António Costa quer ter «uma nova grande vitória» no Algarve

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António Costa esteve ontem em Faro onde fez um balanço dos últimos seis anos e pediu a maioria para o Partido Socialista (PS).

Com quase todos os autarcas socialistas nos primeiros lugares da plateia do auditório da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, entre militantes, simpatizantes e alguns históricos, António Costa mostrou-se confiante numa «nova grande vitória» no Algarve, ontem ao final da tarde.

O chefe de governo e candidato às legislativas de 30 de janeiro, veio à capital algarvia para um encontro com militantes. No entanto, no discurso, não fez promessas para a região além do está previsto no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

«O que estamos a falar é da possibilidade de diversificar a base económica do Algarve, para que não dependa única e exclusivamente do turismo e possa desenvolver outras atividades económicas que possam garantir riqueza e emprego aqui no Algarve, mesmo quando o turismo está a passar por dificuldades», afirmou.

António Costa com Isilda Gomes, autarca de Portimão.

Isso «significa enfrentar os desafios concretos que as alterações climáticas nos colocam, como seja o risco de seca nesta região. Temos de ter maior eficiência hídrica e temos de aproveitar o facto de hoje a tecnologia nos permitir ter a energia solar mais barata a nível mundial, para iniciarmos aqui no Algarve um projeto de dessalinização, de forma a garantir água de qualidade para dar de beber a todos os seres humanos, mas também para desenvolver a atividade agrícola».

Dito isto, António Costa centrou o discurso num balanço dos últimos seis anos no poder.

«Iniciámos uma caminhada há seis anos atrás para virar a página da austeridade, para devolver as pensões que tinham sido cortadas, repor as carreiras que tinham sido congeladas e começar a reduzir o enorme aumento de impostos que tinha sido feito. Quando virámos essa página da austeridade, virámos também a página da estagnação», recordou.

«Depois de 15 anos em que o país tinha estado ou em recessão ou com um crescimento próximo da média de 0,4 por cento, nós tivemos quatro anos seguidos, em que pela primeira vez neste século, crescemos mais e mais rápido que o conjunto da União Europeia. Em 2016, 2017, 2018 e 2019, crescemos sete vezes mais do que tinha sido o crescimento do país nos 15 anos anteriores. E crescemos com uma economia ao serviço das pessoas e com as pessoas. Foi por isso que conseguimos crescer a economia, e ao mesmo tempo reduzir o desemprego de 12,5 por cento para quase metade. Conseguimos, ao contrário do que a direita dizia, aumentando os salários», lembrou.

Mesmo com o embate da inesperada pandemia de COVID-19, «foi extraordinário o que o país coletivamente foi capaz de fazer e de se mobilizar. Compare-se lá o que tem sido a recuperação da economia nesta crise do que foi a recuperação da outra crise anterior?», comparou referindo-se, de novo, aos tempos da Troika do governo de coligação PSD/CDS-PP com Passos Coelho e Paulo Portas.

«Quem é que imaginava que depois de meses e meses dos restaurantes sucessivamente encerrados, com a hotelaria encerrada, com a aviação civil completamente no chão e sem turistas, poderíamos estar hoje no Algarve e termos aqui a taxa de desemprego que temos, os restaurantes vivos, o sistema hoteleiro vivo e pronto para recuperar a economia do Algarve?», ilustrou.

«Sejamos claros. Agora somos confrontados com escolhas muito concretas. Temos muito orgulho do percurso que fizemos, em ter já subido 40 por cento do Salário Mínimo Nacional e não desistimos de assumir um compromisso concreto de o elevar até aos 900 euros, até ao final da legislatura», assegurou.

A promessa serviu para criticar o principal partido da oposição. «Não acreditem naqueles que dizem que não querem aumentar o salário mínimo para poderem aumentar os outros salários. Quem não quer sequer aumentar o salário mínimo, muito menos vai aumentar os outros salários».

E não foi a única crítica, desta vez com Costa a lembrar o debate televisivo com Rio Rio no tópico da saúde.

«O Partido Social Democrata (PSD) pode fazer os jogos de palavras que quiser, mas quando querem retirar da Constituição da República Portuguesa, a expressão de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é público, universal e tendencialmente gratuito e querem substituir o tendencialmente gratuito por o dizer que ninguém será excluído por carência económica, fazem esta mudança para quê? Para ficar tudo na mesma? Não. Rui Rio, no debate que teve comigo e que está gravado, foi muito claro. Sim, deve ser tendencialmente gratuito, mas há aqueles que podem e aqueles que não podem. Pois é. O que ele quer verdadeiramente é que a classe média passe a pagar os cuidados de saúde no SNS», explicou.

«E é por isso que estas eleições são mesmo decisivas. Vamos ter estabilidade para que o país tenha políticas estáveis, um governo estável para quatro anos, ou vamos andar de crise política em crise política e com governos provisórios de dois anos? Temos de ser claros. A situação que o país vive, ainda em pandemia, com o esforço que temos de fazer de recuperação da nossa economia, do nosso emprego, do nosso rendimento, a necessidade de não desperdiçar um segundo a oportunidade de solidariedade que a União Europeia nos pôs à nossa disposição, só nos traria uma resposta: precisamos de estabilidade para quatro anos e só há uma forma, é uma uma maioria absoluta do PS. Somos o partido do equilíbrio, do bom senso, da responsabilidade, do diálogo, da concórdia nacional, que na pandemia soube unir todo o país. É assim que juntos seguimos e conseguimos, porque é necessário continuar a avançar», finalizou António Costa.

«Fizeram muito mal» em chumbar o Orçamento de Estado

António Costa também deixou uma mensagem ao Partido Comunista Português (PCP) e ao Bloco de Esquerda (BE).

«É absolutamente imperdoável a forma como no momento em que o mais importante era todos nos unirmos, arregaçarmos as mangas para recuperar aquilo que perdemos durante esta crise, e aproveitar a oportunidade de solidariedade da União Europeia, aquilo que fizeram foi derrubar este governo, chumbando o Orçamento de Estado (OE) para 2022», lamentou

«Não me venham com desculpas de que afinal queriam negociar. Estivemos vários meses a negociar. Quando chumbaram o OE, não deram sequer oportunidade de dizer: vamos lá negociar na especialidade, vamos tentar melhorá-lo e reservamos o nosso voto para a votação final. Não, quiseram logo cortar-nos as pernas ao início. Fizeram muito mal», sublinhou.

O Orçamento «não era o de António Costa, nem era do governo, era para as portuguesas e para os portugueses. Teria permitido reduzir os impostos sobre a classe média, sobre as famílias com filhos e sobre os jovens em início de atividade. Agora, vêm todos para a campanha eleitoral dizer que é preciso menos impostos. Pois, perderam uma excelente oportunidade de termos menos impostos», criticou.

Na abertura do encontro com eleitores, a cabeça de lista Jamila Madeira não poupou críticas ao PSD ontem em Faro, e fez, de novo, menção ao tão ambicionado Hospital Central do Algarve, que só terá hipótese com António Costa.