Os oradores, todos investigadores ligados à Universidade do Algarve, fizeram apresentações de cerca de 10 minutos, precisas e concisas, «agarrando» a audiência, sem exceção. Ester Serrão, João Varela e André Pacheco falaram sobre recursos marinhos e biodiversidade, mostrando os avanços no desenvolvimento na investigação dos recursos genéticos, da biotecnologia e das energias renováveis marinhas.
José Leite Pereira, Margarida Castro e Fernando Perna focaram-se na chamada «economia azul», abordando a importância das pescas no Algarve, os conflitos de interesses entre Portugal e a União Europeia relativamente a este setor, e o potencial económico existente na náutica de recreio e no turismo costeiro e marítimo.
No debate, moderado pelo diretor do Jornal da Economia do Mar, Gonçalo Magalhães Collaço, os eurodeputados Cláudia Monteiro de Aguiar (PSD), Ricardo Serrão Santos (PS), João Ferreira (PCP) e António Marinho e Pinto (independente), todos membros da Comissão das Pescas do Parlamento Europeu, responderam às perguntas colocadas pelo público e apresentaram as suas opiniões sobre as diversas matérias abordadas.
Encerrou a sessão o mais prestigiado investigador nacional, Mário Ruivo, recentemente galardoado com o prémio «Cidadão Europeu 2015».
«Ao fim destas décadas, este encontro tem características muito especiais, pelo facto de estarmos aqui com deputados ao Parlamento Europeu. Como eu gostaria de ter tido encontros deste tipo com os deputados nacionais, para discutir o mar português. Alguém perguntou, há pouco: como é que os senhores deputados veem o mar, em Bruxelas? Eu perguntaria: como é que os senhores deputados nacionais veem o mar português?», sublinhou o biólogo Mário Ruivo.
«Estamos a assistir a uma coisa espantosa – a ocupação tridimensional de dois terços do nosso planeta, da costa para o largo, e da superfície para os fundos. As sociedades estão a ser confrontadas com uma situação nova. Não temos guelras e costumo dizer que, no mar, o Homem, sem conhecimento científico e sem tecnologia, é cego, surdo e mudo. O problema do mar é que o bicho-homem está finalmente confrontado com uma dimensão absolutamente nova que o Cousteau tentou, de uma maneira extraordinária, tornar mais real para a maioria da população».
A investigadora Ester Serrão, em entrevista exclusiva ao «barlavento», disse que a costa portuguesa, e o Algarve em particular, têm características únicas no panorama europeu.
«Estamos na confluência entre a Europa do norte e as espécies de água fria que chegam a Portugal e têm aqui o seu limite sul; também temos as espécies de águas quentes, que vêm do Mediterrâneo e de África e têm aqui o seu limite norte. Essa mistura dá–nos uma grande diversidade genética para as mesmas espécies, que não existem noutras zonas. Há muitas espécies que, apesar de existirem com grande abundância nos mares do norte da Europa, são mais pobres do ponto de vista genético».
Interrogada sobre o fluxo de investigadores e investigações marinhas na costa algarvia, Serrão esclareceu que «na Universidade do Algarve há vários grupos que estão a estudar a diversidade genética. Mas que também há muitos investigadores estrangeiros, europeus e de fora da Europa, que vêm ao Algarve especificamente para estudar os organismos marinhos que aqui vivem. Muitos deles vêm na época baixa, o que é bom para o turismo, e ficam durante longos períodos, utilizando os nossos laboratórios, simplesmente porque existe essa grande biodiversidade no mar. Essas pessoas também contribuem para o desenvolvimento regional».
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João Ferreira criticou política europeia das pescas
O eurodeputado João Ferreira, biólogo de formação, aproveitou para sublinhar, de novo, ao «barlavento» a sua posição critica relativamente à política de pescas da União Europeia.
«Não pode ser apenas uma política de conservação de recursos, tem de ter outros objetivos. Desde logo, abastecer as populações de pescado, conservando ao mesmo tempo os recursos. Ou seja, não impedindo que, no futuro, se possa continuar a pescar. A criação de emprego, o desenvolvimento económico das comunidades costeiras também devem fazer parte das preocupações de uma política de pescas. E isso tem sido esquecido pela União Europeia. É por isso que temos tido uma intervenção muito firme na defesa da pequena pesca, costeira e artesanal, pelo peso que tem na frota nacional, pela capacidade que tem de criar riqueza que seja usufruída pelas comunidades costeiras».