CHA apresenta resultados positivos das intervenções com cães

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A Unidade de Faro do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) iniciou em abril um projeto pioneiro em Portugal na área da neuropediatria com recurso a terapias que envolvem a participação de cães com treino especial. O projeto «Uma pegada na reabilitação pediátrica» centra-se na neuroreabilitação assistida pela cadela labradora Sueca, atualmente fase de teste.

Três meses após o seu início, a 6 de julho, realizou-se no auditório do Hospital, uma sessão de «apresentação dos resultados intermédios» dirigida aos profissionais de saúde porque «passados três meses já se viam resultados notórios e muito claros. Decidimos por isso, apresentar novas propostas de projeto», refere Daiana Ferreira, responsável pela associação KOKUA, entidade que desenvolve o projeto-piloto em colaboração com o CHUA.

«Após a elaboração e adaptação do projeto e aprovação administrativa, desenvolveram-se as primeiras ações individuais e procedeu-se à análise e avaliação dos resultados e impacto do projeto nos casos individuais, famílias e profissionais».

Foram apresentados os resultados da intervenção nos três meninos que apresentam atrasos global do desenvolvimento nas áreas cognitiva, da linguagem e desenvolvimento psicomotor com microcefalia, e que estão a ser acompanhadas por técnicas de terapia ocupacional e da fala. Em todos os casos, a presença da cadela Sueca permitiu «despertar mais interesse e concentração nas atividades, criar uma sensação de maior confiança e segurança e aumentar a comunicação não-verbal e verbal», explica Daiana Ferreira. «Todas as crianças estão agora mais perto de atingirem o desenvolvimento normativo expectável para as suas idades», assegura.

O caso com os melhores e mais impressionantes resultados é o de uma bebé de 15 meses com a qual alcançaram «regulação comportamental de choro e birra». A equipa conseguiu que mantivesse «contacto visual com o cão, embora ainda demonstre dificuldade em manter-se focada nos adultos», e em paralelo, um «impacto importante na motivação e confiança dos pais durante a terapia».

«O entusiasmo renovado quer por parte pais, quer dos terapeutas, muitas vezes frustrados, durante as terapias foi notório», referiu Conceição Silva, Terapeuta Ocupacional. «Agora reparo que durante toda a sessão, tenho permanentemente um sorriso nos lábios enquanto interajo com as crianças com a ajuda da Sueca», confidencia.

Foram ainda elaborados inquéritos direcionados aos profissionais de saúde que interagem com o animal nas sessões, bem como aos pais das crianças, nos quais todas as famílias classificaram a «qualidade» das mesmas com o mais alto nível. «Consideraram muito importante a implementação e continuação deste programa». Também as terapeutas avaliaram que «as expetativas foram excedidas» e que «esperam poder continuar a contar com o apoio das intervenções assistidas por animais», pois são uma «inestimável mais-valia».

Ao que o «barlavento» apurou este projeto-piloto tem gerado bastante curiosidade por parte dos profissionais de saúde no CHA. A KOKUA é a única entidade portuguesa reconhecida pela AAII (Animal Assisted Interventions International).

Projetos para o futuro no contexto hospitalar
Após apresentação dos resultados, surgem agora propostas para o futuro. Além da continuação do projeto, ainda o possível alargamento a um novo grupo de meninos portadores de trissomia 21, assim como o lançamento de uma investigação científica que interprete o impacto concreto destas sessões quer nas famílias, quer nos profissionais de saúde.
«Gostaríamos de avançar com uma investigação onde se possa fundamentar de forma científica e concreta a presença de um cão nas nossas sessões através de análises ao nível de stress a partir de medidas fisiológicas na criança, nos pais e no terapeuta», explicou Daiana Ferreira, lançando o repto a potenciais investigadores interessados em integrar esta experiência. «Esta análise é fundamental pois sendo este um projeto pioneiro, dados como estes, nunca antes foram analisados e libertados junto do público e da comunidade científica no nosso país».

KOKUA avança com biodeteção de doenças
A associação KOKUA responsável pelas Intervenções Assistidas por Animais no CHUA está neste momento a avançar com um novo programa que pretende «comprovar e reforçar a evidência científica sobre a capacidade do cão em identificar doenças orgânicas através do olfacto». Isto é, utilização do cão no reconhecimento de doenças como «amostras de cancro ou hipoglicemias» refere o responsável do programa, Marco Serrão, farmacêutico, treinador de cães de assistência e guia de cães detetores. O treino de cães de assistência, especificamente de alerta médica, pretende antecipar e alertar crises, em pessoas portadoras de patologias associadas a doenças onde ocorrer alterações orgânicas, como ocorre na Diabetes tipo 1.