Alga japonesa invade as praias do Algarve

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Vários municípios do Algarve estão a gastar milhares de euros para remover a invasão da alga japonesa dos areais.

São várias as praias no Algarve onde a enorme quantidade da alga castanha Rugulopteryx okamurae, originária dos mares do Japão e Coreia, está a causar problemas de salubridade e incómodo aos banhistas.

O surgimento desta espécie em Portugal, que está no mar Mediterrâneo desde o início do século XXI, notou-se mais nos anos seguintes a 2019, tendo vindo a expandir-se e a aparecer nas praias do sul, cada vez com maior intensidade, de acordo com Rui Santos, líder do Grupo de Investigação em Ecologia de Plantas Marinhas do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve (UAlg).

Segundo explicou ao barlavento, a alga terá viajado até à Europa agarrada ao casco de navios e águas de lastro, onde se disseminou através de ventos e marés, cobrindo tanto o mar como os areais.

Um cenário desagradável que tem impedido turistas e locais de desfrutar de dias de calor na praia. Não só o cheiro é pestilento, como o facto de não ser possível chegar perto da rebentação sem se passar pelo tapete de limos, também é difícil nadar sem ficar com algas agarradas ao corpo.

Rui Santos.

Para responder a esta preocupação, é necessário «adquirir mais informação consoante os parâmetros ambientais», diz o investigador. Só assim o CCMAR poderá vir a prever os fluxos da alga japonesa, através de um modelo de produção da biomassa e outro hidrodinâmico e ainda da monitorização dos fundos rochosos onde a alga se fixa, explicou.

O investigador admite que se trata de um problema ambiental, visto que as enormes quantidades levam a desequilíbrios nos ecossistemas marinhos, prejudicando a biodiversidade, a qualidade das praias e até a pesca artesanal.

Os pescadores do Barlavento algarvio lamentam não conseguir exercer a sua atividade porque «a alga infiltra-se nas redes e afasta o pescado», o que também acontece com outras espécies como o polvo que acaba por se afastar da costa.

A Praia do Carvoeiro, situada no concelho de Lagoa, foi das mais afetadas, com as algas a atingirem cerca de 1,20 metros de altura, o que tem afastado as pessoas da vila. Também a Praia da Rocha, em Portimão, foi alvo de uma avultada quantidade de limos na área desportiva, assim como a Prainha, em Alvor, localizada entre arribas onde as rochas favorecem a vida marinha e a prática de mergulho.

Lagos é outro dos locais afetados, na Praia da Batata, de Dona Ana e do Camilo, com a alga a alterar por completo o habitual cenário balnear. Ainda que não seja possível evitar que esta alga continue a proliferar em águas algarvias, pode-se «alertar quando há maior probabilidade de chegarem aos areais para se conseguir desenvolver ações de colheita», explica o investigador sénior do CCMAR. 

Foto: Beatriz Maio/Open Media Group

Alguns municípios têm tentado a remoção desta espécie, porém, a elevados custos, o que se junta à falta de conhecimento do proveito que a alga possa ter, tanto para uso medicinal, agrícola, na cosmética, bem como na produção de energia.

Os municípios afetados dizem não ter capacidade para dar resposta a este fenómeno que requer a contratação de entidades externas e se irá repetir ao longo do ano. A última enchente, que decorreu no fim de semana de 10 e 11 de junho, obrigou a uma resolução rápida em Lagoa, Portimão e Lagos.

As três autarquias, que não dispõem de qualquer apoio regional ou nacional, apelam a que a região seja vista como um todo e o problema endereçado pelo governo, com recurso ao Fundo Ambiental enquanto possível solução de financiamento, sob pena de se verificar um decréscimo significativo no turismo.

Até ao momento, pelo que o barlavento apurou, a Câmara Municipal de Lagoa, só em maquinaria, já gastou cerca de 10 mil euros. Uma despesa que não representa a totalidade dos custos porque a autarquia ainda não decidiu onde serão depositadas as algas, segundo revelou o vereador Mário Guerreiro, responsável pelo pelouro do Turismo, Praias e Litoral. Caso o destino seja o aterro, será necessário pagar 80 euros por tonelada, o que representa um gasto de 24 mil euros.

Foto: Beatriz Maio/Open Media Group

Até ao momento, foram já retiradas 300 toneladas da Praia do Carvoeiro apenas provenientes desta vaga, menos 100 do que em setembro do ano passado, com o município consciente de que este processo não é ideal e terá de ser repetido as vezes que forem necessárias, pelo menos até ao final da época alta. 

Ao ser removida com recurso a viaturas pesadas e máquinas retroescavadoras, está também a ser retirada parte da areia, o que não é benéfico. «No dia em que o Algarve deixar de ser apelativo e considerado um destino de férias, isto vai afetar todo o país e, por isso, temos tentado que o Estado contribua tanto a nível de investigação como monetário», comentou Mário Guerreiro.

Em Portimão, a autarquia recorreu a cinco máquinas e seis camiões da EMARP, com gastos no valor de 10 mil euros, ao que serão acrescentados custos que ainda não foram contabilizados, revelou o vice-presidente da Câmara Municipal de Portimão, Álvaro Bila, com os pelouros Ambiente Urbano e Alterações Climáticas e contratação pública.

Na cidade do Arade, como existia já um procedimento para remoção ou recuo de areia, habitual durante todo o ano para acertar a altura do areal quando se verificam correntes de sueste, o mesmo foi utilizado para retirar as algas. «Sempre que necessário vamos intervir, contudo, a falta de mão de obra vai ser um grande problema. O processo de contratação pública leva no mínimo três meses e não se pode esperar esse tempo», frisou Álvaro Bila.

Ao reiterar que este incidente vai ocorrer inúmeras vezes anualmente, o vice-presidente da Câmara Municipal de Portimão sublinhou que à morosidade burocrática soma-se o facto de «se não existir preparação prévia por parte dos diferentes municípios afetados, não haverá resposta para este problema». 

Também este município questiona o que fará aos 15 mil metros cúbicos (m³) que retirou da Praia da Rocha, colocando a possibilidade de os distribuir por duas empresas que se ofereceram para os transformar em adubo. 

Quanto a Lagos, foi aberto um concurso público de 100 mil euros para a limpeza, contudo, para proporcionar uma solução imediata, foi aberto outro urgente no valor de 49.680 euros, esclareceu o vereador da Câmara Municipal de Lagos, Luís Bandarra dos Reis, com os pelouros Promoção Ambiental e Limpeza e Recolha de Resíduos Sólidos. Neste município foi já decidido que as algas serão depositadas num terreno particular para servir como fertilizante agrícola, mas será ainda necessário perceber como se agirá no futuro.

Foto: Beatriz Maio/Open Media Group

«Isto veio para ficar. É preciso criar condições para estarmos preparados para as próximas vezes. Será preciso dar resposta imediata caso não se queira prejudicar o turismo e a economia», destacou o vereador de Lagos ao acrescentar que «não será fácil», apontando também a falta de mão de obra na região como uma das maiores adversidades enfrentadas.

Algumas das praias deste concelho, tal como nas outras, têm acessos complicados, o que torna o processo «complexo», sendo necessário recorrer a gruas e embarcações. Tal como os colegas dos municípios vizinhos, também Luís Bandarra dos Reis defende que a solução passa por «sugar» as algas do mar antes que cheguem ao areal, o que representa «o futuro».