Previsão foi avançada hoje por Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de saúde do Algarve. Na sua opinião, a festa ilegal em Odiáxere, a 7 de junho, não se tratou de uma aglomeração propositada para a procura da imunidade em grupo à COVID-19. Cerca sanitária em Lagos não é hipótese neste momento.
O chamado cluster de Lagos tem colocado a cidade no mediatismo nacional e por isso o presidente da Câmara Municipal Hugo Pereira fez questão de estar presente na conferência de imprensa de atualização da situação pandémica da COVID-19, na tarde de hoje, 19 de junho, em Loulé.
«Até à meia noite de ontem contabilizamos 76 casos positivos. 74 estão no domicílio, a proteger a comunidade e a evitar novas cadeias de transmissão. Dois encontram-se internados, mas estáveis, ou seja não estão em cuidados intensivos, ou em ventilação. De realçar que estes números são referentes à festa realizada» no salão de festas do Clube Desportivo de Odiáxere, em Lagos, alegadamente para festejar um aniversário.
Os números, que acabariam por ser atualizados para 90 casos confirmados de COVID-19, não significam que todos os infetados «tenham estado presentes no evento, como é o caso das crianças», começou por explicar aos jornalistas, Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de saúde do Algarve.
Ainda segundo a responsável, «por dia estão agora a ser realizados cerca de 250 testes, por três equipas focadas apenas no surto. Totalizam-se assim, até à data, cerca de 1222 testes.
«A testagem em massa vai diminuir bastante no fim de semana, mas vamos continuar a testar até haver necessidade de confirmar algum caso suspeito», acrescentou.

Isto porque a principal estratégia das autoridades de saúde é «a identificação das pessoas que participaram na festa e dos seus respetivos contactos. Hoje, já notámos um menor número de casos positivos. Contamos dentro de dois ou três dias passar a uma velocidade cruzeiro com um ou dois casos, que sempre acontecem, nestas situações, de transmissão familiar», referiu Ana Cristina Guerreiro.
Por isso, para já, não está em cima da mesa fazer uma cerca sanitária na cidade de Lagos.
«Não pusemos essa questão e não fizemos nenhum cenário para isso. O cenário que prevemos vai ao contrário dessa situação, porque estamos numa fase de diminuição do número de casos».
Ana Cristina Guerreiro foi também questionada pelos jornalistas sobre a possibilidade da festa ter sido realizada com o propósito de se transmitir o Coronavírus em grupo, de forma a criar algum tipo de imunidade.
«Neste caso até penso que não. Terá sido um evento que até aumentou de dimensão por contactos, chamadas ou mensagens, mas que não terá sido com esse objetivo. No entanto, pode ser inocência da minha parte ou desconhecimento de algum fator, mas não tenho qualquer tipo de indicação que tenha sido uma festa COVID-19 para contaminação, como outras que sei que existem», respondeu.
Em relação aos próximos meses, com a chegada de turistas ao Algarve, a delegada passou a mensagem de estar ciente do aumento da população e de quais as consequências que isso pode trazer.
«Estamos conscientes de que este tipo de fenómenos, como a festa de Lagos, possam ocorrer ao longo de toda a estação de verão, mas com uma dimensão mais pequena. Quando chega a época balnear o Algarve triplica o número de população, logo temos três vezes mais pessoas em risco de adoecer. Portanto, estamos a contar ter mais casos do que aqueles que temos até aqui».
Hugo Pereira: «aquilo que aconteceu foi muito grave»
Já o presidente da Câmara Municipal de Lagos definiu a festa como «sem jeito, irresponsável, ilegal e muito grave».
Hugo Pereira afirmou que «as normas da Direção Geral da Saúde (DGS) são para cumprir. Esta situação poderia ter colocado todo o trabalho de um concelho, que foi exemplar, em causa. Isto correu muito mal. O concelho levou os quatro meses a cumprir as normas e quatro meses depois, quando tudo se começava a reerguer, uma irresponsabilidade, uma imprudência e uma ilegalidade poderia ter posto em causa todo o trabalho de uma comunidade, que foi exemplar».
Na opinião do autarca lacobrigense, a prioridade agora é «tratar o assunto da saúde pública».

O passo seguinte é a «retoma da economia local. Lanço o apelo de serem todos parceiros na solução da saúde pública. Apelo ao reforço das medidas de segurança e ao uso da máscara mais que nunca. Desafio a que na próxima semana começarmos novamente todos fortes, como o concelho tem sido, e darmos o exemplo da imagem que Lagos é, um destino seguro, muito apetecível e muito interessante».
Ainda em relação à festa de Odiáxere, o presidente da autarquia voltou a afirmar que «este caso sirva de exemplo a que não se repitam situações destas, sobretudo com impacto na saúde pública. Não podemos deitar tudo a perder com exemplos assim».
Paulo Morgado: COVID-19 «não é uma gripezinha»
Paulo Morgado, presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, revelou que na região existe apenas um profissional de saúde, neste caso um médico, infetado com o novo Coronavírus. Os 20 casos positivos, entre os profissionais de saúde, contabilizados anteriormente, estão já «todos recuperados».
Morgado voltou ainda a chamar a atenção para se seguirem as normas implementadas pela Direção-Geral da Saúde em todos os domínios da vida pública regional.
«Estamos neste momento a viver um surto em Lagos, estamos a monitorizar, a controlar, a testar os casos que se justificam ser testados. Essa é a estratégia que está definida ao nível nacional e regional, como sendo a adequada para controlar a doença» da COVID-19.
«A doença existe, vai continuar a existir durante os próximos meses. Daí a necessidade de todos cumprirmos aquilo que são as regras que já sabemos. Esta infeção não é uma gripezinha. Pode ser grave, pode causar internamento e morte», sublinhou.
O também médico deixou um recado à gerações mais jovens, visto que a faixa etária dos 20-29 anos, neste surto, é a mais afetada.

«Mesmo quando os infetados são jovens, o risco da doença ser grave é menor, mas nem por isso reduz o risco de transmitir a outros mais vulneráveis, que podem adoecer gravemente. É um apelo que estamos a repetir, o apelo à sensibilidade de todos ao cumprimento das regras que estão determinadas», disse.
Aos jornalistas, Paulo Morgado revelou também que, ainda durante a sexta-feira, dia 19 de junho, será publicado na página da ARS Algarve o número de vagas a preencher pelos profissionais de saúde da função pública, durante os meses de verão, do programa de mobilidade, consoante as necessidades reportadas pelo Centro Hospital Universitário do Algarve (CHUA).
«Este procedimento tem funcionado todos os anos. Ou seja, os profissionais de saúde de outras regiões, que voluntariamente desejem vir trabalhar para o Algarve, são muito bem vindos à nossa região porque recebemos bem e poderão trabalhar, dar uma ajuda e ainda por cima beneficiar do nosso sol, das nossas praias e do nosso excelente ambiente. São todos muito bem-vindos. Este ano vamos abrir o procedimento também aos enfermeiros. Realço que os profissionais que vierem, é porque de facto assim o entenderam. É voluntário».
Já sobre a possível falta de Equipamento de Proteção Individual (EPI) na região, Morgado diz não ter nota de que isso esteja a acontecer.