O Pacto da Bioeconomia Azul junta 85 entidades nacionais, desde grandes, pequenas e médias empresas a startups e instituições de investigação e desenvolvimento.
O objetivo é ambicioso. «Esta agenda, este pacto visa, acima de tudo, em três anos [até final de 2025], conseguir criar 52 novos produtos e novos serviços que utilizam a bioeconomia azul» em áreas como as algas, biomateriais, bivalves, têxteis, alimentação, rações para animais e peixes, explicou aos jornalistas Miguel Marques, presidente do conselho de administração executivo da Inovamar, à margem do lançamento do Vertical Algas, um dos sete do consórcio, numa sessão realizada na segunda-feira, dia 27 de março, no campus da Penha da Universidade do Algarve (UAlg), em Faro.
O Pacto da Bioeconomia Azul junta 85 entidades nacionais, desde grandes, pequenas e médias empresas a startups e instituições de investigação e desenvolvimento. Segundo Miguel Marques, o objetivo passa por «tentar dar um contributo grande para uma mudança de paradigma que é tornarmo-nos uma economia mais sustentável, que gere mais valor, com emprego mais qualificado. Tudo isso através do mar e, em particular, de tudo o que tenha que ver com a biotecnologia e com a bioeconomia azul que em Portugal é fundamental».
No caso das algas, é «um componente essencial. Grande parte daquilo que estamos a fazer irá gerar novos produtos que têm já necessidades concretas em várias indústrias, nomeadamente, na alimentar», reforçou.
«Temos ativos biológicos no nosso mar muito diversos e muito importantes. Eles estão lá, são um recurso endógeno do país e o que nos falta a nós é conseguir valorizar. Não extrair, mas valorizar. E por isso temos aqui entidades, dos melhores académicos às melhores empresas do país, para tentar, em conjunto, até 31 de dezembro de 2025, entregar várias dezenas de novos produtos assentes nesses biomas marinhos sem os extrair», sublinhou. Questionado sobre qual o papel da região neste pacto nacional, o responsável disse que «o Algarve está muito bem representado. Entre muitas boas realidades, tem investigação científica já aplicada ao tema das algas, um mar de excelência, um sol fabuloso e sabemos que a luz é fundamental. Portanto, estamos na região certa para fazer o kick-off de uma parte do projeto com visão global».
O administrador da Inovamar, que tem no seu capital acionista a Sociedade Francisco Manuel dos Santos e os líderes dos sete projetos verticais (Grupo Amorim, a Oceano Fresco, a TMG, a Canreal, a Necton, a ETSA e Sonae), revelou que o investimento total que todas as entidades irão fazer é ronda os 133 milhões de euros, dos quais, 94 milhões são comparticipados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no âmbito da Agenda Mobilizadora da Bioeconomia azul.
«Todos nós sabemos que, de uma certa forma, o país e o mundo vivem numa situação instável, por vários motivos. Independentemente das crises pandémicas ou das crises que têm que ver com conflitos, já se notava na economia nacional a necessidade de uma mudança de paradigma muito assente nos problemas do aquecimento global. Assim não se pode continuar. Temos de ir para uma economia descarbonizante. O nosso pacto, certamente, deixará uma marca», concluiu.
Por sua vez, o Vertical Algas, liderado pela Necton, conta com a participação de um total de 38 parceiros, 11 das quais do Algarve, desde empresas (Campina, Hubel Verde, Hubel Engenharia e Sustentabilidade, Necton, SeaCulture, Sea4Us e Sparos) a entidades do sistema científico e tecnológico (CCMAR, GreenColab, IPMA e S2AQUAcoLAB).
Segundo referiu João Navalho, biólogo marinho e CEO da empresa, «um dos grandes objetivos é tornar a produção mais sustentável e eficaz e colocar o foco na cadeia de valor. Deixar de entregar biomassa e começar a desenvolver produtos pois é aí é que está o valor acrescentado». Do ponto de vista ambiental, «vamos olhar para energias renováveis e trabalhar ao ritmo do sol, pois no fundo estamos a produzir plantas e queremos seguir esse ciclo para aumentar a sustentabilidade dos processos. Na água, vamos ver pontos de água industrial que possa ser usada por nós», por exemplo, com o output das águas libertadas pela estufas da Huber, ou dos efluentes para cultivar as macroalgas».
As algas têm aplicações nos mercados nutracêuticos e cosmecêuticos, em refeições pré-preparadas e novos alimentos para consumo humano, novos alimentos funcionais para a aquicultura e novas soluções agrícolas (ou seja, biofertilizantes, biopesticidas e estimulantes da microbiota).