Centro de Acolhimento de Emergência Social é um projeto do MAPS – Movimento de Apoio a Problemáticas Sociais. Conta com uma resposta para 46 pessoas em situação desprotegida e localiza-se no Patacão, em Faro.
Foi o cruzar da meta depois de quatro anos de trabalho, com uma pandemia e uma guerra em curso que motivou o aumento dos preços e a carência de matérias-primas, mas que acabou por se materializar na quarta-feira, dia 7 de setembro, com a inauguração do Centro de Acolhimento de Emergência Social (CAES), no Patacão, em Faro.
A inauguração do novo equipamento fez parte do programa do Dia do Município, numa cerimónia que contou com a presença de Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Margarida Flores, diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social e Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro.
As instalações ocupam 1400 metros quadrados (m²) distribuídos por dois edifícios com 17 quartos, refeitório, cozinha, lavandaria, sala comum e gabinetes de enfermagem e de atendimento personalizado, rodeados por um espaço verde, que vão permitir acolher, num período máximo de seis meses, 46 utentes em situação desfavorecida ou vulnerável, com vista à reintegração na sociedade. É o primeiro no país com tais dimensões e características, e funciona desde o início do mês.
«É o realizar do maior sonho que algum dia tivemos. Esta casa representa a liberdade e todo um esforço que ao longo de quatro anos percorremos de forma única. Foi um caminho difícil, mas sentir que todo o esforço foi recompensado, é algo único. É um privilégio estarmos na nossa cidade e termos este projeto aqui», começou por dizer no uso da palavra Fábio Simão, presidente do MAPS – Movimento de Apoio a Problemáticas Sociais.
O CAES é um refúgio para «situações de emergência, pessoas que ficam em situação desprotegida, vítimas de violência doméstica, vítimas um incêndio numa habituação, ou alguém que seja colocado fora de casa e não tenha para onde ir. Serve para todo este tipo de situações sociais e para pessoas que queiram, e que acreditamos que consigam ser inseridas na sociedade. Por isso é que todos os processos são revistos entre técnicos da Segurança Social e a nossa equipa. É tudo acautelado para que consigamos garantir a melhor ajuda possível. É um projeto maravilhoso porque atua no imediato», detalhou Fábio Simão.
«Vamos cuidar de A a Z», acrescentou Elsa Cardoso, vice-presidente do MAPS. «Ouvimos o que a pessoa nos quer dizer, tentamos entendê-la e ajudamos naquilo que é a sua vontade e no que pretender vir a fazer. Esta casa dá espaço para se reconstruírem e é uma oportunidade única que evita danos piores de futuro. É muito diferente uma pessoa que vive dois anos na rua, de outra que passou apenas duas noites», referiu o responsável.
Desde 1 de setembro, dia da abertura de portas, o CAES já acolheu oito pessoas. «Duas em regime transitório, que já seguiram, uma que esteve connosco três dias e outra apenas um. Temos pessoas que passaram para o alojamento temporário e que vão ficar aqui três meses, ou seis», caso seja necessário renovar a estadia.
Das 46 camas do CAES, o MAPS tem protocolo para 25 com a Segurança Social e cinco com o município de Faro, sendo que, neste momento, arranca com 30 vagas. Isto porque, «queremos perceber, primeiro, quais as necessidades do Algarve. Ainda assim, todos os quartos estão montados e prontos a funcionar, se necessário», assegurou Fábio Simão.
O CAES vai funcionar todos os dias do ano e conta com uma equipa multidisciplinar disponível 24 horas. Inicialmente, o orçamento máximo previsto para as obras rondava os 200 mil euros, sendo que já alcançou os 600 mil e os trabalhos de requalificação ainda não estão terminados.
«A autarquia ajudou-nos com 180 mil euros e tivemos muitos donativos. Grande parte do material de construção civil foi doado por empresas e o mobiliário por hotéis. Ainda tivemos de recorrer ao banco, com um empréstimo de 310 mil euros», de acordo com o presidente do MAPS.
Questionado sobre o futuro do CAES, Fábio Simão respondeu com total segurança: «torná-lo numa referência nacional, partilhar os melhores dados possíveis e mostrar que é fundamental e uma necessidade da sociedade portuguesa. Se correr como temos a certeza que vai correr, daqui a seis meses estamos a revelar os primeiros resultados que vão mostrar ao governo que esta é uma resposta obrigatória para todas as regiões».
Ana Mendes Godinho: «Algarve é o exemplo»
Ainda no uso da palavra, Fábio Simão dirigiu-se em particular a Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. «A sua forma de trabalhar, de estar e aquilo que faz pelo país e pelas pessoas que mais precisam, é único. Vai além das suas funções de ministra e ficará na história. Isso é aquilo que precisamos. Por isso, um muito obrigado de toda a região».
Para a ministra, a inauguração do CAES, «é uma conquista coletiva de todos nós. É um projeto de comunidade e de sociedade, que se mobilizou em conjunto e derrubou todas as barreiras. É uma vitória que concretiza um sonho que parecia impossível, mas que afinal não o era, porque a força, a energia do serviço e a missão aos outros esteve acima de tudo. Estávamos todos munidos de um objetivo comum: criar um espaço de transformação, que desse uma segunda oportunidade e que garantisse um bem básico, uma casa», começou por dizer.
«Durante a pandemia ficou evidente que ninguém se salva sozinho, só em conjunto conseguimos ultrapassar fases tão difíceis. E ficou evidente como o Estado social é feito da dimensão entre recursos públicos, sociedade civil e sector social que tem esta capacidade de resposta quando as pessoas precisam. Este é um dia que mostra que estamos movidos pela capacidade de transformar o que precisa de ser transformado. Há muitas coisas que precisam de ser transformadas e temos de garantir que damos igualdade de oportunidades a cada uma das pessoas. É isso que estamos a procurar», afirmou ainda.
Ana Mendes Godinho reiterou mesmo que «temos essa missão de vida, porque uma pessoa que está em situação de sem abrigo, é uma pessoa à qual todos nós falhámos, toda a sociedade falhou e temos de perceber o porquê e encontrar respostas para que isso não aconteça. Muitas pessoas, certamente, não tiveram a oportunidade de ter um MAPS na sua vida, mas acho que com este espaço vamos dar essa capacidade no momento certo».
Sobre o Algarve, a governante descreveu-o como «o exemplo em Portugal, porque conseguiu montar uma estratégia regional, com todos a trabalhar em conjunto», revelando números: «neste momento, estas respostas de emergência e transição permitem que no Algarve já tenhamos mais de 160 vagas depois de dois anos, partindo quase de uma resposta inicial de zero».
Portanto, «esta é uma vitória coletiva, de uma estratégia coletiva com resposta integrada para responder individualmente a quem precisa. Obrigada a quem faz impossíveis e concretiza sonhos de todos nós», finalizou.
Uma estrutura «que há muito faltava» na região
Um dos primeiros parceiros do MAPS – Movimento de Apoio a Problemáticas Sociais para a inauguração do primeiro Centro de Acolhimento de Emergência Social (CAES) no Algarve, de acordo com Fábio Simão, presidente da instituição, trata-se da Câmara Municipal de Faro, em concreto o autarca Rogério Bacalhau. «Recordo a primeira vez que entrei no seu gabinete a altas horas, com uns papéis na mão para apresentar a ideia. Ouviu-me atentamente sem dizer nada e, no final, apenas me perguntou do que precisava. Esta frase caracteriza o nosso trabalho, porque é assim que o município tem agido sempre e este projeto é possível também graças a vocês», disse na inauguração da estrutura.
Por sua vez, Bacalhau, no uso da palavra assegurou que se trata de um equipamento «que há muito faltava no Algarve. Digo Algarve porque não vai apenas servir o concelho de Faro, servirá toda a região e se houver necessidade e capacidade, também pessoas que sejam de outros locais. Este é um equipamento que para nós, autarquia e governo, certamente, irá dar uma resposta que nos aliviará a angústia de ver pessoas na rua e não conseguir chegar até elas. Aqui, vamos ter um equipamento que vai dar uma ajuda total: criar hábitos, dar novos princípios, e fazer com que as pessoas possam voltar a contribuir para a sociedade.
Para nós, desde o primeiro dia que este projeto faz todo o sentido e o apoio que damos faz todo o sentido. A todos os que sonharam, ao MAPS e a todos os que ajudaram a concretizar este sonho, um grande obrigado. Continuemos todos a ajudar quem precisa», afirmou.
–
Fotos: Bruno Filipe Pires