André Gomes deverá apresentar a candidatura à presidência da Região de Turismo do Algarve (RTA), dia 15 de maio, em Faro.
barlavento: Como começa esta hipótese de ser candidato à presidência da Região de Turismo do Algarve?
André Gomes: Confesso que nunca esteve na minha ideia, nem passou pelos meus objetivos. De facto, trabalhei cerca de dez anos no turismo em Portimão e nos últimos cinco na RTA. Como sabe, resido em Portimão e ao longo da minha vida tive algumas oportunidades profissionais de vir para Faro. No entanto, sempre referi que só haveria uma área que me levaria a tomar essa decisão e era precisamente o Turismo. Foi nesse sentido que vim para a RTA, em 2018, a convite do atual presidente, João Fernandes, para trabalhar na promoção, animação e informação turística da RTA. Como disse, ser candidato não estava nos meus planos. Mas face a esta situação, que acabou por ser uma surpresa para todos, de o atual presidente não poder recandidatar-se, foi face a essa impossibilidade que comecei a receber contactos por parte do sector a dizer que, eventualmente, eu poderia ser uma boa solução para dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, tendo dado um contributo útil, creio, para os resultados que o turismo algarvio tem tido nos últimos anos.
Quais são os próximos passos?
Perante estes apoios que fui sentindo desde o início deste processo, logo após o anúncio do João Fernandes em não se recandidatar, defini para mim mesmo uma metodologia para concretizar este desígnio, digamos assim. A primeira pessoa com quem fiz falar primeiro foi o próprio, há cerca de um mês que, desde logo, me transmitiu toda a força e apoio. Depois de falar com o João, naturalmente, entendi que deveria contactar e falar com todo o colégio eleitoral da RTA, que é composto pelos 16 municípios da região, 14 associações representativas do sector das diferentes áreas, dois sindicatos e o representante do governo, que é a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve. É esse trabalho que tenho vindo a desenvolver, sendo que, dos 33 membros do colégio eleitoral, já falei com 27. Fruto desses contactos e tendo registado com muito agrado todos o apoio e encorajamento que me têm sido dados, permitem-me hoje afirmar e assumir que sim, sou candidato a presidente do Turismo do Algarve no próximo ato eleitoral, que terá lugar em meados de junho.
A sua candidatura despoletou reações políticas, sobretudo nos partidos da oposição. Qual é o seu comentário?
De uma forma muito simples, posso dizer que contarei com o apoio, não apenas de autarcas do Partido Socialista (PS), tal como conto com o apoio de um vasto conjunto de associações representativas de todas as áreas ligadas ao sector do turismo, desde empresários, alojamento, agentes de viagens, marinas e portos de recreio, animação, entre outros. E vou afirmá-lo com a recolha das subscrições necessárias para a apresentação da candidatura, processo que está em curso. Segundo os estatutos, é necessário um terço [do total do colégio eleitoral]. Pelo andamento do processo até agora, estou convicto que conseguirei apresentar talvez até mais de dois terços. Obviamente, já estava à espera, mais cedo ou mais tarde, dessas reações. As pessoas podem dizer aquilo que bem entendem, a liberdade de expressão assim o permite. Mas para refutar essas polémicas, o que posso dizer é que não sou nem nunca fui político. Sou militante do PS muito orgulhosamente, desde os 15 anos. Fui dirigente da Juventude Socialista (JS) a nível local, regional e nacional. Muito me orgulhou ter partilhado a direção nacional da JS com Duarte Cordeiro e Pedro Nuno Santos, pessoas que muito estimo e com quem tenho uma proximidade muito grande desde então. Por outro lado, também é sobejamente conhecido, pelo menos das pessoas que me conhecem bem, que a partir do momento em que a minha mãe [Isilda Gomes] entrou numa vida política mais ativa, e, em particular, como presidente da Câmara Municipal de Portimão, eu próprio entendi que não deveria continuar nem como funcionário da autarquia, nem com o exercício de cargos em órgãos do Partido. E portanto, desde há 15 anos que estou pura e simplesmente a trabalhar no turismo e não exerço atividade política ativa. Posso responder a quem diz que esta é uma candidatura do PS, de um político, ou seja o que for, que me apraz muito dizer que não. Sou um candidato à presidência do Turismo do Algarve com um apoio muito significativo de todo o sector, público e privado. Ao longo deste processo tenho contactado com pessoas que até nem conhecia, que não se cruzam tanto com aquela que tem sido a minha atividade ao nível da promoção, assim como falei com pessoas de outros quadrantes políticos completamente contrários ao PS, e foi com muita satisfação e agrado perceber que não me viam, não como candidato socialista ou político, mas sim por aquilo que tem sido o reconhecimento do meu trabalho no sector.
Estes últimos cinco anos foram tão singulares que certamente terá aprendido várias lições. Considera trazer essa experiência para a sua presidência, se for eleito?
Sem dúvida. Claramente esta é uma candidatura de continuidade, até porque nem seria coerente comigo próprio, tendo participado dessa estratégia para estes resultados, vir agora dizer que as coisas não foram bem feitas. Tive a felicidade e a oportunidade de participar naquilo que foi feito nos últimos cinco anos. É um projeto de continuidade, com as mesmas pessoas ao nível das equipas diretivas e de gestão da entidade regional. Não quer dizer, contudo, que não possa vir a dar um cunho diferente. Aliás, acho que tenho uma particularidade que poderá ser uma mais-valia. Sendo eleito, poderei vir a ser o primeiro presidente que fez parte dos quadros da casa antes de assumir o cargo. Em princípio, serei o primeiro presidente que foi dirigente na instituição. Penso que isso vai permitir-me ter uma atitude diferente perante algumas situações, por exemplo, ao nível da gestão corrente. Claro que ao longo deste tempo experienciei todas as dificuldades da gestão e operacionalidade com que nos debatemos todos os dias para fazer acontecer aquilo que se repercute cá fora, nos resultados que vamos obtendo. Nessa medida, penso que isso me irá permitir dar um contributo diferente.
Há quem critique que o Turismo do Algarve tem perdido alguma capacidade de intervenção, à exceção de participar em feiras do sector. Como vê isso?
Não concordo, de todo. Acho que o destino tem um peso tal que permite dizer que nós jogamos na Liga dos Campeões do turismo mundial, em permanência. Esta entidade tem um papel muito importante porque, para já, une o sector público e o privado, coisa que nenhuma outra o faz e pode fazer. Isso é fundamental e estratégico para se obterem os resultados que temos tido. Existe todo um trabalho que não se vê, mas que existe, da entidade regional, em articulação direta com os municípios, por exemplo, e em particular, através da AMAL, envolvendo ainda todos os players do sector privado. Não há outra entidade na região que o consiga fazer como nós fazemos, em prol de uma atividade com a importância e relevância que todos reconhecemos na região.
Tal como o seu antecessor, irá acumular a presidência da RTA e da Associação de Turismo do Algarve (ATA)?
Bem, aquilo que tenho dito é que, por inerência, sim. A menos que os associados da ATA assim não o entendam. É uma associação de direito privado e os associados decidem qual o futuro e qual o rumo a seguir. Eu farei aquilo que é a vontade dos associados. Se entenderem que saindo o João Fernandes e entrando o André Gomes, este passa a ser também o presidente da ATA, eu prosseguirei com aquilo que é a estratégia definida para este mandato e que está em curso até 2024. Se os associados quiserem seguir um rumo diferente, lá estaremos todos para trabalhar em conjunto, como é óbvio. Até porque os associados da ATA também são membros da Assembleia Geral da RTA através das Associações. Ainda sobre esta questão, quando o João assumiu a presidência da ATA, considero que fui das pessoas que mais embrenhei este espírito de um só Turismo do Algarve, porque reconheço os benefícios. Mas também as dificuldades, já que é uma questão de lei, as competências de cada entidade. Uma é um órgão público, que tem competência no mercado nacional e naquilo que é o mercado interno alargado (que inclui Espanha). A ATA faz promoção em todos os outros mercados. Ao longo destes anos, tive muitas reuniões com operadores em que tive de explicar isto. Isto passa-se a vários níveis. O facto de ser o mesmo presidente facilita a tomada de decisão.
A RTA está subfinanciada?
Completamente. Tem sido cada vez mais subfinanciada. Tenho assistido a isso de ano para ano. Em números redondos, quando entrei na RTA em 2018, o orçamento rondava os 8 milhões de euros, incluindo verbas do Orçamento de Estado, fundos europeus e receitas próprias. O problema é que o Orçamento de Estado aprovado pelo governo aplica cativações em cima do orçamento de cada entidade. Por exemplo, é pedido 100 mil euros para uma atividade. Metade da verba pode ficar cativa e só pode ser gasta mediante autorização que muitas vezes não é dada. Ou seja, para além da diminuição do financiamento por via do OE, chegamos a ter cortes sob a forma de cativação na ordem de meio milhão. É difícil equiparar isso ao peso e ao contributo que o Algarve dá ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional ao nível do turismo. Somos, sem dúvida, alguma a região que mais contribui para a economia do turismo a nível nacional, mas, por outro lado, somos também a entidade que menos recebe para a sua atividade. Lido com isso todos os dias. Cada vez que queremos operacionalizar uma ação, temos de ser criativos face aos desafios, para conseguirmos fazer acontecer.
Não se prevê, a curto prazo, aumentar o orçamento?
Vou lutar muito para isso porque isso afetou claramente a nossa atividade. Não tenho dúvida que os anteriores presidentes também o fizeram, às vezes com mais ou com menos efeito. Agora, tendo visto o impacto do subfinanciamento nos últimos cinco anos, e os números a descer, claramente, um dos meus principais objetivos será lutar por um maior financiamento para o Turismo do Algarve. Sei que conseguindo mais para a RTA estou também a conseguir mais para a ATA fazer a sua promoção externa.
Estamos a entrar no novo programa regional Algarve 2030. Poderá vir a alavancar a atividade quer da RTA, quer da ATA?
Sim, até porque têm sido os fundos europeus que tantas vezes permitiram realizar outro tipo de atividade, ou até a nossa atividade normal. Espero que nos permitam ter uma almofada extra por esta via, num trabalho estreito com a CCDR.
Alguns empresários do sector criticam muitas vezes o Turismo do Algarve por ser demasiado lento na promoção do destino em comparação à concorrência. Sendo o homem da promoção, como responde a essas críticas?
Às vezes, infelizmente, tenho de concordar. Isso tem a ver com as limitações impostas pela contratação pública e regras orçamentais e financeiras, às quais a entidade regional está obrigada, e que são escrupulosamente cumpridas. Isso torna menos imediata a nossa ação. Muitas vezes também quem faz esta crítica não tem esta noção, tal como nos criticam de não ter capacidade financeira para fazer determinado tipo de promoção. Isso é devido ao subfinanciamento a que temos estado sujeitos, aos cortes e à questão das cativações que referi e que é claramente castradora. Este nível regional é claramente o mais difícil de fazer coisas que experienciei. Num município, temos um orçamento para executar um conjunto de ações previamente definidas dentro do tempo previsto para desencadear os diferentes processos. Ao nível do governo, as coisas são muito mais macro. Ao nível regional, estamos com um nível de dependência e falta de autonomia tal, que é impossível sermos mais céleres na execução das ações. Temos de seguir um conjunto de procedimentos, de pedidos de autorização a Lisboa, para realizar despesa, para realizar contratos. Tudo isso tem um peso muito grande.
E sobre o seu programa? Que pode adiantar?
Haverá um conjunto de compromissos que todos os subscritores desta candidatura vão assinar e que definem um conjunto de objetivos-metas, uns mais genéricos, outros mais concretos, que se pretendem atingir neste mandato. As principais temáticas passam por continuar a aposta na diversificação e valorização da nossa oferta turística, continuar a aumentar a nossa promoção ao nível internacional, fortalecer as nossas infraestruturas turísticas, sobretudo nos transportes e na mobilidade. Continuar a promover uma indústria turística mais responsável do ponto de vista ambiental e da sustentabilidade. Um ponto muito importante é continuarmos a promover o turismo de longa duração, como por exemplo ao nível do turismo de saúde e bem-estar, para prosseguir o combate à sazonalidade. Vamos continuar a investir na melhoria dos nossos serviços, na capacitação e formação dos nossos profissionais. E fortalecer as parcerias. Acho que há um trabalho a fazer para aproximar mais alguns membros da nossa Assembleia Geral. Vamos continuar a apostar na inovação, ao nível dos nossos serviços e das atividades dos nossos players. Vou arriscar uma data para apresentação da candidatura: dia 15 de maio. Faço questão que seja no auditório da RTA, em Faro.
Alojamento Local «não pode passar de bestial a besta»
«Sou dos primeiros a reconhecer a importância do Alojamento Local (AL). O problema que existe em Lisboa e no Porto não pode ser olhado e transposto para o Algarve. Não tem nada a ver. São realidades completamente diferentes. Acho que o AL veio a resolver o problema da economia paralela que existia, e acho que deu um contributo fantástico para o turismo. E não se pode agora, de um momento para o outro, dizer que passa de bestial a besta. Não podemos passar de um extremo ao outro no imediato. Reconheço que tem de haver alguma regulação. Não creio que o AL seja a causa da falta de habitação no Algarve. Pelo contrário, acho que dá um contributo muito forte na economia das famílias e até na recuperação urbana», diz André Gomes.
365 Algarve: «continuamos à espera de um substituto»
André Gomes, licenciado em Direito pelo Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (ISMAT), de Portimão, e diretor do Núcleo de Promoção, Animação e Informação Turística da RTA, desde 2018, reconhece que o fim abrupto do casamento entre a cultura e o turismo deixou uma ferida na região. «Continuamos à espera de um substituto. Foi um programa fantástico. Provou o impacto positivo ao nível turístico e ao nível da produção cultural da região. Infelizmente, o governo na altura não lhe deu seguimento, tendo dito que iria criar um novo. Também acreditei, mas continuamos a aguardar», lamenta André Gomes. «Tem que haver outro programa do género especificamente para a região. Vou lutar por esse objetivo», promete.
Uniformizar o funcionamento da rede de postos de informação turística via AMAL
«Somos a única entidade regional que tem uma rede de Postos de Informação Turística a cargo. Reconheço claramente a sua mais-valia, e não obstante toda a informação disponível online, a verdade é que registam mais de 500 mil atendimentos por ano», sublinha André Gomes. Há postos municipais em Albufeira, Loulé e Portimão. Os restantes são da RTA. «É muito importante o serviço que prestam. Mas isso também torna a máquina mais pesada», já que empregam cerca de 40 pessoas. «Os municípios são parceiros fundamentais e dos principais interessados na manutenção destes postos. Vou trabalhar num modelo de uniformização da gestão partilhada dos postos de turismo da região com plena e total articulação com os municípios, através da AMAL», ao nível do funcionamento, serviço prestado e imagem. «Acho ser possível uma otimização de recursos e melhor gestão da informação e dos dados que obtemos por esta via, diz. Apesar de já estar aberto desde o início do ano, o novo Posto de Turismo de Carvoeiro é um exemplo, que será inaugurado em breve, em data a anunciar pelo Município de Lagoa, que, refira-se, também pretende criar um novo em Ferragudo.
Renato Pereira é mandatário da candidatura
Renato Pereira, administrador da cadeia Jupiter Hotel Group, é o mandatário da candidatura de André Gomes à presidência do Turismo do Algarve. «É uma pessoa que respeito imenso e fiquei muito muito agradado por ter aceite o meu convite», sublinha o candidato, e com quem trabalhou de perto enquanto no Turismo em Portimão. Ouvido pelo barlavento, Renato Pereira retribui a estima. «Aceitei o convite que o André me fez porque conheço as suas bases e os seus princípios. Conheci bem o seu saudoso pai, conheço a mãe muito antes de ser presidente da Câmara Municipal de Portimão, e conheço o André desde criança. Vinha às festas de fim de ano com os pais e habituei-me a respeitá-lo. Hoje é um senhor e o facto de já estar na Região de Turismo do Algarve, de ter experiência no sector, acho que é alguém que pode fazer alguma coisa pela região como um todo. Não sou político, sou pessoa de negócios, e sempre pensei que quem tem uma loja aberta não se deve meter em política. Mas, acima de tudo, gosto dele e senti-me na obrigação de não negar um pedido a um amigo».