Venda em hasta pública da antiga fábrica BELAOLHÃO teve lugar na tarde de quarta-feira, dia 26 de abril, por 9,5 milhões de euros a investidores britânicos.
À terceira é de vez e foi o que aconteceu com a hasta pública do imóvel da antiga fábrica de rações para animais de companhia BELAOLHÃO, na zona industrial da cidade, em frente ao porto de pesca, que foi adquirido por capitais do Reino Unido, na tarde de quarta-feira, 26 de abril. Foi o único proponente à compra.
Ouvido pelo barlavento, António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão, conta que «esperamos assim concluir aquele que foi um grande desafio que assumimos há cerca de cinco anos, quando decidimos comprar aquele espaço, transformá-lo e fazer ali um projeto-âncora para o desenvolvimento da zona nascente da cidade».
A oportunidade, recorda, «surge quando os anteriores proprietários, que tinham comprado o imóvel também em hasta pública, vieram pedir para que o município alterasse o uso daquele espaço. O que lhes dissemos foi nós não estávamos dispostos a alterar o uso do solo a passando as mais-valias diretamente para o privado. Foi aí que sugerimos e propusemos sermos nós a comprar-lhes o edifício, e posteriormente fazermos nós, município, o plano de pormenor, e alterar o uso industrial para uso turístico e habitacional, fazendo assim com que as mais-valias dessa transformação ficassem para a comunidade».
Um negócio que custou 4,5 milhões de euros aos cofres da autarquia foi, na altura, polémico e criticado pela oposição, embora, «sempre houve a intenção de vender. Aliás, esta é terceira hasta pública em três anos. Antes da pandemia já tinha havido um contacto por parte de outro investidor, na altura, também do Reino Unido, mas que não chegou a concretizar a apresentação da proposta. Entretanto não apareceu comprador porque o desafio é grande».
Segundo o caderno de encargos, ao qual o barlavento teve acesso, o lote inclui uma área de 4.000 metros quadrados (m²) de construção. Além de pagar o valor de mercado, o comprador fica com «a obrigatoriedade de construir um hotel de 4 ou 5 estrelas e de ceder ao município 250 lugares de estacionamento, em cave, os quais serão cedidos gratuitamente e sem termo ao município, termos que serão lavrados no alvará de autorização e objeto de contratualização registável».
O documento também estabelece um prazo para a conclusão do projeto imobiliário, que deverá estar pronto 96 meses após a assinatura da escritura, que de acordo com o autarca olhanense, será assinada até ao primeiro trimestre de 2024.
«Entendemos que aquele espaço, sobretudo no verão, tem de continuar a servir de escapatória à sobrecarga do estacionamento na cidade, e continuar a servir para quem vai visitar as ilhas» durante a época balnear.
«Consideramos que estes 250 lugares podem valer mais de 2 milhões de euros», estima o presidente da Câmara, sendo que os custos de construção, nos termos do concurso, ficam a cargo do promotor imobiliário.
Para já, a autarquia recebeu um cheque-caução de 500 mil euros, sinal que terá de dobrado nos próximos 30 dias.
António Miguel Pina diz que ainda é cedo para se conhecerem mais pormenores sobre o futuro operador no hotel, mas «nas conversas que tivemos, o que nos dizem é que pretendem fazer uma unidade de nível muito elevado, com insígnia de uma cadeia internacional, e também apartamentos de alta valorização».
Para já, «avança um investidor privado, mas tenho ideia que no futuro, trará outros parceiros. Estamos a falar de um investimento que rondará os 100 milhões de euros».
Uma ideia ambiciosa, visto que a localização fica frente porto de pesca e ao lado de uma movimentada zona industrial. «Sim, mas foi considerada boa para esse fim, porque os investidores acreditam no nosso projeto de desenvolvimento para esta parte da cidade. Hoje já não nos recordamos, mas quando foi criado o hotel junto à Ria Formosa (na Avenida 5 de outubro), havia ali uma antiga lixeira. Tudo aquilo era uma descontinuidade, um baldio, e não havia a marina que existe hoje. Mas o João Bernardino Gomes, à data, acreditou no desenvolvimento», compara.
«Estes investidores acreditam exatamente no mesmo, aliás, acreditam porque já está à vista a requalificação da Avenida 6 de Junho. Existem também já projetos de os vários antigos armazéns, alguns com licenciamento aprovado, e portanto, toda aquela zona vai ser requalificada. É intenção do município que a zona do porto contígua à avenida possa ter um uso privativo», acrescenta.
Dinheiro será para habitação e educação
Questionado sobre qual o destino para o encaixe financeiro positivo desta operação, que engrossará o orçamento municipal deste e do próximo ano, o autarca António Miguel Pina responde já ter um objetivo traçado, e quase metade destina-se «a projetos de habitação e para completar a rede de ensino pré-escolar e primeiro ciclo».
«Vamos construir um grande parque de estacionamento subterrâneo conjugado com o projeto de habitação com mais de 300 fogos a custos controlados no terreno da antiga litografia. Um dos pisos será privado, para dar resposta às novas habitações, e outro será de uso público» e também para servir os prédios vizinhos, mais antigos, que não dispõem de garagens.
Além disso, «aquele espaço fica onde será a saída do futuro metrobus e também é contíguo à linha de comboio. Acreditamos que para ajudar a promover a utilização dos transportes públicos, seja a atual linha de comboio, seja o metrobus, é preciso criar condições para que as pessoas estacionem o transporte individual e depois sigam num destes meios coletivos».
O edil estima que acrescentar 400 lugares, em cave, para uso público possam custar cerca de 5 milhões de euros ao município. «São obras estruturantes, custam dinheiro», justifica.
Em relação à rede de ensino pré-escolar e primeiro ciclo «falta fazer mais salas de aulas e reabilitar mais duas escolas» do concelho.