20 anos de Ryanair em Faro «mudaram o turismo no Algarve»

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Operação da Ryanair, companhia irlandesa de baixo custo, trouxe  a «acessibilidade» ao Algarve que permitiu duplicar os hóspedes em 20 anos.

Tudo começou com uma ligação entre Faro e Dublin, rota que agora tem uma frequência semanal de 56 voos. Passadas duas décadas, a operação da companhia aérea irlandesa Ryanair ajudou a democratizar o acesso ao destino Algarve, contribuindo para que o número de hóspedes na região duplicasse de 2003 para 2023, segundo contabilizou aos jornalistas Daniel do Adro, um dos vice-presidentes da Associação de Turismo do Algarve (ATA), na terça-feira, dia 30 de maio, numa conferência de imprensa para assinalar a efeméride, em Faro. 

«Os nossos números são do Instituto Nacional de Estatística (INE). Há um crescimento superior a 95 por cento e o crescimento dos proveitos totais aumentou 200 por cento. Triplicou, portanto. Há esta presunção que a Ryanair é para o turista low cost, nem sempre. O mais importante é garantir acessibilidade, e quando há, é para todos os bolsos», apontou. 

«Porque o turista que quer vir para cá e tem uma alternativa usa-a. E nós precisamos de crescer em acessibilidade, isto é, de garantir que quem toma conhecimento do Algarve por todos os esforços de marketing que fazemos, consiga deslocar-se, sem grandes barreiras», acrescentou.

Neste aspeto, «a Ryanair é um dos nossos grandes parceiros nesta área, é a maior companhia aérea que temos neste momento no Aeroporto Internacional de Faro».

A Ryanair tem atualmente 47 rotas, oito das quais novas, e 10 aviões baseados em Faro, sendo que este ano a companhia espera alcançar um total de 3,5 milhões de passageiros em Faro.

Além disso, segundo denotou o responsável da ATA, «houve uma alteração da dinâmica em relação ao turismo no Algarve. Houve mais companhias aéreas a olhar para nós, como a easyJet e outras. É um efeito de arrasto. Quando temos alguém a apostar na região, é mais fácil trazer mais» agentes, sublinhou, lembrando que a companhia aumentou a presença do Algarve nos mercados tradicionais, mas também noutros.

Daniel do Adro admitiu até que esta operação, «de certa forma, transformou o Algarve. O turismo é muito dinâmico, tem-se transformado a si próprio, mas sem a acessibilidade falta-nos sempre o ponto de partida». 

Questionado acerca das capacidades das infraestruturas, e se o Algarve tem capacidade para crescer em número de hóspedes, Adro considerou que «o sobreturismo ainda não é um drama para se discutir. Efetivamente, há margem para crescimento. Nós diversificarmos a forma como disponibilizamos e oferecemos o destino. Esse incremento de acesso permite-nos promover também, de uma forma distinta, diferentes motivações e estadias e isso é interessantíssimo para a nossa economia. A questão é que nós vemos uma ligação aérea e isso não significa uma repercussão direta no número de turistas. Alguém que tem uma facilidade de aceder cá, pode vir passar fins de semana e isso já é um perfil diferente de quem vem passar as férias de verão», comparou.

Em relação ao combate à sazonalidade, «esse é o drama de todas as regiões que dependem muito do clima como um fator de atração diferenciador. Não somos a única. Mas o próprio turista também se qualificou e já não está tão conotado com o bom tempo. Por outro lado, o facto de termos uma maior pool de rotas, garante que conseguimos ir buscar este tipo de turista. Ainda não é a maioria, mas, cada vez mais, temos um turista interessado em conhecer experiências gastronómicas, à tradição de vinho, às experiências do turismo criativo», à semelhança da campanha que está agora a decorrer na vizinha Espanha.

Segundo Elena Cabrera, diretora da Ryanair para Portugal e Espanha, no período de verão definido pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), que começou a 26 de março e se prolongará até 29 de outubro, há um aumento de 20 por cento na capacidade nas rotas da companhia no Aeroporto de Faro em relação ao ano passado, sendo expectável, em toda a Europa, que haja mais passageiros transportados, devido à subida do dólar.

Questionada acerca das greves dos controladores aéreos em França, Elena Cabrera admitiu que a Ryanair vai ser muito impactada, até porque é uma companhia que apenas voa na Europa. «O problema é que as greves serão anunciadas com 48 horas de antecedência. Para uma companhia como a nossa que tem 3000 voos diários, é muito complicado fazer ajustes à operação. Em Portugal, Espanha e Grécia, os sobrevoos são protegidos quando há uma greve, assim como os voos domésticos. Em França não existe essa legislação. Portanto, o que estamos a tentar fazer é pressionar Bruxelas para tentar implementar essa medida, porque essa lacuna tem impactos em países periféricos que precisam» destas ligações.

Ainda sobre este assunto, Cabrera admite atrasos e cancelamento, não só por parte da Ryanair, mas de várias congéneres. «Sim, caso as greves continuem até setembro. De janeiro a abril, já tivemos 300 voos impactados pela greve dos controladores aéreos», disse.

Alberto Mota Borges, Daniel do Adro e Elena Cabrera.

Questionada sobre a relação com o Aeroporto de Sevilha, a representante da empresa irlandesa disse que não é destino concorrente. «É também uma base muito importante para nós, onde também estamos a crescer. Temos operações em aeroportos separados por uma hora de distância», noutros locais da Europa, de forma a dar opções mais cómodas de viajar.

Alberto Mota Borges, diretor do Aeroporto de Faro, disse que a aerogare está a recuperar das quebras registadas durante a pandemia de COVID-19, sendo expectável que este ano sejam atingidos os números de 2019, o melhor ano de sempre para o turismo até agora.

«Esperamos este ano atingir os números daquele que foi o melhor ano de sempre no nosso aeroporto, até porque desde outubro já tivemos mais passageiros em termos homólogos do que em 2019», contou.