Social-democratas Cristóvão Norte e Rui Cristina assinalaram a efeméride com uma visita às instalações do abrigo louletano.
«A lei, da qual fui autor, abriu uma nova página no bem-estar animal em Portugal. O país, desde 2014, tem feito um percurso excecional do ponto de vista legislativo. Além disso, também participei no processo da alteração do Código Civil, que distingue os animais de coisas. Esta é uma causa que tem vindo a ganhar expressão na sociedade portuguesa e quis dedicar o dia a esta matéria», explicou ao «barlavento», Cristóvão Norte, cabeça de lista do PSD pelo círculo eleitoral de Faro às próximas eleições legislativas, na quinta-feira, 29 de agosto, durante a visita ao Animal Rescue Algarve (ARA).
O deputado, no uso da palavra, dirigiu-se à equipa do abrigo. «Os seres vivos devem ser tratados com respeito e consideração. Temos de dar ferramentas para irmos mais além. Ainda temos algumas dificuldades, mas em cinco anos tivemos uma caminhada incrível, que tem dado oportunidades a todas as pessoas que defendem esta causa, tal como vocês», disse.
O ARA abriu portas há pouco mais de um ano pelas mãos do inglês Sid Richardson, num investimento de cerca de um milhão e meio de euros. Na ocasião, o fundador agradeceu ao deputado. «Todos aqui partilhamos a mesma paixão pelos animais. Hoje sentimo-nos privilegiados com a presença de Cristóvão Norte porque o que conseguiu há cinco anos é monumental e mudou todo o panorama. Não queremos ser apenas mais um abrigo, queremos fazer parte da mudança e espero que juntos consigamos fazer a diferença», sublinhou.

Ao «barlavento», Richardson revelou quais as suas motivações para ter construído o abrigo em Loulé. «Começou quando tive o meu primeiro cão, um animal abandonado que eu resgatei. Acabou por se tornar o meu melhor amigo. A minha intenção sempre foi a de deixar fundos no meu testamento para a causa animal. Um dia acordei e pensei que tinha de o fazer já. Já fiz muitas coisas na minha vida e esta é a mais recompensadora».
O abrigo que no momento alberga 100 cães e cerca de 20 gatos tem como principal objetivo, como refere Richardson, «resgatar animais no Algarve e dar-lhes uma nova família».
Por mês, são realojados, em média, 20 animais. Número conseguido, através de um modelo «diferente de outras infraestruturas semelhantes, mas que resulta».
Quem o garante é Márcia Carvalho, gestora do abrigo, que já trabalha com animais abandonados há mais de 15 anos.
«Aqui tentamos coisas diferentes e o mais importante são os voluntários. Já tivemos pessoas do Canadá, Austrália e Estados Unidos da América. Temos infraestruturas preparadas para alojar 12 pessoas e, em troca pedimos que trabalhem cinco horas por dia», disse.
Para a gestora, «graças a termos as portas abertas, as pessoas vêm cá, passam imenso tempo com os animais e apaixonam-se pelas personalidades. A grande diferença é que temos mais cães adultos a serem adotados que cachorros e isso no mundo animal é muito raro. Há uma grande conexão entre as pessoas, que acabam por se apaixonar pelo animais, adotá-los e levá-los para os seus países de origem».
Além disso, no ARA todos os animais têm o seu ficheiro pessoal, microchip, vacinas em dia e quando chegam à idade adulta são esterilizados. Nenhum sai sem reunir estas condições.

«Ajudamos as famílias a encontrarem o parceiro perfeito. Levamos algum tempo a conhecer as pessoas e as personalidades dos animais e isso facilita. Depois damos a oportunidade às famílias de passarem tempo com o animal. Podem vir quando quiserem, podem passar o tempo que precisarem com o cão e até podem levá-lo a passear para fora da propriedade».
Apesar de estarem abertos há relativamente pouco tempo, ideias e planos para o futuro parecem não faltar. Além de estar já em construção uma infraestrutura adequada para albergar apenas gatos, «queremos ainda fazer atividades com jovens e crianças ligadas ao voluntariado. Queremos trabalhar com as escolas e com crianças com problemas mentais de modo a sensibilizar os mais novos para a adoção de animais abandonados. Depois vamos tentar estabelecer parcerias com associações em Inglaterra que têm muito conhecimento e experiência. Como o nosso objetivo é deixar legado e passar a mensagem, queremos também fazer workshops destinados a outras pessoas que trabalhem nesta área. No fundo, estamos todos pelo mesmo e temos muito para ensinar e para aprender», concluiu Márcia Carvalho.
Falta de apoio institucional é o maior problema
Sid Richardson registou o Animal Rescue Algarve (ARA) há 18 meses, contudo o projeto está a ser pensado há mais de três anos. O maior problema, segundo o fundador, é a falta de apoio das autarquias locais e até do governo. «49 em 50 abrigos são ilegais porque as pessoas acabam por ficar frustradas com as leis que impedem a construção de infraestruturas deste género. Essa é a nossa campanha, tentar mudar essa lei», revelou o fundador ao «barlavento».
Na opinião de Richardson, «devido à maior parte de os abrigos não possuírem licenças de propriedade, deixa de existir contacto com o governo e com a autarquia local. Há coisas que deviam ser ditas e feitas. Depois, apesar de não termos licenças para os edifícios, as autarquias também não têm outras soluções, logo passam a mensagem que não existimos. Com isto ocorre esta situação absurda. Pelo o Algarve há vários abrigos e todos fingem que não existem, mas a realidade é que estão lá». «Como fingem que não existimos, não contactamos com as instituições oficiais. É pena pois podíamos criar parcerias e fazer coisas incríveis juntos. Sentimos que estamos a travar uma batalha sozinhos, mas eventos como o de hoje, em que o PSD Algarve celebrou um marco importante connosco, ajudam muito. Haverá mesmo uma altura em que teremos de estabelecer contactos com as entidades oficiais e é isso que pretendemos, derrubar barreiras», concluiu o inglês.

«O melhor trabalho do mundo»
No abrigo para animais abandonados, Animal Rescue Algarve (ARA), em Loulé, a equipa tem um membro de staff para cada oito cães. Além disso, um fator que ajuda os membros da equipa e que atrai diversos voluntários de todo o mundo, é o facto de dentro do abrigo existir a possibilidade de se acolherem cerca de 12 pessoas. É o caso de João Ferreira, 24 anos, de Portimão, que vive no ARA há pouco mais de quatro meses.
«É o melhor trabalho que já tive na vida e é fantástico. É o melhor trabalho do mundo. Aliás, isto para mim não é um trabalho, porque estava habituado a fazê-lo voluntariamente noutras associações. Poder fazê-lo e viver aqui com eles é incrível», disse ao «barlavento».

Apesar do jovem não ter formação na área, desde sempre que percorreu o país a fazer voluntariado em vários abrigos. «Assim que conheci este espaço, nem hesitei em aceitar».
E como é o dia a dia no abrigo? Quem responde à questão é o jovem: «fazemos de tudo um pouco. Acordamos às 07h30, reunimos com os voluntários e distribuímos tarefas. Uns ficam na limpeza e na alimentação e a outra metade ajuda na organização dos passeios. Isto porque todos os nossos cães saem duas vezes por dia do abrigo. Quem leva os animais ao parque tem a tarefa de os fazer gastar energia durante várias horas. Depois há também a parte de dar medicação ou fazer determinados tratamentos a cães em pós-operatório ou com certas doenças. Nos dias das adoções recebemos as famílias e encaminhamo-las. Quando há adoções temos sempre de fazer um home check, de maneira a garantir que a família tem todas as condições para acolher o nosso animal e que o mesmo se está a adaptar». Para João Ferreira, o melhor e o pior do trabalho que faz «é o dizer adeus a alguns cães com quem já criámos ligações. É um misto de emoções porque ficamos tristes por nós, mas felizes por eles».