A Federação Portuguesa de Ciclismo olha com preocupação para o Plano de Recuperação e Resiliência.
Segundo uma carta aberta hoje divulgada, a Federação lamenta que o Plano «que poderia ser uma oportunidade também para o desenvolvimento do desporto, é, isso sim, uma oportunidade perdida. A importância do desporto para o bem-estar e a saúde das pessoas e da sociedade, para a ativação da economia e até, no caso do ciclismo, para a defesa do ambiente e para a mobilidade ativa sustentável, justificavam outra centralidade do sector nas prioridades do país».
Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, considera que o Estado deve criar «condições para a retoma do desporto, no prazo mais breve possível, compreendendo as dificuldades acrescidas do movimento desportivo no pós-confinamento. Quanto maior for o período de paragem, mais difícil será trazer de volta praticantes, sobretudo jovens».
Além disso, «a crise económica criará barreiras à captação de patrocinadores privados. O investimento no desporto é altamente reprodutivo, de forma direta e indireta. Todo o investimento no desporto gera mais-valias económicas, pois é investido na economia, através da contratação de serviços inerentes à realização dos eventos, à deslocação de praticantes, equipas e atletas, e à dinamização da hotelaria».
De forma indireta, «a competição desportiva motiva os adeptos, de todas as idades, à prática da atividade física e uma modalidade como o ciclismo tem ainda a capacidade de divulgar territórios e de captar turistas».
«A necessidade de alargar o número de pessoas ativas, em defesa da saúde e do bem-estar, e o respeito pelo direito constitucional de acesso generalizado ao desporto deve obrigar o Estado a investir no sector», lê-se ainda na carta aberta enviada à redação do barlavento.
De outro modo, «corre-se o risco de aprofundar o fosso entre aqueles que têm meios para a prática desportiva e de atividade física e os outros, muitos mais em tempo de crise económica, que não têm meios para custear este direito constitucional. É, pois, urgente capacitar e dotar de meios financeiros as entidades que terão em mãos a desafiante tarefa de reativar a atividade desportiva».
Delmino Pereira sublinha que «Deve ser um investimento inteligente, percebendo que o desporto é feito de diferentes realidades. As modalidades que se praticam na via pública, como é o caso do ciclismo, têm dificuldades acrescidas, como o pagamento de policiamento, a contratação da montagem de estruturas itinerantes, custos com medidas sanitárias logisticamente mais complexas por terem de ser adaptadas à via pública.
Por outro lado, «são modalidades sem receitas de bilheteira e que não fazem impender sobre o Estado custos avultados de construção e manutenção de infraestruturas. Ainda no caso do ciclismo, Portugal tem todo o interesse no investimento na prática quotidiana, enquanto modo de transporte, dado que tem uma importante fileira exportadora da indústria de bicicletas, acessórios e componentes», conclui a carta aberta.