Artes contemporâneas fazem nova «PARAGEM» em Carvoeiro

  • Print Icon

Terceira edição do festival «PARAGEM, práticas artísticas contemporâneas em época balnear» volta a surpreender no formato e nos conteúdos, desta vez durante seis dias. Programa começa hoje.

É a terceira edição mas a premissa inicial do cariz itinerante mantêm-se. Um comboio turístico percorre Carvoeiro, mas não leva o público aos pontos de interesse turístico.

As paragens são locais não convencionais e inesperados. Podem ser, por exemplo, um campo de ténis do anos 1970, hoje inativo, mas que é o palco perfeito para uma instalação artística contemporânea.

O programa do festival «PARAGEM» decorre entre os dias 9, 10 e 11 e 16, 17 e 18 de setembro, e assentará, uma vez mais, nos cruzamentos multidisciplinares.

Disto desta forma parece complicado e há quem o diga à direção artística, Filipa Brito e Nelson Guerreiro, que no entanto tem uma outra visão e acreditam que um destino turístico como Carvoeiro pode ser palco para uma oferta que, por norma, fica circunscrita a Lisboa ou Porto.

«Desafiámos artistas de várias áreas a fazerem férias no Algarve com trabalhos sobre essa experiência real ou imaginada, um caleidoscópio de paisagens-imagens e sensações. Claro que estamos a trabalhar numa época contrária ao trabalho, à produtividade. Mas isso também pode ser um trampolim para a criação artística. É um desafio, estar aqui a contribuir para uma oferta que contraria esta ideia que o Algarve costeiro é sol, praia, marisco e sunset parties. É, pode e deve ser mais do que isso», diz Nelson Guerreiro, investigador, performer, programador cultural e nome ligado à criação contemporânea nacional.

Filipa Brito e Nelson Guerreiro.

«Claro, embatemos aqui de forma frontal, ou nas costas, ou de forma enviesada, com esta programação. Mas quando ouço dizer: ah, isto não é para aqui! Bem, isso é precisamente o mote e a força que nos motiva a continuar», acrescenta.

«O objetivo deste festival é que as pessoas locais, nacionais, estrangeiras ou sazonais, de passagem, que não têm hábitos culturais enraizados de contacto com a arte contemporânea, percebam que isso não é um fantasma que apresenta propostas de total incompreensão», esclarece.

A ideia surge também pela mão de Filipa Brito, nascida em Portimão e criada em Carvoeiro. Formou-se em cenografia e figurinos no Chapitô em Lisboa e mais estudou na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Caldas da Rainha.

É a presidente e fundadora da Bóia, um coletivo sem fins lucrativos que tem por objetivo incentivar a investigação e experimentação artísticas e difusão das artes contemporâneas no concelho de Lagoa, e que dá vida a este festival.

Este ano, ao longo dos seis dias, a programação varia. «Vamos também trabalhar em quartos de hotel com teatro íntimo, tal como aconteceu na primeira edição», revela Filipa Brito.

«E continuar a explorar os estabelecimentos hoteleiros e outros espaços que são icónicos do concelho de Lagoa», como o passadiço à beira-mar ou o promontório de Algar Seco.

Von Calhau!

E quais os pontos fortes? Responde Nelson Guerreiro: «este ano convidámos um artista olfativo para fazer um perfume com os cheiros do Algarve no período de férias de verão, para tentar responder, a este imaginário coletivo que temos das férias na região e fazer uma obra nova, tal como se fosse um artista plástico ou um artista performativo».

O perfume chamar-se-á «Colónia de Férias» e ficará disponível ao público durante festival. Outra sugestão «é uma colaboração que achamos que é uma epifania, que é a junção entre a artista Tânia Carvalho e os Von Calhau!», dupla surgida no Porto em 2006, formada por Marta Ângela e João Alves que tem vindo a desenvolver um fértil trabalho de colaboração nas áreas da música e das artes visuais, com múltiplas ramificações e cruzamentos vários, que se vai manifestando em concertos e performances, na edição de discos, na realização de filmes e vídeos, numa profusa produção de desenhos e obra gráfica, ou em publicações.

«Não são iguais, não são parecidos, mas tocam-se» no seu universo estético. «Conseguimos criar condições para que esse trio possa fazer obra com tempo e com estrutura» durante o festival. Será no Farol de Alfanzina.

Por sua vez, Filipa Brito destaca o lançamento do podcast «Onde Estamos?» no sábado, dia 11 de setembro, às 18 horas, no Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação. É um trabalho que junta a artista plástica, performer e professora Susana Mendes Silva com alunas do Agrupamento de Escolas Padre António Martins de Oliveira (ESPAMOL).

Houve um workshop prévio com a colaboração da professora Francisca Marinheira e este será o resultado final.

Electro-Domésticas.

«Interessa-nos ter este tipo de iniciativas no programa porque dá aos jovens a oportunidade de pensarem, idealizarem, projetarem e apresentarem um projeto concluído», diz.

«É por isso que temos o laboratório de afinação do gosto e dos olhares sobre as artes, que envolve as escolas. Queremos criar uma massa crítica para aquilo que estamos a fazer no Algarve», e quem sabe, lançar uma semente para o futuro, tal como a própria é exemplo.

Por fim, Filipa Brito sublinha a colaboração com a irmã Maria Inês Brito, na área da fotografia, com quem forma a dupla «UMA».

«Vamos montar um outdoor junto às Piscinas Municipais de Lagoa. Chama-se Uma noite de verão que tem a ver com as nossa memórias de infância, nos anos 1980, que conseguimos recriar» e que mesmo numa versão contemporânea, deverá despertar nostalgia e outras emoções.

Questionado sobre a ambição de Faro vir a ser Capital Europeia da Cultura em 2027, num processo que está a ser bastante competitivo, Nelson Guerreiro acredita que é possível. «Sentimos que a candidatura é inclusiva do ponto de vista regional. Percebe-se que há um entendimento por parte da coordenação da candidatura que não se pode fechar nos limites de Faro. É a região que está em causa».

Em relação à Boia, fundada em novembro de 2018, Filipa Brito diz que «ideias não nos faltam. Queremos fazer um projeto que se chama Banda Larga e tem por objetivo trabalhar com todas as bandas filarmónicas algarvias e convidar pessoas desde Djs, a músicos de rock e compositores de música erudita».

Por fim, uma última questão. Mesmo sem contar com os constrangimentos recentes da pandemia de COVID- 19, e apesar do projeto invulgar a que se propuseram, os organizadores afirmam a lição: «aprendemos, mais do que tudo, que é possível realizar um festival deste tipo em Lagoa».

«É quase um projeto de vida. Queremos consolidar uma plataforma para difundir a arte e o pensamento contemporâneo e a combinação de áreas como a música, o teatro, a dança e a arte da Performance, mas também nos campos das artes visuais, literatura e outras áreas da criatividade, apostando numa combinação de artistas consagrados e de jovens criadores portugueses e internacionais. Interessa-nos também reinterpretar o património material e imaterial, com ligação ao passado, a pensar no presente e no futuro», conclui Nelson Guerreiro.

Em relação à política de bilheteira, todos os espetáculos são de acesso gratuito, à exceção dos dias em que é necessário viajar no comboio turístico. Nesse caso, o bilhete custa cinco euros e dá direito a uma surpresa.

PROGRAMAÇÃO

Dia 9 de setembro de 2021 (quinta-feira)
«Noite de Praia, 1984» (Fotografia)
de UMA (dupla artística composta por Filipa Brito & Maria Inês Brito)
Local: Fachada da Piscina Municipal de Lagoa
17h00
Ponto de Encontro
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Carvoeiro)
17h10
«Partilha Elástica» (Performance)
de Júlia Salem & Elizabete Francisca
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Carvoeiro)
17h30
«Discurso de Circunstância» (Retórica & Performance)
de Nelson Guerreiro
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Carvoeiro)
18h30
Lança Perfume
«Colónia de Férias» (Arte Olfactiva)
Lançamento de um perfume de Miguel Matos
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Carvoeiro)
19h00
«As Argilosas» (Performance)
de Electro-Domésticas (dupla composta por Filipa Brito & Lara Morais)
Local: Passadiço da Praia do Carvoeiro
19h15
Instalação-Performance
1. Modelo #1 (2010)
2. Marcador (2014)
3. Sem Título (2014)
4. Sem Título (2021)
de João Ferro Martins
Local: Passadiço da Praia do Carvoeiro
19h30
«Tableau-Vivant» (Performance)
de Vânia Rovisco
Local: Passadiço da Praia do Carvoeiro
19h45
«A besta, as luas» (Performance)
de Elisabete Francisca
Local: Algar Seco
Dia 10 de setembro de 2021 (sexta-feira)
14h00 – 17h00
«Love Boat» (Residência Artística de Criação do espectáculo «Esa cosa llamada Amor – 10 anos)
Plataforma 285 (Cecília Henriques & Raimundo Cosme)
Local: Monte Santo Resort
16h00
«Blind Dance» (Dança)
de Ana Trincão com Elizabete Francisca, Andresa Soares & Júlia Salem (Colectivo APNEIA)
Local: Algures na Praia do Carvoeiro
17h00
Comboio-Mistério
(um passeio de comboio com paragens inesperadas e algumas surpresas)
Ponto de encontro: Largo da Praia do Carvoeiro
17h30
1ª paragem
«On est ici, on est ici, pas partout! – Conferência Inevitável» (Performance)
de Sara Vaz & Marco Balesteros
com Janine Price, Bernardo Reis, Josephine Winkler, Leyre León, Sara Vaz & Marco Balesteros
Local: Court de Ténis do Carvoeiro Hotel
18h30
2ª paragem
«Trapézio» (Performance)
de Elizabete Francisca, Vânia Rovisco, Andresa Soares, Ana Trincão & Júlia Salem (Colectivo APNEIA)
Local: Monte Santo Resort
19h30
«E Hoje, é um Esquilo?» (Conferência-Performance)
de Sónia Baptista
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação
Dia 11 de setembro de 2021 (sábado)
15h00
«A collection and the means for its display» (Performance)
de Sara & André
Local: Praia do Carvoeiro
18h00
«Onde Estamos?» (Lançamento do Podcast)
de Susana Mendes Silva com as alunas Aline Veiga, Beatriz Guerreiro, Cláudia Gonçalves, Gabriela Correia, Irina Figueiredo, Íris Sacramento, Lara Fernandes, Margarida Correia, Melanie Soares e Viviane Semedo. A partir de um workshop no âmbito do LA(b)GOA no Agrupamento de Escolas Padre António Martins de Oliveira (ESPAMOL) a com a colaboração da Professora Francisca Marinheira.
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação
19h00
«Candido Efeémer: Ondas» (Instalação-Sonora)
Ricardo Pimentel
Local: Algar Seco
19h30
3ª paragem
«Light» (Live-Act)
Catarata: André Tasso, Bruno Humberto & João Ferro Martins
Local: Praia do Carvoeiro
20h30
«As Copeiras» (Performance)
Electro-Domésticas (dupla composta por Filipa Brito & Lara Morais)
Local: Algar Seco
20h-23h
«Soul» (Performance)
de Elizabete Francisca
com Tiago Gandra
Local: Algar Seco ou Monte Santo Resort
Com marcação prévia.

A partir deste dia até ao dia 19 de setembro haverá uma instalação intitulada «Escola Provisória (para nada)» de Sara Vaz & Marco Balesteros no court de ténis do Carvoeiro Hotel.

Dia 16 de setembro de 2021 (quinta-feira)

15h00
«Memorabilia» (Performance)
de Lara Morais
Ponto de encontro: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação
17h00
Comboio-Mistério
(um passeio de comboio com paragens inesperadas e algumas surpresas)
Ponto de encontro: Largo da Praia do Carvoeiro
17h30
1ª paragem
Anti-Tours (Derivas e Passeios Performativos)
«asprimeirascoisas» (Passeio Performativo)
de Eunice Artur & Bruno Gonçalves
Ponto de Encontro: Largo do Carvoeiro
18h45
»Strange Tides» (Performance)
de Rafael Diogo & Carry Crankson
Local: Algar Seco
19h30
»Orifício Distante/ Far Hole (Live-Act)
um live-act Von Calhau & Tânia Carvalho
Local: Farol de Alfanzina ou Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Praia do Carvoeiro)
20h00-23h00
«Campismo Selvagem» (Performance)
de Nuno Gil
Local: Farol de Alfanzina (a confirmar)
Com marcação prévia.
Dia 17 de setembro de 2021 (Sexta-feira)
17h00
3ª paragem
«Olé» (Performance)
Vanda Madureira
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Praia do Carvoeiro)
17h30
2ª paragem
«Centro Cultural do Carro» (Galeria de Arte Ambulante)
de Tiago Gandra & Daniel Melim
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Praia do Carvoeiro)
19h00
«Experimentação S.F. Silvense» (Música)
João Ferro Martins & Banda Filarmónica de Silves
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Praia do Carvoeiro)
19h30-22h00
«Campismo Selvagem» (Performance)
de Nuno Gil
Local: Farol de Alfanzina (a confirmar)
Com marcação prévia.
Dia 18 de setembro de 2021 (sábado)
14h00-17h00
«Venda» (Instalação-Performance)
Roll-On (dupla artística composta Filipa Brito & Lara Morais)
Local: à beira da estrada num lugar surpresa
19h00
«Coin Operated» (Performance)
de Jonas & Lander
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Praia do Carvoeiro)
21h00
«Se eu começasse de novo» (Vídeo)
de Vasco Araújo
Local: Anfiteatro da Nossa Senhora da Encarnação (Praia do Carvoeiro)

Durante o Festival, haverá ainda:

1. Ilustrações de Mathieu Fleury disponibilizadas online;
2. Residência artística de criação da artista Luísa Passos,
3. Residência artística de criação e duas apresentações de uma leitura encenada do projeto FAZER & DESFAZER com direção artística de João Telmo e Nova Companhia;
4. Acompanhamento documental de Alípio Padilha;
5. Residência mediática e criativa da Revista Umbigo com a presença da editora Elsa Garcia e do designer gráfico António Néu.