Algarve lamenta morte do médico pediatra João Rosa

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CHUA perdeu «um dos seus mais insignes médicos» lê-se na nota de pesar do médico pediatra João Rosa.

O diretor do Serviço de Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatalogia (SMIPN) do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) faleceu na madrugada de sábado, dia 28 de janeiro, numa violenta colisão entre a moto em que seguia e uma viatura ligeira, na Estrada do Moinho da Palmeira, em Faro, situada nas traseiras do Colégio do Alto em Faro, entre as bombas de combustível Auchan e a zona de Bom João, cerca das 00h20.

João Rosa, de 58 anos, que era também diretor dos Cuidados Intensivos Pediátricos, foi transportado em estado grave para o hospital onde trabalhava, mas não resistiu aos graves ferimentos.

No local do acidente estiveram 14 operacionais dos Bombeiros Sapadores de Faro, Polícia de Segurança Pública (PSP) e INEM apoiados por cinco veículos. As causas do acidente vão ser investigadas pelas autoridades.

Em nota pública, o conselho de administração do CHUA manifesta «a sua profunda tristeza pela trágica perda de um dos seus médicos mais insignes. Neste momento de dor, manifestamos a nossa solidariedade e transmitimos condolências à família e amigos do Dr. João Rosa, à sua equipa e ao departamento de pediatria, cientes que a maior homenagem que lhe podemos prestar é cultivar a sua obra, no mesmo espírito de humanismo, dedicação e competência que nela colocou. Além da sua elevada competência clínica, o Dr. João Rosa foi um verdadeiro pilar do CHUA, pela sua disponibilidade total, pela capacidade de motivar a sua equipa, pelo humanismo, pelo investimento constante na melhoria de cuidados. Conseguiu fazer muito com parcos recursos, frequentemente à custa do seu sacrifício pessoal».

A estes votos junta-se a Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve (FMCB), a Associação dos Jovens Médicos, a Federação de Bombeiros do Algarve, o INEM, a União das Freguesias de Faro, além de muito particulares.

Ana Castro Vargues e João Rosa.
Uma vida dedicada aos mais frágeis

O barlavento entrevistou João Rosa em novembro de 2020 no âmbito da reportagem «Nascer Prematuro celebra quatro anos a ajudar pais e bebés algarvios».

À data, o médico, natural de Coimbra, trabalhava Hospital de Faro há 25 anos. Contou-nos que o SMIPN fora construído de raiz, «em cima de uma estrutura que terminava no quarto piso. Na altura, em termos de equipamento, éramos a melhor do país, a unidade de ponta. Entretanto, os equipamentos desgastam-se e as pessoas também. O desgaste do material, mal ou bem, vai sendo substituído. Ninguém fica por cuidar por falta de material. Sou de uma fase em que, no início da minha carreira, o departamento de Saúde da Criança [SMIPN, Consulta Externa, Centro de Desenvolvimento, Internamento de Pediatria e Urgência de Pediatria] era grande, vigoroso e com muita gente jovem. Entretanto, foi sendo depenado porque muitas pessoas foram saindo daqui para os privados ou para outras localidades. Neste momento, este departamento é envelhecido e falta a geração do meio. Tenho 56 anos, depois há malta nova, recém especialistas internos, mas a geração do meio foi-se toda embora».

«A Urgência de Pediatria tem imensa dificuldade em conseguir fazer a escala. Nós, à custa de muitas horas e contratos externos, lá conseguimos assegurar as coisas. Aquilo que mais mudou, e mudou para pior, foi a perda de profissionais que os serviços tinham. A tutela continua a insistir que não será preciso criar atrativos para pôr pessoas nas periferias. Em Lisboa, no Porto e em Coimbra continua a haver muita gente, mas nas periferias como o Algarve, Vila Real, Évora e Beja não se criam atrativos para fixar as pessoas», explicitou o médico.

Palavras que devem ser relidas, não apenas para honrar a sua memória mas para que o trabalho ao qual dedicou a vida profissional, possa, verdadeiramente, ter continuidade e futuro.

Fotos: Maria Simiris.