Bemposta, uma escola diferente em Portimão ao serviço da artes

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Escola Básica e Secundária da Bemposta, em Portimão, é única no Algarve. Em paralelo ao ensino regular, oferece três cursos profissionais direcionados para as artes, nas áreas da música e do teatro. É frequentada por alunos de todo o Barlavento algarvio.

Há um certo preconceito em relação à educação profissional como uma saída para desalinhados. Não poderia ser mais falso e basta ver o trabalho de estabelecimentos como a Escola Básica e Secundária da Bemposta, em Portimão.

Em paralelo ao ensino regular, oferece três cursos profissionais direcionados para as artes, nas áreas da música e do teatro: curso profissional de instrumentista de cordas e de tecla (ligado à música erudita); curso profissional de instrumentista de jazz e curso profissional de arte de espetáculo e interpretação (ligado ao teatro).

Na área artística, há 125 alunos no curso integrado, do 5º ao 9º ano de escolaridade, e 50 no secundário. Na verdade, são cursos muito exigentes e que requerem muito trabalho e dedicação da parte dos alunos.

A realidade é que a maioria destes alunos sentia uma certa inspiração artística, alguns já tinham ligação ao mundo da música ou ao do teatro e pretendiam aprofundar esses conhecimentos. Alguns querem ir mais longe e em cursos superiores. Logo, ao terminar o 9º ano de escolaridade, inscreveram-se nesta escola, que lhes proporciona uma oportunidade.

Professores José Reis e Gonçalo Duarte.

Gonçalo Duarte, professor de guitarra, assumiu também, no corrente ano, a coordenação do Plano Nacional das Artes (iniciativa conjunta dos Ministérios da Educação e da Cultura) e a direção dos três cursos profissionais, dando assessoria à direção da escola. E disse-nos que «esta escola tem contribuído para a formação cultural, educacional e artística de jovens que seguiram, na sua maioria, para o ensino superior. Sem ela, teriam de recorrer a escolas privadas para poderem prosseguir na carreira artística que ambicionam».

Outro professor de guitarra, o portimonense José Reis, também já passou pela coordenação dos cursos, em anos anteriores. Logo, também tem um conhecimento profundo sobre o tema e diz que «a ideia de que os cursos profissionais são o caminho mais fácil é um paradigma contra o qual lutamos. Seja qual for o curso, implica muito trabalho até pela carga horária, que é extremamente grande. Qualquer aluno que entre nestes cursos sem qualquer tipo de conhecimentos, vai ter de trabalhar muitíssimo para conseguir dominar a matéria em três anos. É uma aprendizagem muito intensa, que obriga a estudar duas a três horas diárias. São necessários muita rotina e esforço».

As disciplinas comuns a todos os cursos são o português, inglês, área de integração e educação física.

Os alunos de teatro estudam dramaturgia, psicologia e história da cultura das artes. E também interpretação, movimento e voz.

Os estudantes de música têm física do som, teoria e análise musical e história da cultura das artes. Depois, de acordo com a área e o instrumento escolhidos, existem mais matérias, como música de câmara, naipe e orquestra ou instrumentos, combo, orquestra de jazz ou técnicas de improvisação de jazz.

E ainda pequenas experiências ao longo do triénio, para aquisição de determinadas técnicas do mundo profissional.

«Para sermos bons em algo, tem de haver muita dedicação», diz ao «barlavento» Gonçalo Duarte. «Não acredito muito em talento. As pessoas podem ter alguma aptidão para, mas o trabalho, a dedicação, o rigor, a metodologia e um bom professor marcam a diferença. A trilogia aluno/professor/encarregado de educação é fundamental», considera.

Quando alguém escolhe um curso, deverá ter sempre em mente qual o futuro que o mesmo lhe poderá proporcionar. Os alunos que seguem para o ensino superior acabam por enveredar pelo ensino como garante do ganha-pão, porque os músicos não têm trabalho certo. E os outros? Conseguem viver da música, ou têm outro emprego e a música será um part-time?

«Levam essa bagagem como qualquer outro aluno que conclui o secundário», disse-nos José Reis. «Não podemos esquecer que, hoje em dia, a escolaridade obrigatória é o 12º ano. E a obrigação de qualquer escola do ensino secundário é dar ao aluno o 12º ano. Depois, o que cada um faz com os conhecimentos que aqui adquiriu fica à mercê da sua ambição, dos seus sonhos e das suas capacidades».

«Tivemos alunos que, ao terminar o 12º ano, não tiveram o bichinho de seguir para um curso superior de música. Foram para outras áreas, nomeadamente gestão hoteleira, e pela sua formação artística conseguiram adquirir competências que outros agentes hoteleiros não conseguiram, o que os faz desempenhar essas funções com um tato muito mais apto para a região onde estamos inseridos. E conseguiram dinamizar as unidades onde estão, a trabalhar de outra forma, no campo da animação», compara Gonçalo Duarte.

«Não esquecer que, além dos cursos profissionais, temos o curso integrado, que vai até ao nono ano. Seguir música, às vezes, as famílias não encaram muito bem», acrescenta José Reis.

«Tive uma aluna a quem isso aconteceu, foi para uma componente geral fazer o secundário, um bocadinho mais infeliz. Mas com os conhecimentos que adquiriu ali e, depois, fora, está agora a estudar numa universidade em Inglaterra, num curso ligado à música. E está muito mais feliz. Às vezes, estas coisas não se manifestam no imediato, levam o seu tempo a crescer cá dentro. E é preciso convencer a família, também».

No entanto, há famílias que desejam que os filhos estudem música e tentam matriculá-los no ensino integrado. Sendo o número de alunos limitado, são feitas provas de admissão, nos finais de junho. Essa triagem, que engloba entrevistas com os encarregados de educação, tem como finalidade tentar que entrem nesses cursos crianças que venham a continuar na via profissional, porque serão alunos com uma base muito melhor estruturada.

Rita Dias e Frederica Acetosi.

Os alunos do ensino geral e do ensino artístico convivem em perfeita harmonia e os primeiros são o público nos espetáculos apresentados na escola pelos segundos. E há sempre uma partilha de experiências. «Há alunos do ensino geral que acabam por vir para o profissional, porque viram os colegas e também sentem vontade de tocar ou de representar», conta Gonçalo Duarte.

Segundo os professores que o «barlavento» entrevistou, a personalidade dos alunos das artes é mais vincada. É fácil perceber quem são os alunos do teatro e quais são os da música, na vivência do dia a dia.

Duas alunas do curso profissional de música, ambas com 16 anos, foram homenageadas, no passado dia 24 de setembro, pelo Rotary Clube da Praia da Rocha, pelo seu desempenho escolar.

Foram elas Federica Acetosi, no violino, e Rita Dias, na guitarra clássica. E porque foram selecionadas? «O ensino profissional é modular. Estas alunas têm todos os módulos feitos, com médias muito interessantes. São duas jovens a quem os professores reconhecem uma fantástica capacidade de trabalho», diz o professor. E não serão, certamente, casos únicos no futuro próximo.