Albufeira prepara passagem de ano 2020/2021 «em movimento»

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Presidente da Câmara Municipal de Albufeira aprova a ideia de se realizarem testes rápidos de despiste à COVID-19 no Aeroporto de Faro, mas discorda de quarentenas obrigatórias para turistas. Rolo afirma ainda que está pensar seriamente na recandidatura se houver «saúde e condições». Também este ano, a festa de réveillon 2020/201 terá um formato inédito para evitar a concentração de pessoas.

barlavento: Este tem sido um ano atípico. Quando se projetava uma época alta plena e recheada de turismo, rebenta uma pandemia que detém o mundo quase por completo. Como é que se lida com isto?
José Carlos Rolo: É uma pandemia que origina uma crise. É uma crise sanitária, que está a originar uma crise económica e, consequentemente, uma crise social. São dados difíceis de prever, sendo tudo de uma inconstância e insegurança aflitivas. É impossível projetar o que poderá vir a acontecer no futuro. Tudo se faz depender de um antiviral ou vacina, não se sabe quando, e até nem se fala tanto disso já. Dá a entender que isto é um aviso para os governos apostarem em força na investigação científica. É necessário suplantar o lucro fácil, não olhar apenas para o dinheiro, mas ver tudo o que está atrás da cortina. A ciência tem sido muito falada e tem de ser cada vez mais, tem de existir uma aposta em mais verbas.

Em Albufeira, qual o impacto do SARS-Cov-2?
Albufeira tem uma grande dependência do turismo. Temos tentado inverter um pouco isso, diluir essa importância, mas não é fácil. E isso faz com que exista, desde logo, com hotéis e restaurantes fechados, praias limitadas, tudo isso, uma ausência de pessoas a visitar a cidade. Não conseguem praticar o turismo de sol e praia que notabilizou a cidade. Gera-se um efeito dominó e, no futuro, vão aparecer ainda mais problemas com o desemprego. Isto apareceu numa altura em que se começavam a fazer contratos para o verão e, com este acontecimento, muitas pessoas nem começaram a trabalhar pois os estabelecimentos e as empresas não abriram.

Que medidas tomou na cidade para mitigar os efeitos da pandemia?
Tentámos conter a propagação do vírus desde cedo. Encerrámos vários espaços, fomos dos primeiros municípios a fechar, por exemplo, os estacionamentos das praias e as esplanadas. Também encerrámos parques infantis, parques verdes, instalações desportivas e culturais. Fui algo criticado no concelho, mas acabou por se mostrar o caminho certo. Existe sempre alguma insegurança quando tomamos estas decisões, porque não há tempo para pensar, é tudo muito repentino. Passada essa fase de encerramentos, o governo decidiu fechar as escolas. Eu acho que o fecho não deveria ter sido tão repentino, antes algo mais gradual, mas lá está, é difícil ponderar a fundo, porque o vírus avança e não temos tempo para refletir tanto sobre as decisões. Também houve a necessidade de disponibilizar um serviço para levar produtos alimentares a casa de quem não se podia deslocar, como nos casos de vigilância ativa. Agora, teremos uma fase de ajuda alimentar e medicamentosa. Ainda criámos várias estruturas de apoio, como o espaço no Pavilhão Municipal para acolher pessoas que tivessem que estar em quarentena.

Esse espaço teve utilização?
O espaço não chegou a ser utilizado. Utilizámos algumas unidades hoteleiras para isolar pessoas que tinham de ficar em quarentena. Também foi disponibilizada uma unidade hoteleira para profissionais de saúde, Bombeiros, Cruz Vermelha e forças de segurança, para que pudessem descansar sem ir a casa e colocar a família em perigo.

E ao nível dos cuidados de saúde, educação e informação à população, que medidas foram tomadas?
Disponibilizámos um serviço de entrega de refeições no Centro de Saúde, para os jantares, porque eles não tinham esse apoio. Colaborámos em imensa coisa, gastámos cerca de 900 mil euros em Equipamentos de Proteção Individual que foram distribuídos das mais diversas formas, em escolas e até mesmo no Centro de Saúde. Também entregámos kits aos comerciantes com as orientações para a abertura e os equipamentos de proteção. Já enviámos máscaras também para a população, juntamente com o boletim municipal, e fizemos distribuição nos mercados. A máscara tornou-se muito usada em Albufeira. Por fim, fizemos a aplicação de testes, utilizando o laboratório local, o Aqualab, que é certificado pela Direção-Geral de Saúde. Foram mais de 200 testes, nas forças de segurança e Bombeiros. Só um deu positivo, e estava totalmente assintomático. Só por isso já valeu a pena. Os testes que sobraram, aplicámos a todos os educadores e auxiliares que receberam as crianças no regresso ao pré-escolar.

Mas tem aí várias situações que seriam competência do poder central…
Sim, tudo o que foi relativo ao Centro de Saúde seria competência do governo. E nas escolas secundárias, que também não são da nossa alçada, questionei os diretores sobre as necessidades de equipamentos, e ficaram muito agradecidos porque ainda ninguém o tinha feito. O Ministério da Educação só mais tarde fez a distribuição de máscaras nesses espaços. Também adquirimos 800 tablets e 110 portáteis, para emprestar aos alunos de forma a seguirem as aulas digitais, com hotspots para a Internet.

Estão previstos mais testes em massa? Há espaço para um possível rastreio serológico na cidade?
Vou testar todos os funcionários da Câmara que exerçam funções nos campos de férias de verão. Sobre o rastreio serológico, estou a refletir bastante nisso. É minha intenção promover uma ação do género, com uma amostra significativa da população.

Albufeira tem uma grande comunidade migrante e, noutros locais, esses foram enormes focos de contaminação. Por cá existiram problemas?
A comunidade migrante, principalmente oriunda da Ásia, foi alvo de um trabalho importante e que fez toda a diferença, pois tivemos apenas dois infetados em duas comunidades diferentes. Em parceria com a Cruz Vermelha e juntamente com um tradutor, fomos ao encontro das pessoas, para as demover de determinados comportamentos que insistiam em ter e eram arriscados. Além disto, quando tive uma reunião com o Secretário de Estado e coordenador da resposta regional à pandemia, José Apolinário, chamei a atenção para o perigo das carrinhas de transporte de trabalhadores, que eu via muitas vezes a passar completamente cheias. Agora também já há regras, mas foi algo que me gerou bastante preocupação. O problema não era nas obras, mas sim no transporte para a obra e para casa.

Por falar em obras, existiram adiamentos ou atrasos, em empreitadas públicas na cidade, devido a esta situação de exceção?
Nem por isso. Uma ou outra situação administrativa, apenas pormenores, nada de significativo. Até está a ser feita uma obra que não tinha pensado para este ano, na Rua dos Telheiros [acesso à baixa da cidade a partir do Pau da Bandeira]. Costuma ter muito trânsito e esta paragem permitiu avançar logo com essa intervenção, que está praticamente concluída.

E em relação ao verão, ponto alto do ano para grande parte da população ativa albufeirense, como será numa época assolada por uma pandemia desta índole?
Desde logo, os principais eventos e festejos de verão estão cancelados. Isto inclui as Festas do Pescador, o Festival Al-Buhera, Festa do Frango da Guia, Festa da Sardinha e arraiais populares. Mesmo o Dia da Cidade [20 de agosto] será celebrado de forma limitada, algo semelhante às comemorações do 10 de junho. Sabemos que estas festas davam sustento a muitas associações desportivas e, por isso, vamos aumentar os valores dos contratos-programa com os clubes do concelho, para tentar compensar esta ausência de receita e minimizar as consequências económicas. Temos apoiado os artistas locais com concertos online no Auditório, e estamos a preparar um conjunto de ações, que têm de ser muito bem calculadas. Vou ver com muita atenção o que dá e não dá para fazer. Não quero correr riscos nenhuns nestes meses, não vou dar azo à criação de focos de contaminação.

Albufeira é uma cidade com forte oferta de diversão noturna, principalmente bares, que continuam encerrados. Não estará aqui um problema muito grave para o futuro, caso a situação se arraste?
Temos no concelho muita gente a trabalhar em bares. Eu sei que é uma área difícil, onde o distanciamento se complica. Mas penso que, num trabalho conjunto com os proprietários, seria possível abrir esses espaços, de uma forma objetiva e clara, com responsabilização dos proprietários e do staff pelo cumprimento das normas. Caso isso não suceda as consequências serão mesmo muito complicadas, pois trata-se de um tecido empresarial muito forte em Albufeira. E depois vem o inverno. Se estes espaços continuam fechados, vão surgir situações muito delicadas. Mesmo a nível de controlar as multidões, os bares podem ajudar. É que com estes espaços fechados, surgem as festas ilegais ou privadas. O povo português gosta de se divertir, principalmente em férias. E se não existirem espaços para esse divertimento, ele será inventado e aplicado de outras formas, que podem ser bem piores que os bares. Eu concordo totalmente que se deve começar a trabalhar a reabertura desses espaços.

A região algarvia no geral, recebe turistas de vários pontos onde os números de infeção dispararam. Pensa que seria útil ter alguma triagem, por exemplo, no aeroporto?
Eu concordo com a realização de testes no aeroporto, à chegada, desde que de forma rápida. Agora com as quarentenas, não concordo, e também não concebo que as pessoas tenham de esperar dias pelo resultado dos testes que realizem no destino de férias. Se houver a possibilidade de implementar testes rápidos, com resultado em uma hora, por exemplo, sou totalmente a favor da sua aplicação. Tem-se falado da possibilidade de existirem esses testes mais ágeis, mas as coisas todos os dias mudam…agora, claro que a vinda dos estrangeiros é um risco, mas a vinda de pessoas de outros pontos do país também o é. Mas o que podemos fazer? Fechar-nos completamente? Temos de começar a criar alguma normalidade, porque nada garante que surja a tal vacina que tanto falam. Se não morrermos da doença, morremos da cura. E a cura já vai ser bastante dura.

Quer dar algum exemplo dessas mudanças diárias que referiu?
Fomos dos primeiros municípios a desinfetar as ruas e, depois, disseram que afinal a desinfeção não era eficaz. Não concordo que as coisas se digam assim, principalmente porque neste caso não era algo prejudicial à saúde. E é sempre eficaz, porque alguma coisa ficará desinfetada. O aspeto psicológico também é muito importante nestas coisas. Há pessoas que estão sentadas no mesmo sítio, sem contactarem com outras, e desinfetam várias vezes as mãos. E isso, no fundo, também não tem resultado prático. Não concordo que se digam as coisas de forma tão negativa, e tem de haver uma sensibilização ainda mais forte a nível nacional, mais clara e assertiva, sem dizer coisas diferentes todos os dias. Acho que nesta fase tem existido muita gente a falar, e isso não devia acontecer. Muitas vezes basta usarem uma palavra diferente num discurso e isso já causa dúvida, já altera o sentido, e divide as pessoas.

Vê com confiança o cumprimento das regras por parte dos turistas nas praias?
Tenho alguma confiança nesse aspeto. As nossas praias não são das piores em termos de vigilância. Estou confiante que as pessoas, minimamente, respeitem. Claro que haverá sempre alguns casos de distração. Mas para mim há problemas bem maiores que as praias. As concentrações nos Centros Comerciais, por exemplo. Vejo aí uma situação bem mais complexa. Mas a questão das praias, está sustentada sobre dois pilares: a tal sensibilização a nível nacional, e a responsabilidade das pessoas. Eu sugeri que fossem contratadas empresas de segurança privada, mas disseram-me que a competência seria da Autoridade Marítima.

A Autoridade Marítima Nacional tem meios suficientes para a tarefa?
Para vigiar o Algarve inteiro, não. Em Albufeira, contratei mais nadadores-salvadores, para andar também nas zonas não vigiadas das praias a sensibilizar as pessoas e a desmotivar o incumprimento. Não estão lá para multar ninguém. Quando falei dos seguranças, era nesse sentido. Tenho algum receio com estas situações, mas vamos ver.

Num verão que será atípico, a época baixa pode ter um papel determinante na mitigação das consequências económicas desta crise. Existe alguma estratégia de dinamização?
Estamos, através da APAL – Agência de Promoção de Albufeira, a fazer uma campanha forte através dos meios digitais, pois todas as feiras de turismo foram canceladas. Queremos chamar as pessoas cá e vamos realizar eventos para isso. No entanto, a época baixa também tem de ser aproveitada para algumas obras e investimentos que não se podem realizar no verão. Esse investimento em empreitadas públicas também ajuda a diminuir o desemprego nessa altura, fora da parte turística, na construção civil. Aumentam o emprego direto ou indireto.

Um dos pontos altos dessa época baixa é a passagem de ano, que traz milhares de pessoas à cidade. Como se prepara um evento dessa magnitude durante uma pandemia?
Terá obviamente de ser uma passagem de ano diferente, que já está a ser preparada. Claro que o vírus alterou todos os nossos planos e estamos a trabalhar com a sua existência. As coisas têm de ser preparadas com tempo, não podemos esperar por uma eventual evolução positiva da pandemia. Este ano será um evento completamente diferente. Estou a tentar evitar a concentração de pessoas, algo que não é nada fácil numa data destas, mas acho possível, com algo em movimento. Será algo diferente, seguramente.

Atenção especial às estradas é para continuar

Nos últimos meses têm sido várias as intervenções na rede viária de Albufeira. Questionado sobre a continuação das intervenções, José Carlos Rolo foi soberano: «Sim. Temos previstas intervenções em várias vias por toda a cidade: na Estrada da Baleeira, que sobe pelas traseiras da Marina e liga a São Rafael; na Estrada que liga a rotunda da Praça de Touros a Santa Eulália, e daí até aos Olhos de Água; na via entre o Vale Paraíso e a ponte sobre a linha férrea, nas Ferreiras; numa reivindicação antiga, será intervencionada a via entre a Rotunda dos Golfinhos e a Orada, e a Estrada das Sesmarias. A Estrada entre a Guia e Vale Parra também está em obras, embora o empreiteiro esteja a ser algo moroso. Depois, a Rua António Aleixo também será requalificada». O edil de Albufeira explicou ainda que espera arrancar «ainda este ano» com a obra «na Avenida Sá Carneiro [Oura], que tem um projeto praticamente acabado e muito difícil de executar pelo local onde é. O objetivo é fazer quatro a cinco meses de obra. Não ficará toda pronta antes do próximo verão, terá de ser feita por secções. É uma obra estrutural, haverá circulação automóvel reduzida, em zonas de coexistência. Também serão criadas algumas bolsas de estacionamento». Depois, haverá ainda «uma intervenção na Rua do MFA, e na Avenida do Ténis, onde passa o coletor de encosta que retira as águas. Essa obra será muito importante também por esse componente subterrâneo».

Debandada de jovens do concelho causa preocupação

Para José Carlos Rolo, edil do município de Albufeira, tem sido preocupante ver a fuga dos mais jovens para viver noutros concelhos, onde a habitação é mais barata. Por isso, «nesse campo, estou a trabalhar no lançamento de concursos para efetivar obras em Paderne e Ferreiras de construção de habitação a custos controlados. Também estou à procura de terrenos na Guia para o mesmo efeito. Dentro de um ano e meio, dois anos, teremos mais de 100 habitações para disponibilizar no município».

Videovigilância nas mãos da GNR

Questionado sobre a evolução do processo da implementação da videovigilância na cidade de Albufeira, o presidente da Câmara Municipal, José Carlos Rolo, explicou que «o processo, neste momento, está nas mãos da Guarda Nacional Republicana (GNR). Espero dentro de pouco tempo ter uma reunião com a Secretária de Estado da Administração Interna, para abordar esse tema. Incidirá nas zonas da Baixa e da Oura. Também quero questionar o governo sobre a construção do novo quartel da GNR em Olhos de Água».

Recandidatura? Sim, «se houver saúde e condições»

As eleições são apenas em 2021, mas José Carlos Rolo presidente da autarquia albufeirense, não se escusou a abordar uma possível recandidatura. «Se houver saúde e condições para isso, pensarei muito seriamente na questão», atira sem hesitações. Admitiu, também, que tem «muito a fazer em Albufeira. Não consegui fazer tudo o que queria neste tempo de mandato, tenho um plano muito forte para a cidade, com ideias que quero levar avante. Ainda falta muita coisa, muita intervenção».