António Sales, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde falou com os jornalistas em Loulé sobre o reforço de vacinas para o Algarve, a gestão da entrada de turistas no verão e as férias dos profissionais de saúde.
Numa manhã marcada pela inauguração da Rede Concelhia de Desfribilhadores Automáticos de Loulé, António Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, marcou presença no Estádio Municipal de Quarteira, na sexta-feira, dia 2 de julho, onde logo à chegada abordou a questão das vacinas no Algarve, a região que, até há bem pouco tempo, a par com Lisboa, possuía a vacinação mais atrasada contra a COVID-19.
«Neste momento a grande prioridade é vacinar. O Algarve tem, neste momento, cerca de 51 por cento de primeiras inoculações [primeira dose] e cerca de 30 por cento de esquema vacinal completo, o que nos parece que vai acompanhando as outras regiões do país e isso é muito importante. Ainda esta semana, houve um reforço de vacinas, para esta região, de sete mil na semana, o que dá mil por dia. Significa que há, neste momento, capacidade de vacinação, recursos humanos e vacinas», começou por dizer o governante aos jornalistas.
Questionado sobre se os algarvios se deveriam preocupar com os atrasos, Sales respondeu negativamente. «A vacinação tem corrido bem. A organização é boa, a logística é boa e temos um histórico de vacinações, nomeadamente da gripe, muito bom. Penso que temos todas as condições para durante o mês de agosto termos 70 por cento de inoculações e 50 por cento de esquema vacinal completo».
Sobre a hipótese de ser necessário administrarem-se duas doses da vacina Janssen, e não apenas uma como está a ser feito, o secretário de Estado apenas afirmou que se trata de uma matéria ainda em estudo e avaliação.
No entanto, «tivemos a boa novidade sobre a sua eficácia contra a variante Delta e isso é uma boa notícia», disse.
António Sales mostrou também que o governo não está a ponderar medidas diferentes para a região algarvia, numa época em que, em anos normais, quase triplica o número de população com a entrada de turistas.
«Temos um único país e há uma entidade e uma uniformidade nacional. Remetemos sempre para o critério de uniformidade, para todo o país, a matriz de risco, nomeadamente a incidência e a transmissibilidade. Esta é a melhor forma das pessoas perceberem que há esta unidade nacional e este conjunto de medidas em função desta matriz de risco. Evidente que depois temos outros indicadores complementares [pressão sobre os serviços de saúde, taxas de vacinação, variantes] que monitorizamos diariamente e que são muito importantes para tomarmos decisões políticas», referiu.
Sobre a possibilidade de existir uma gestão ponderada na entrada dos turistas, o governante não deu certezas.
No governo, «tomamos decisões com base em matéria e informação consolidada ao momento. Essa matéria, muitas vezes com base na incerteza da própria pandemia e situação epidemiológica, vai mudando e muito rapidamente. É uma realidade muito dinâmica e temos de ajustar as decisões à informação do momento e à robustez científica. Decisões que têm sempre uma diferença de tempo em relação às análises técnicas e científicas, mas que muitas das vezes são complementares».
Isto porque, de acordo com Sales, «é importante que se perceba que a política não deve interferir na ciência, mas também não pode ficar refém daquilo que são análises científicas. Por isso, o tempo da política e o tempo da ciência são tempos diferentes, são tempos de linha curta que se complementam e que suportam análises para se tomarem decisões políticas».
Ao ser questionado sobre qual a estratégia que o Algarve deveria adotar, o secretário de Estado foi conciso: «é olharmos para cada um de nós, para a nossa consciência individual e para a nossa consciência coletiva. Essa é a melhor estratégia para podermos definir as decisões que se vão tomando e que se ajustam ao dinamismo da própria pandemia».
Os jornalistas insistiram. «O Algarve está preparado para o verão?». Sales respondeu: «penso que planeámos e concretizámos medidas e procedimentos que foram ao encontro daquilo que são as necessidades dos portugueses e daquilo que foi a evolução epidemiológica. É nessa perspetiva que temos de trabalhar. Tomámos sempre medidas com determinação e com convicção, mesmo as que por vezes eram difíceis. Aqui, como em todo o mundo, esta evolução epidemiológica vem com incerteza. É um mar tumultuoso. Temos de estar preparados para o pior, esperando sempre o melhor».
«Estamos numa tendência crescente que pode trazer preocupação»
António Sales, aos jornalistas, deu nota de que desde dia 31 de abril de 2015, existem em Portugal mais 28 mil profissionais de saúde. «É um esforço que tem sido feito continuamente. Relembro que ainda no desde o ano passado e até ao início deste ano, ao abrigo da pandemia e de um regime de excecionalidade de contratação, contratámos mais cerca de 13 mil profissionais», recordou.
Sobre a hipótese de se contratarem mais recursos humanos caso os números de internados aumentem, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, respondeu: «iremos fazê-lo em função daquilo que são as necessidades. Houve abertura recente de concursos com a abertura de um despacho de vagas em Medicina, nomeadamente para Medicina Geral e Familiar [459], para os Cuidados Hospitalares [1041] e para a Saúde Pública [32].
Ainda sobre os números, o governante explicou que as linhas vermelhas determinam as 1500 pessoas para internamentos nas Unidades Hospitalares e as 245 em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). «Ainda estamos relativamente longe dessas linhas, mas é importante percebermos que estamos numa tendência crescente que pode trazer preocupação. Temos de estar preocupados e de prevenção para a necessidade de podermos subir mais os números» de doentes internados.
Por fim, em relação às férias dos profissionais de saúde, até ao momento, de acordo com Sales, parecem estar asseguradas. «É uma situação de âmbito funcional dos diretores executivos dos conselhos de administração e das direções executivas dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES). O que penso é que enquanto houver atividade assistencial normal programada, acho que não se deve mexer nas férias dos profissionais e que estas se devem manter».
Ainda assim, «é evidente que não conhecemos a evolução epidemiológica. Se em alguma altura viermos a ter que travar a atividade assistencial programada, aí podemos ter de ponderar essa possibilidade. No entanto, acho que os profissionais têm uma consciência profissional e individual muito assertiva em relação a essa matéria», disse.
Em relação ao Algarve, o secretário de Estado assegurou que tinha a informação de que o «conselho de administração já conversou com os profissionais de saúde. Sabendo que ainda existe atividade assistencial normal, essa questão não se põe e os profissionais continuarão com as suas férias. Evidente que se os números subirem muito, e se tiverem de parar com atividade assistencial programada, pode ter que se tomar uma decisão diferente, mas para já não é essa a questão que está em cima da mesa».