Antiga cadeia de Portimão já é Escola de Turismo sustentável

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Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão mudou-se para antiga prisão, agora edifício reabilitado com preocupações de eficiência energética e gestão sustentável da água, num investimento de 2,3 milhões de euros.

«Um dia muito feliz» foi como Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão, descreveu a inauguração das novas instalações da Escola de Hotelaria e Turismo (EHT) de Portimão, na tarde de segunda-feira, 23 de janeiro.

«Quando era governadora civil, vim aqui falar com os detidos. Hoje, é uma felicidade voltar cá e entrar numa casa de portas abertas para a comunidade», disse.

«Os jovens que se formarem aqui vão ser bons trabalhadores. Que os empresários reconheçam e subam os valores que pagam mensalmente. É preciso haver alguma justiça social, porque trabalhar na hotelaria, por turnos, à noite, não é fácil», lembrou às várias entidades presentes.

Por sua vez, o responsável Pedro Moreira não escondeu o orgulho. «É com muita alegria e satisfação que, na qualidade de atual diretor e também de antigo aluno desta escola, vivo este momento marcante nos 54 anos de existência da EHT de Portimão. Este edifício será, seguramente, determinante para o futuro na formação turística, em Portimão e, desde aqui, em todo o Barlavento algarvio. Este é o quarto edifício em que esta escola está instalada. Tendo conhecido todos, sou testemunha da melhoria de condições que as instalações que agora se inauguram proporcionam à formação dos cidadãos que serão os trabalhadores do turismo no futuro, ou de todos aqueles que pretendam continuar a sua formação ao longo da vida», começou por assinalar.

«As novas condições físicas e materiais de que agora dispomos acrescentam dignidade, facilitam a formação técnica e possibilitam-nos explorar novas tipologias de formação, novas abordagens pedagógicas e alcançar públicos e parceiros diferentes», anteviu.

«Conjugando isto com a formação para a sustentabilidade, com o empreendedorismo e inovação, promovemos a nossa candidatura a Clube de Ciência Viva na Escola, que foi aprovada com o projeto Sea Lab, no qual nos propomos a recuperar algum receituário tradicional e dar-lhe uma nova abordagem. E candidatámos o projeto Cozinhar o Mar ao Programa Escola Azul atendendo à vocação atlântica da nossa área geográfica de intervenção», iniciativa que, aliás, está sob alçada do Ministério da Economia e Mar. Neste âmbito, o objetivo será explorar novos e invulgares ingredientes.

«Ainda não usamos as algas marinhas na nossa alimentação, mas é um filão que poderá ser explorado e estamos muito interessados nisso», sublinhou.

«Os nossos alunos são, diariamente, desafiados a serem empreendedores no desenvolvimento e implementação de negócios que lhes proporcionamos, através de conteúdos curriculares e de programas da Start Up Portimão e da Junior Achievement Portugal. Resultam em conhecimentos e atitudes que, certamente, replicarão ao longo da vida, seja nas empresas seja nos próprios negócios», acrescentou.

No ano de 2022, a EHT Portimão prestou formação a mais de 3700 trabalhadores do sector turístico.

«Estes formandos, na sua quase totalidade ativos empregados, usufruíram dos nossos serviços através dos vários programas de formação contínua e executiva, dos quais gostaria de destacar o Programa Formação + Próxima e as ações de formação nas áreas comportamentais e de gestão, através de cursos da Academia Digital do Turismo de Portugal. No futuro, pretendemos continuar a contribuir para que haja mais e melhor capital humano. Seja através da formação inicial de dupla certificação e pós-secundária, mas também através de programas de formação de curta duração de introdução às profissões do turismo. Queremos diversificar a oferta e estamos disponíveis para aprofundar as parcerias com as instituições de ensino superior. Estamos absolutamente empenhados em contribuir para a valorização e reconhecimento das profissões turísticas», concluiu.

Um novo ciclo

Um pensamento alinhado com a estratégia da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento (CCDR) do Algarve. No uso da palavra, José Apolinário, saudou «o início de um novo ciclo que oferece a todos os que abraçaram, ou pretendem abraçar, as profissões do turismo. Esta saudação estende-se às restantes congéneres da região que são uma mais-valia estratégica para a qualificação dos recursos humanos do sector. Mas estes novos tempos exigem respostas novas, sobretudo na inovação e valorização de produtos no quadro da Dieta Mediterrânica, e na eficiência energética».

No Algarve, «temos a obrigação de conseguir implementar um regime pioneiro entre a Universidade, o Politécnico e as Escolas de Turismo, que otimize e use bem os recursos financeiros disponíveis e assegure sinergias», disse, referindo-se já ao próximo quadro de fundos europeus 2030.

Será «uma década marcada pelo impacto no mercado de trabalho do inverno demográfico. Teremos menos jovens e a escassez de recursos humanos tenderá a agudizar-se. As escolas de hotelaria, a estrutura de formação, precisam de posicionar-se como agentes ativos de qualificação dos fluxos migratórios e de adultos. A estes desafios, acresce que, nos próximos 30 anos, o crescimento da União Europeia será sobretudo impulsionado pela transição climática e digital, e pela afirmação de uma muito maior circularidade da economia, também no turismo», previu.

Na Europa, «a sustentabilidade é a palavra de ordem no Turismo», disse, citando o mais recente Eurobarómetro sobre este sector. «44 por cento dos inquiridos colocam no topo das prioridades de escolha do destino turístico a oferta cultural, eventos locais e a gastronomia. 43 por cento, elegem a sustentabilidade e ambiente. 55 por cento estão disponíveis para consumir produtos locais e 48 por cento com a predisposição de, em férias, produzir menos resíduos e lixo. 2022 foi um bom ano para o turismo. Aumentaram os proveitos, o turismo alavancou o crescimento da nossa economia e criou emprego. E o turismo é a nossa principal atividade económica: dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) dizem-nos que no Algarve estão seis dos 11 municípios do país que acolhem mais turistas. Mas temos que saber antecipar o futuro. E em conjunto, com as empresas e as suas associações, temos de fazer das verbas do Portugal 2030 uma alavanca de sustentabilidade e resiliência no sector», concluiu.

Conceito «crucial para o futuro»

Por sua vez, o ministro da Economia, António Costa Silva, elogiou o «conceito de sustentabilidade marcado nesta escola», que considerou «crucial para o futuro».
«Hoje é um dia feliz, estamos a celebrar uma prisão que foi transformada numa casa do conhecimento, da inovação, uma casa para formar e treinar pessoas. O investimento mais produtivo que o país pode fazer é na educação, porque a educação muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo. Queremos ser um dos destinos turísticos mais sustentáveis e de qualidade do mundo. E isso não se faz sem estas escolas que têm posicionado o país na linha da frente para ser um líder no turismo», disse.

«Não vamos ter dúvidas. O perfil do turista está a mudar, sobretudo depois da crise pandémica. Estou convencido que os primeiros países do mundo que desenvolverem o conceito de destino sustentável, vão ser aqueles que vão prevalecer na dinâmica» atual. E «a sustentabilidade é ditada pelo comportamento dos próprios operadores, da responsabilidade na relação com o território», previu.

Em relação à atualidade, o governante deixou alguns números. Depois de ter quase «paralisado» durante dois anos, conduzindo a uma grande desmotivação, o sector recuperou com grande celeridade.

«Em 2019, batemos um recorde histórico. Recebemos 27 milhões de hóspedes no país e as receitas foram 18,4 mil milhões de euros». E agora, «Portugal terminou o ano de 2022 com 22 mil milhões de euros (de receitas do turismo), o que é absolutamente extraordinário porque, num ano, não só recuperámos aquilo que fizemos em 2019, como superámos os resultados em mais 20 por cento».

António Costa Silva, que encerrou a sessão de inauguração, frisou que «ainda existe preconceito no país em relação ao turismo», mas é «um dos motores do desenvolvimento da economia do país.

«Havia muita gente que dizia que, para recuperarmos os números de 2019, iríamos demorar três, quatro ou cinco anos, mas conseguimos recuperar durante o ano passado. No Ministério da Economia temos uma visão muito clara: o turismo é uma ferramenta para desenvolver o país do norte ao sul, incluindo as regiões autónomas porque é capilar. Está em todo o espaço nacional e é transversal, mobiliza múltiplos sectores da economia, desde a construção aos transportes, a todo um conjunto de indústrias. Se usarmos esta ferramenta no sentido próprio, é absolutamente transformadora», concluiu.

Obra sem derrapagens financeiras

Reabilitada com um projeto do arquiteto João Nuno Laranjo, a antiga cadeia de Portimão é agora a casa da Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão, um investimento de 2,3 milhões de euros do Turismo de Portugal. Segundo António Furtado, presidente da ESTAMO, «foi possível cumprir calendários, programas, orçamentos, sem derrapagens financeiras, evidenciando a capacidade dos entes públicos bem fazerem e bem trabalharem».

O edifício tem oito salas de aula com tecnologia de ponta, duas cozinhas, um auditório com capacidade para 140 pessoas, um bar e um restaurante que estarão abertos ao público e um pequeno auditório. Tem equipamentos digitais que vão facilitar «um ensino híbrido que conjugue formação presencial e à distância».

Além do ministro da Economia e do Mar, participaram na inauguração, entre outros, o secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda, e o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, além de outros autarcas e representantes de várias entidades e forças de segurança.