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Número de produtores do Algarve triplicou na última década. Sector está agora maduro para promover o enoturismo na rota «Algarve Wine Tourism».

Mais do que um rebranding da já existente Rota de Vinhos do Algarve, a nova plataforma «Algarve Wine Tourism» pretende dar um novo impulso ao enoturismo, uma vez que dos 50 produtores da região, mais 20 já têm ofertas e propostas neste nicho. A ideia, contudo, é envolver parceiros, desde hóteis a agentes de viagem, e desafiá-los a incorporarem as atividades que as adegas disponibilizam.

«Esta rota vai funcionar muito em rede com os parceiros, sobretudo a hotelaria, a restauração, e outras entidades, para que possamos chegar, não só ao turista, ao cliente final, mas também trabalharmos com os operadores, com os parceiros da parte do turismo, para que possam integrar nos seus próprios pacotes de oferta de visitas, o enoturismo», explicou aos jornalistas Sara Silva, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), durante a apresentação do projeto, que decorreu Hotel PortoBay Falésia, em Albufeira, na manhã de quinta-feira, dia 23 de março.

Sara Silva.

Segundo a responsável, a rota «Algarve Wine Tourism» alia o enoturismo a experiências gastronómicas e de lazer ao património, no sentido de promover a diversidade da região, onde existem meia centena de vitivinicultores, quando em 2010 havia apenas 16, espalhados por quatro regiões que produzem vinho com denominação de origem: Lagos, Portimão, Lagoa e Tavira.

O projeto arranca com um website bilingue (em português e inglês), que contém um mapa em constante atualização com os aderentes e onde é possível consultar toda a oferta, desde o barrocal ao litoral, sob o lema «O pairing perfeito para a sua visita ao Algarve».

«Sabemos que o público estrangeiro é mais propício a gastar dinheiro em enoturismo. Ao nível de mercados queremos trabalhar o espaço europeu. Outra questão bastante importante é a pernoita, que em média é de 5 a 8 noites, algo que não se encontra noutras regiões do país. O tempo que os turistas passam no Algarve, seja na praia ou no golfe também dá para que visitem as quintas», disse, embora «não podemos esquecer que 32 por cento dos turistas que visitam o Algarve são portugueses. Temos de fazer um bom trabalho de divulgação sobre o que aqui existe ao longo de todo o ano. O público nacional ainda é um pouco desconhecedor». 

Ainda assim, «as quintas estão cheias e não param de receber de turistas, mesmo nesta época, que ainda é baixa, as visitas estão a acontecer de uma forma muito continuada e cada vez mais há horários específicos para as pessoas poderem ir visitar, de uma forma diária, embora ainda continue a existir a marcação, para algumas experiências. Isto mostra a evolução do enoturismo, da especialização e profissionalização das quintas neste segmento», acrescentou.

De acordo com Sara Silva, a zona de Lagoa e Silves é onde se concentram mais produtores com enoturismo e as atividades dirigidas aos visitantes vão desde a básica prova de vinhos a eventos empresariais mais sofisticados, havendo, igualmente, experiências mais radicais, como safaris na vinha e workshops técnicos. Outro dos objetivos é possibilitar a formação de quem trabalha no terreno, e também de quem está a concluir estudos, através da criação de sinergias com as escolas de hotelaria e a universidade.

A presidente da CVA refere que a região produz atualmente 1,5 milhões de garrafas de vinho por ano nos 1.400 hectares de vinha, das quais, metade tem produção de indicação geográfica e denominação de origem. Além dos vinhos tranquilos (branco, tinto e rosé), a aposta recente tem sido na produção de espumantes e em castas autóctones, como a negra-mole.

«Este é um território com um grande potencial para a produção de vinho de excelente qualidade. Tem influências mediterrânica e atlântica e grande diversidade. Cada produtor dá o seu cunho pessoal, não temos vinhos repetidos. Transpondo isto para o enoturismo, é uma grande riqueza. Conseguimos ter produtos que se adequam a quase todos os gostos», compara.  Em comparação com a fase inicial da rota, a cargo de uma outra associação que a dinamizava, na opinião de Sara Silva, o que faltava «se calhar, não apenas toda esta comunicação mas também alguma maturidade. A oferta era residual e não havia todo este manacial de experiências. Portanto, esta era a altura certa para lhe darmos um chapéu e trabalharmos em rede» para dar visibilidade a todos. 

Questionada sobre se houve alguma inspiração no exterior, «sim, a roda não se inventou num dia, sobretudo lá fora. Tentámos inspirar-nos não só no que se passa noutras regiões vitivinícolas, mas também na Europa e noutras partes do mundo. Olhámos de uma forma mais abrangente do que existe na América mas também no novo mundo (Austrália e Nova Zelândia). Aquilo que quisemos foi um nome que pudesse chegar», disse.

Em relação ao vinho algarvio, ainda não chega a todas a cartas nem a todas as mesas, o que Sara Silva reconhece. «É verdade que há a questão do preço que é importante num mercado tão competitivo. Já sabemos que são mais caros, mas temos de olhar ao consumo do produto local, tal como gostamos da nossa laranja, da nossa amêndoa e da nossa alfarroba», comparou. 

A CVA assume também a responsabilidade de manter a plataforma atualizada e dinamizar toda a logística da rede. «Para os aderentes, existe uma cota anual, baseada na dimensão de cada parceiro, que será sempre bastante residual porque queremos que isto tenha continuidade», concluiu.