Castro Marim acolhe a 73ª Copa do Mundo de Acordeão em outubro

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Competição mais antiga e que reúne a elite de 50 países será um evento para todo o Algarve. 73ª Copa do Mundo de Acordeão está marcada para o início de outubro.

Tudo começou há cerca de quatro anos, quando uma delegação da Mito Algarvio – Associação de Acordeonistas do Algarve se deslocou à Finlândia e formalizou a sua intenção junto da Confederação Internacional de Acordeonistas (CIA) e se candidatou a acolher a 73ª Copa do Mundo de Acordeão. A candidatura algarvia foi depois publicamente apresentada na China, em agosto de 2019, durante a 72ª Copa do Mundo de Acordeão.

Caso fosse aceite, seria a segunda vez na história que a mais importante competição mundial dedicada a este instrumento viria a Portugal, depois de Castelo Branco ter acolhido a 58ª edição do evento, em 2005.

A verdade é que a candidatura foi bem recebida pela Confédération Internationale des Accordéonistes, uma organização não governamental que desde 1975 integra o International Music Council (IMC) e é parceira oficial da UNESCO para o acordeão.

Assim, as duas entidades, CIA e Mito Algarvio, apontam agora para o mês de outubro, entre os dias 5 e 11.

A Câmara Municipal de Castro Marim, presidida por Francisco Amaral, um reconhecido entusiasta do acordeão, apoiou a candidatura da Mito Algarvio desde o início e irá em breve adaptar parte das suas instalações municipais para assegurar que o evento possa ser bem acolhido no concelho. E, segundo o barlavento apurou, os preparativos já estão em marcha.

Na semana passada, entre quinta-feira e domingo, dias 30 de janeiro e 2 de fevereiro, respetivamente, o italiano Mirco Patarini, presidente do Comité Executivo da CIA, esteve no Algarve numa viagem de trabalho.

João Pereira e Mirco Patarini na sede da Mito Algarvio.

Uma agenda que incluiu reuniões com João Pereira, presidente da Direção da Mito Algarvio e que durante este ano desempenha também as funções de vice-presidente honorário da confederação, e com o executivo municipal de Castro Marim.

A visita permitiu à Associação de Acordeonistas do Algarve avançar com a apresentação do cartaz do evento, desenhado pelo artista plástico Carlos Luz, um dos membros do quarteto Mato Bravo.

A passagem de Mirco Patarini pela região, que coincidiu também com as comemorações do 8º aniversário da Mito Algarvio, teve início com uma receção na Câmara Municipal de Castro Marim, a que se seguiram visitas à Biblioteca Municipal, à Casa do Sal e à sede da Mito Algarvio, na quinta-feira.

Filomena Sintra, vice-presidente da autarquia e vereadora com o pelouro da cultura, afirmou que «os castromarinenses, os algarvios e os portugueses vão ter, em breve, a perceção da dimensão deste evento. Nós, Câmara Municipal, e a Mito Algarvio vamos assegurar todas as condições necessárias para que esta organização seja uma das melhores de sempre, e vamos ficar grandiosamente felizes por ter uma Copa Mundial de Acordeão no Algarve».

«Este evento não é só de Castro Marim», reforçou a autarca. «Tem de ser do Algarve e do país. Por isso, este momento não é o do lançamento oficial da Copa Mundial, é apenas de trabalho e de apresentação e boas-vindas ao presidente da CIA», disse.

«O lançamento oficial será aqui, ou em Faro, ou onde quer que seja na região algarvia, para que possa ter a dimensão própria de um grande evento. O acordeão para a região é como o fado para o país e a cultura musical dos algarvios passa sempre pelo corridinho», afirmou.

Dirigindo-se diretamente a Mirco Patarini, Filomena Sintra deixou uma garantia. «A música e o acordeão fazem parte da nossa identidade, como também fazem o sal, o sol e a praia. Queremos marcar a vossa passagem por Castro Marim e pelo Algarve através dos vossos cinco sentidos. As viagens são feitas com sentidos e emoções, e queremos marcar-vos com tudo isto. A música é sempre um elemento que nos distingue dos outros e que marca qualquer visitante».

João Pereira, Filomena Sintra e Mirco Patarini.

Por último, a vice-presidente revelou que a primeira vez que a fadista Mariza cantou acompanhada por um acordeonista foi em Castro Marim, após um repto lançado por aquele concelho algarvio.

«A Mariza despertou aqui para a musicalidade do acordeão e hoje o João Frade acompanha-a nos seus concertos». Filomena Sintra concluiu saudando «a Mito Algarvio, por ter tido a ousadia de apresentar a candidatura, e a Confédération Internationale des Accordéonistes, por a ter aceite».

A Copa do Mundo segundo Mirco Patarini

Foi na sede da Mito Algarvio, em Altura, que o barlavento teve a oportunidade de entrevistar Mirco Patarini e João Pereira. O presidente da Confédération Internationale des Accordéonistes (CIA) fez uma breve apresentação da organização e da própria Coupe Mondiale.

«A CIA nasceu em 1935 e é a mais antiga associação internacional de organizações de acordeonistas europeus. O seu primeiro objetivo foi o de promover momentos regulares de encontro entre músicos, e também entre professores, compositores e industriais. No inverno organizamos um congresso e no verão uma competição mundial», explicou.

«Esses eventos acontecem sempre em países diferentes. A Copa Mundial começou em 1938. Em 2019 foi na China, em 2020 será em Portugal, e depois será na Alemanha (2021), Suíça (2022), Itália (2023) e Rússia (2024). Em Castro Marim esperamos receber cerca de 50 delegações nacionais para a competição, vindas de países tão longínquos como a Nova Zelândia, a China, a Coreia, o Brasil ou o Peru, e cerca de 120 candidatos, no total», avançou Mirco Patarini.

João Pereira esclareceu que não há um número muito rígido em relação à presença de participantes de cada país, nem em relação ao total de músicos presentes em cada edição.

João Pereira e Mirco Patarini cortam o bolo do 8º aniversário da Mito Algarvio.

«A qualidade é o fator de seleção mais importante. Só os que são mesmo muito bons é que podem participar numa Copa Mundial da CIA». No fundo, trata-se de uma competição entre seleções nacionais.

Mirco Patarini, que é o 12º presidente de toda a história da CIA, explicou que «é a confederação que organiza tudo o que está relacionado com a Copa Mundial. À Mito Algarvio e aos seus parceiros, como é o caso da Câmara Municipal de Castro Marim, caberá a organização da parte logística e também do programa social, no qual se espera que o acordeão algarvio esteja em grande destaque».

O presidente da CIA frisou a oportunidade única para mostrar a identidade regional a um público vindo de todo o mundo e que está muito receptivo e interessado em conhecer a forma como se toca o acordeão na região e no país, nas suas várias vertentes e estilos, desde a popular à mais erudita.

Nelson Conceição na Sociedade Recreativa Bordeirense.

«Virão instrumentistas e professores de alto nível, e que estão sempre a procurar ideias novas, diferentes e cativantes. Todos eles, quando chegarem ao Algarve, vão querer conhecer o que há aqui, não vão querer ouvir apenas compositores clássicos, sejam eles italianos, russos ou de outras nacionalidades. Querem os algarvios, os portugueses!», garantiu.

Patarini mencionou até dois acordeonistas portugueses prestigiados internacionalmente.

João Frade, que venceu em 2002 na Dinamarca, na categoria de Virtuoso Entertainment Music, e João Barradas, que venceu em 2010 na Croácia, na categoria de Junior Classical Music.

Mencionou também outros instrumentistas nacionais como Paulo Jorge Ferreira, Aníbal Freire, Nelson Conceição e João Campos Palma, que em 2018 venceu na Lituânia, na categoria de Junior Virtuoso Entertainment Music.

No dias de hoje, a Copa Mundial tem sete categorias principais. «É um concurso apenas para alunos de alto nível, previamente escolhidos nos seus países de origem. Antes de participarem, os candidatos submetem-se a exigentes concursos nacionais de apuramento», frisou o italiano.

O próximo passo internacional de apresentação da Copa do Mundo, segundo João Pereira, «será em Praga, na República Checa, no final de fevereiro, durante o próximo congresso de inverno da CIA. Nessa data vamos já divulgar todos os detalhes logísticos, para que as diversas delegações nacionais possam começar a preparar todos os detalhes da viagem a Castro Marim. Vai ser um grande desafio para a Mito Algarvio e para o Algarve!», admitiu.

David Mendes no VIII Festival Internacional do Acordeão.

«Mas estou confiante de que vamos estar unidos e à altura das grandes exigências que esta competição mundial implica. Este é um evento regional e queremos que chegue a todo o país e até à vizinha Andaluzia, e além da parte competitiva queremos mostrar o que de melhor se faz entre nós. Os grandes valores portugueses e, sobretudo, os algarvios, vão ter oportunidade de se mostrarem ao mundo».

A provas de seleção para os candidatos portugueses deverão decorrer no final de maio e início de junho, e terão lugar não só no Algarve mas também nas regiões centro e norte.

«Temos recebido contactos, por exemplo, de Coimbra e do Porto, e estamos a ponderar organizá-las em municípios que facilitem a participação dos interessados», disse.

Além da sessão de boas-vindas em Castro Marim, e da visita às instalações municipais, Mirco Patarini assistiu, no sábado à noite, na Sociedade Recreativa Bordeirense, em Faro, ao concerto onde atuaram o moldavo Iurie Chiforisin e os algarvios João Frade e Nelson Conceição, e também no domingo à tarde, em Altura, ao VIII Festival Internacional do Acordeão, onde marcaram presença Petar Maric, Fábio Guerreiro, Rodrigo Veloso, David Mendes, Rodrigo Maurício, Tiago Conceição, Hugo Madeira, David Mendonça, Filipa Nascimento e Inês Sousa. Marco Patarini terminou assim a sua primeira visita de sempre ao Algarve, já com o regresso em vista.