Centro de Ciência Viva do Algarve, em Faro, fez 23 anos e abriu novas exposições para celebrar a efeméride. Há mais de 10 anos que o primeiro equipamento científico
do género em Portugal não renovava o espaço expositivo.
Saber quantas calorias cada refeição tem através de um robô, escolher o que assistir na televisão enquanto se pedala sentado num sofá, pensar de forma inteligente na alimentação e contabilizar quilojoules [unidade usada para medir energia mecânica ou térmica] enquanto se salta à corda, são algumas das novas experiências que o Centro de Ciência Viva do Algarve (CCVAlg), em Faro, tem para oferecer a todos os visitantes.
Trata-se da exposição «Saber+, Comer bem, Andar melhor», inaugurada na segunda-feira, dia 3 de agosto, durante as comemorações do 23º aniversário do Centro.
«É cheia de cores e movimento e pretende alertar para os hábitos saudáveis ligados à alimentação e ao desporto. Ligamos isso às várias energias do dia a dia e à energia do planeta Terra, para relembrar que também ele se move. É uma mostra mais dinâmica, energética e não perde o seu lado lúdico com atividades vocacionadas para os mais novos. Todo o design e o marketing foram criados pela Agência Nacional de Ciência e Tecnologia», explicou Cristina Veiga-Pires, diretora do CCVAlg, ao barlavento.
Noutro espaço surge agora «Da Ria à Rua», uma exposição que aproxima o público aos segredos da Ria Formosa e qual a importância do conhecimento na conservação e sustentabilidade deste sistema lagunar.
Além disso, antes mesmo do laboratório, encontram-se também novos módulos, relacionados com o ecossistema que envolve o espaço do CCVAlg, criados pela Universidade do Algarve (UAlg) e destinados, segundo a diretora, «talvez a um público não tão jovem por se tratar de uma exposição muito identitária que responde a diversas perguntas».
Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, esteve presente e ressalvou a importância da nova mostra.
«Este é um dos equipamentos culturais e educativos que para nós é uma mais-valia porque dá a conhecer a Ria Formosa, que tem um valor incalculável, não só ambiental, mas também em termos sociais e económicos. Numa altura em que estamos a passar uma crise, ainda mais importância tem. Muitas famílias que vivem e dependem desses 70 quilómetros. É preciso preservá-la em todos os ângulos. Se tivermos o conhecimento, vamos ter muito mais cuidado a tratar e a usufruir dela», disse o autarca farense.
Ainda para breve está também marcada a inauguração de uma cozinha, que será instalada ao lado do laboratório.
«A ideia é montar um espaço conjunto porque na realidade usamos a mesma ciência de processos químicos, misturas e transformação de matérias. Será um espaço para atividades nossas, para o público e para algumas experiências dos alunos da UAlg», referiu a diretora.
O 23º aniversário teve um ânimo diferente do passado ano, no qual a responsável do CCVAlg admitiu que se sentia pouco acarinhada pelo município de Faro.
Veiga-Pires, contudo, reconhece que «a mensagem foi passada. Os associados estão conscientes que este espaço tem muito potencial e é preciso dinamizá-lo. Algumas obras foram feitas, não de raiz, mas importantes e à medida do orçamento. No ano passado queixei-me da falta de carinho. Este ano, contamos com a presença do executivo municipal e isso faz toda a diferença para o ânimo da equipa e da direção. É importante sentirmos que há apoio».
«Tenho esperança que se considere o CCVAlg como um equipamento de cultura científica, que faça parte do que a cidade tem a propor como equipamento cultural», acrescentou.
Uma ambição que Veiga-Pires, que assume o papel de diretora desde janeiro de 2015, espera aconteça por muitos anos.
«Falta continuar a investir, mas espero conseguir continuar este caminho e encontrar vias de financiamento diferentes. Gostava que daqui a 23 anos este Centro fosse passagem obrigatória para os milhares de turistas» que visitam Faro e o Algarve.
A quem quiser visitar o CCVAlg, mas está receoso devido à pandemia da COVID-19, a responsável explica que «da-mos luvas à entrada, temos vários dispositivos de desinfeção disponíveis e os módulos que implicam a cara ou os olhos estarem perto de equipamentos estão desativados. Temos visitas guiadas em direto online e recebemos o selo Clean & Safe» do Turismo de Portugal. Como só estão permitidas 15 pessoas de cada vez, é aconselhada a marcação prévia.
«Depois do verão, o buraco financeiro será grande»
O Centro de Ciência Viva do Algarve (CCVAlg) nasceu em 1997, em Faro, tornando-se o primeiro do país. Com o novo Coronavírus, a falta de turistas na região e o limite de 15 pessoas em cada visita, as perspetivas financeiras futuras não são as mais positivas. De acordo com Cristina Veiga-Pires, diretora do espaço, «os meses de julho e agosto são os meses onde temos o maior número de visitantes. É neste curto espaço de tempo que conseguimos a maior parte de nosso financiamento» de bilheteira.
«Este ano, não conseguimos encher as 15 pessoas nos turnos de uma hora e meia e por aí vemos logo que teremos dificuldades a curto prazo. Depois do verão o buraco financeiro vai ser grande», previu.
Além disso, quando se iniciar o período escolar, momento em que várias turmas visitavam o CCVAlg, a dinâmica terá de ser alterada.
«Não conseguimos ter grupos grandes. Ou teremos de os dividir, o que torna a logística mais complicada, ou então talvez tenhamos de encontrar parcerias com outros equipamentos perto do CCVAlg, de forma a permitir que uma parte das pessoas estejam na exposição, enquanto outras realizam outra atividade no exterior».
Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, que esteve presente nas comemorações do 23º aniversário, deixou uma mensagem à direção: «espero que rapidamente possamos voltar a uma normalidade para que também o CCVAlg volte ao normal, uma vez que hoje tem um conjunto de restrições complicadas. Não é possível trazer uma turma completa para visitar. Até nisso, todos nós saímos prejudicados».
Parceria com a Universidade do Algarve é para continuar
Saúl Neves de Jesus, vice-Reitor da Universidade do Algarve (UAlg) esteve também presente na celebração dos 23 anos do Centro de Ciência Viva do Algarve (CCVAlg), em Faro.
Ao barlavento, destacou a importância dos espaços reestruturados.
«Revela a perspetiva inovadora e criativa do Centro, muito vocacionada para as questões do bem-estar e da saúde física. Esta nova exposição tem a ver com a relação entre ciência, juventude e prática desportiva, que são aspetos essenciais nos dias que correm. A vitalidade e a saúde física são fundamentais para tornar as pessoas mais resilientes e menos vulneráveis», explicou.
Em relação à parceria entre ambas as instituições, o vice-Reitor da UAlg foi claro.
«A ligação é forte desde há muito tempo. É com grande orgulho que estamos sempre presentes e colaboramos. Alguns trabalhos foram da responsabilidade de colegas dos centros de investigação da Universidade do Algarve e o CCVAlg é nosso parceiro em diversas projetos como a revista Algoritmo e o prémio Ciência a Sul. Há uma colaboração a vários níveis, desde o início, que se tem vindo a aprofundar. É uma parceria feliz, e queremos continuar a promovê-la cada vez mais».