Projeto promovido pelo ABC – Algarve Biomedical Center junta várias entidades públicas e privadas e pretende ser uma incubadora de medidas para promover, desde cedo, um envelhecimento saudável da população.
Será na Escola Profissional Cândido Guerreiro, em Alte, que nascerá, até julho de 2022, o novo Observatório Nacional do Envelhecimento, um projeto do ABC – Algarve Biomedical Center cuja cerimónia de lançamento se realizou na sexta-feira, dia 19 de novembro, no auditório do INATEL, em Albufeira, sob o olhar atento de Ana Mendes Godinho, Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Nuno Marques, presidente do ABC, enalteceu «a aposta no interior, numa zona de baixa densidade demográfica. Este é um exemplo do que deve ser feito neste tipo de instituições, é uma forma de dar um sinal de que o Observatório será importante no combate à desertificação e isolamento do interior».
Segundo o responsável, o motor deste projeto será um grande Centro de Dados que estará disponível «até final deste ano, início do próximo. Terá capacidade para armazenar mais de 385 milhões de megabytes, com possibilidade de expansão e com todas as garantias computacionais e de segurança, com dados que variam desde a demografia, a habitabilidade, a saúde, o trabalho, a reforma, entre outros».
Para analisar toda esta informação, estará ao serviço uma equipa que trabalhará em Alte, dando o pontapé de saída num processo que culminará «numa mudança de vida das pessoas. Isto vai tocar em áreas desde a saúde à social, passando pela componente económica. Começamos a envelhecer ainda antes de nascermos, e há medidas precoces que trarão benefícios mais tarde», apontou Nuno Marques.
As decisões saídas do Observatório Nacional do Envelhecimento serão adaptadas aos tipos de população. «Uma população urbana não terá, obviamente, as mesmas medidas que uma população do interior. Tudo será analisado», disse.
Para isso, e apesar de o arranque oficial do projeto estar marcado para julho de 2022, Nuno Marques quer ter até março de 2022, «bem definido, na forma de um regulamento, o que vamos fazer». E o primeiro relatório de análise de dados tem de sair «durante o ano. Caso contrário não estamos a cumprir os objetivos». O Observatório juntará três centros académicos: a Universidade do Algarve, através do Algarve Active Ageing; a Universidade do Porto, com o Porto4Ageing e a NOVA Medical School, de Lisboa, com o Lisbon AHA – Centro de Referência para o Envelhecimento Ativo e Saudável.
A apoiar o projeto estão, ainda, 14 instituições públicas e privadas: a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), a Algardata, a Câmara Municipal de Loulé, a CCDR Algarve, a Daylife, a companhia de seguros Fidelidade, a Fundação INATEL, a Fundação Vasco Vieira de Almeida, a Garvetur, a Laborial e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que aliás, tem sido uma parceira institucional importante do ABC.
Nuno Marques terminou a sua intervenção destacando o foco dado pelo governo ao envelhecimento. «O tema foi colocado em cima da mesa e o país está a investir imenso nisso. Grande honra ao nosso governo por isso», sublinhou.
Também presente na sessão, José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, apontou às «projeções recentes que colocam Portugal com cerca de oito milhões de habitantes em 2070, naquele que será um dos maiores decréscimos populacionais na Europa». Mas este não é o único sinal do alarme, pois «o índice de envelhecimento no Algarve é elevado, cerca de 149,2 idosos por cada 100 jovens».
Segundo o responsável, estes números «condicionam as dinâmicas de renovação populacional e, por inerência, do mercado de trabalho na região».
José Apolinário enalteceu a localização escolhida para o Observatório, honrando «a tradição algarvia de valorizar a aldeia», deixando ainda o seu «apreço» à presença da ministra, que «valoriza o projeto». As palavras foram bem acolhidas pela governante, que na sua intervenção frisou o «dia histórico para o Algarve».
Ana Mendes Godinho mostrou-se «impressionada pela diversidade de entidades parceiras e a mobilização articulada entre autarquias, centros de investigação, laboratórios, turismo, tecnologia, sector social e indústria farmacêutica. É disto que precisamos, foi isto que aprendemos durante a pandemia: só em conjunto conseguimos ultrapassar momentos críticos».
Considerando «fundamental» a criação do Observatório Nacional do Envelhecimento, a responsável pela pasta do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social lembrou que a pandemia COVID-19, «mostrou quão crítica é a articulação entre a Academia e o mundo real». E deu um exemplo regional: «a academia entrou ao serviço da população no Algarve. O ABC lançou um programa de testagem de profissionais dos lares, que evitou vários surtos. Quando escassearam as zaragatoas para os testes de despiste à COVID-19, foi o ABC que realizou o protótipo para começar a produzir esse elemento em Portugal. E também foi por esta mão que nasceram as Brigadas de Intervenção Rápida nos Lares. Além de tudo isto, mais recentemente, e em conjunto com a Fundação Champalimaud, também nasceu do ABC o estudo do impacto da vacinação e da necessidade da terceira dose da vacina precisamente nos lares».
Agora, destacou Ana Mendes Godinho, o Algarve Biomedical Center lança «um Observatório que será também um instrumento de promoção de Portugal no estrangeiro».
E o local, para a governante, não podia ter sido «melhor escolhido», deixou escapar entre risos, num momento que acabou por coroar com boa disposição o final da sessão: «é que, ainda há pouco, me alertaram que Alte significa velho em alemão (alt)».