projeção. A partir daí, nasceu tudo», começa por explicar Nuno Pinto Cardoso, residente em Tavira, que em março inaugurou o Cinema Lua.
«Eu não inventei nada, mas centralizar tudo num reboque, que serve de centro de comando, não conheço em mais lado nenhum. A conjugação de vários meios, com estes moldes e este conceito de projeção, não creio que exista em mais parte alguma», refere.
Na verdade, para materializar a projeção ambulante, Nuno Cardoso rumou até Espanha onde adquiriu o atrelado. Os outros materiais, como a mesa de mistura, os projetores, o ecrã insuflável de grandes dimensões e as colunas provêm da Alemanha. «Deu algum trabalho a compatibilizar todo o equipamento, mas tenho tudo para projetar filmes em qualquer lugar».
O passo seguinte foi contactar as autarquias e as juntas de freguesia do Sotavento, para sondar o interesse. Obteve respostas positivas por parte das Câmaras Municipais de Tavira e de Alcoutim. E portanto, surge assim o primeiro programa do Cinema Lua, os «Bons Filmes de Sempre».
O objetivo é o de dar a conhecer ao público de alguns dos lugares onde a desertificação e o isolamento mais se fazem sentir, «a evolução e a história do cinema, mas sem darem por isso. Selecionei mais de 100 longas-metragens marcantes de várias épocas da sétima arte. Claro, que depois fui reduzindo a lista», conta ao «barlavento».

Nuno Pinto Cardoso.
A programação está a decorrer até outubro, contabilizando um total de 25 projeções naqueles concelhos. O arranque foi na Casa do Povo de Santa Catarina da Fonte do Bispo, a 23 de março, com o clássico «O Garoto de Charlot» de Charlie Chaplin. «Não houve uma enorme adesão porque é um projeto novo e a divulgação não foi feita atempadamente», admite, embora, a intenção é criar hábitos às terceiras quartas-feiras do mês, e em Alcoutim, nas segundas quartas-feiras do mês.
Já a Freguesia de Tavira – Santa Maria e Santiago, terá cinema duas vezes por mês, «na primeira e na última quarta-feira». Fora da programação estão ainda previstas projeções no Castelo de Tavira, na Atalaia e no Mato de Santo Espírito. Mais para o interior, o Vale da Murta, a Portela da Coxa, a Picota e a Fonte Salgada terão a oportunidade de assistir ao filme português, «A Gaiola Dourada».

Arquiteto de formação, mas aficionado do cinema, Nuno Cardoso considera que este projeto marca a diferença de inúmeras maneiras. «O facto de ser ao ar livre, com as estrelas por cima do público, torna cada exibição num momento agradável e inesquecível. Além disso, tenho versatilidade total. Estamos a falar de um simples reboque que pode ser transportado para qualquer lado, e o ecrã pode ser insuflado até em cima de água», sugere.
É com esta linha de pensamento que o arquiteto pretende expandir o Cinema Lua.
«Não quero fazer disto uma empresa, porque não é isso que me move. A partir de outubro, tenho outras ideias em mente», diz, embora não revele em concreto o que pretende fazer.
Nuno Pinto Cardoso revela apenas que já há contactos feitos com o Centro de Ciência Viva de Tavira, onde existe a possibilidade de serem projetados filmes de educação ambiental. A hipótese de se deslocar a escolas ou a festivais, um pouco por todo o Algarve, também não está descartada.
«O que vier a acontecer ditará o futuro do Cinema Lua. Não quero que este projeto cresça ao nível de fazer projeções diárias, contudo, não fecho portas a nada, até porque este sistema permite audiências de mais de 300 pessoas, e, se necessário, adapta-se a públicos ainda maiores».
Para já, afirma que está satisfeito com a qualidade do sistema que criou e com a reação das pessoas. Quando, no final de cada filme, batem palmas, «arrepio-me. Só esse entusiasmo já é gratificação suficiente», conclui.
Para o futuro, a única certeza em cima da mesa é continuar com o programa «Bons Filmes de Sempre», o qual «não excluo estendê-lo a outras zonas do Algarve, ou mesmo do país. Tenho a certeza que este projeto tem muito futuro. Os céticos são os que ainda não vivenciaram a experiência», brinca.
Quanto a parcerias e financiamentos, o arquiteto cinéfilo contactou o Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA). «Ficaram interessados e contactaram-me para me candidatar a um financiamento. Apesar de não ter sido aprovado, vou tentar uma segunda vez».
Outro dos desafios com que se depara é o contacto com as distribuidoras, no que toca às licenças de projeção de filmes. «Para cada filme que quero mostrar, levo semanas a descobrir quem possui os direitos. Quando consigo falar com as distribuidoras demoro mais uns dias a conseguir obter a licença para os poder transmitir. É uma questão que complica muito esta atividade».
O programa completo das próximas exibições pode ser consultado aqui.
Autarcas felicitam a ideia
Ouvido pelo barlavento, Jorge Botelho, presidente da Câmara de Tavira afirma que o Cinema Lua é um projeto de «muitíssimo interesse para o concelho», uma vez que se foca na «cultura cinéfila, mas acima de tudo na descentralização» da oferta. Ainda segundo o edil, a autarquia apoia o projeto desde o primeiro momento e «seguramente terá bons resultados», antevê.
Já Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Alcoutim refere que o projeto é «mais uma oferta que proporcionamos aos nossos munícipes, que marca a diferença na já habitual agenda cultural de eventos».
Para o autarca alcoutejano, a Câmara aceitou a proposta para diversificar a oferta cultural no concelho. «Depois de ouvir os técnicos que têm acompanhado as sessões, posso dizer que a adesão tem sido significativa. As pessoas gostam, logo eu também gosto», finaliza Osvaldo Gonçalves.
Fotos: Nuno de Santos Loureiro.