Equipamento cultural de Faro terá um programa especial que abraça todas as artes, dando continuidade às residências artísticas na Culatra e mantendo a importância da intervenção social, sem esquecer os artistas locais e alguns grandes nomes do panorama internacional.
Numa altura em que o Teatro das Figuras celebra 15 anos de vida, «a ideia foi pensarmos em 15 momentos, que de algum modo sejam âncora para a programação, pela sua exclusividade e pela nossa intervenção nos mesmos», explicou Gil Silva, diretor, durante a apresentação à comunicação social da nova programação para 2020, ontem, quinta-feira, 23 de janeiro.
Algumas experiências que tiveram sucesso são para continuar, como é o caso do projeto «Entre Muros» que envolveu os reclusos da prisão de Faro em atividades performativas.
Também o «Ritmos & Poesias», dirigido a jovens em situação de risco, surgirá renovado. Terá novo nome e passará a incluir a dança enquanto ferramenta de intervenção.
As residências artísticas na Culatra são para continuar, até porque «correram muito bem no último ano e, nesta época, vão aumentar, começando muito em breve», adiantou Paulo Santos, presidente do conselho de administração do Teatro das Figuras e vice-presidente da Câmara Municipal de Faro.
Também presente na apresentação, o autarca Rogério Bacalhau deu um voto de confiança a Gil Silva.
«Tem carta branca para escolher a programação que quiser, apenas com a missão de escolher qualidade e fazer com que as pessoas venham, se sintam bem e saiam satisfeitas», sublinhou o presidente da Câmara Municipal de Faro.
Para 2020, haverá música, teatro, circo e momentos de tertúlia que prometem pensar a cidade de Faro.
O arranque está marcado para segunda-feira, dia 17 de fevereiro, com um concerto dos Tindersticks, «banda muito famosa nos anos 1990 e que tem poucas datas em Portugal», disse Gil Silva. Trazem na bagagem o novo disco, «No Treasure but Hope», o 11º da carreira do grupo de Nottingham, Reino Unido.

Outro nome internacional na agenda é Gal Costa, figura maior da música brasileira que «dispensa apresentações» e traz à capital algarvia, no sábado, dia 4 de abril, o espetáculo «A Pele do Futuro».
Por outro lado, mantém-se a aposta nos artistas locais. É exemplo disso o «FIT (IN)» na quinta-feira, dia 12 de março, com Yola Pinto e João de Brito. «Um espetáculo que une o teatro e a dança» e que terá uma sessão para jovens e uma para o público em geral.
Uma novidade é a apresentação do «Teatro de Vizinhos», que «junta uma grande senhora do teatro comunitário, Edith Scher à comunidade local». O espetáculo será no sábado dia 18 de abril, e terá coprodução do Colectivo JAT – Janela Aberta Teatro, dirigido por Miguel Martins Pessoa, que já orienta, desde o passado dia 18 de janeiro, a formação deste espetáculo.
Outro artista farense a pisar ao palco das Figuras será Mica Paprika, com a uma nova produção de circo contemporâneo, que terá «arremesso de facas, engolir de fogo, escapismo, malabarismo com moto-serra, equilibrismo sobre catanas, e muito mais».

Aliás, a arte circense contemporânea é uma forte aposta que começa já no dia 20 de fevereiro com «Sopros» de Dolores de Matos e Luciano amarelo, e mais tarde, em outubro, com «Otus» da companhia galesa Oliveira & Bachtler.
Outro dos destaques é Tiago Cadete, de São Brás de Alportel, que também vai fazer no Teatro a antestreia da peça «Atlântico», no dia 28 de novembro.
Para o público infantojuvenil, Gil Silva destaca dois espetáculos. «Quem tem Faro para a ópera», destinado a aproximar a música erudita dos mais novos, e «O Meu Amigo Robô», uma produção da Tânia Silva e de Miguel Neto para bebés, que une o teatro com a música eletrónica.

Na programação paralela, lugar para as «Palavras à Solta», uma tertúlia para refletir sobre clássicos da literatura, cinema e música. Depois, o ciclo «Ideias em Palco» e as oficinas «que já costumamos ter, desde circo contemporâneo, máscaras, teatro musical».
O ciclo «Às Quintas no Teatro» também se mantém, dedicado a espetáculos mais intimistas que acontecem no pequeno auditório, para companhias que estão a aparecer, com preço mais convidativo.
Teatro das Figuras vai juntar «As Cortes de Faro»
No encalço de um desafio lançado ao ator Rui Catalão, o Teatro das Figuras apresenta o projeto «As Cortes de Faro» no dia 13 de junho.
Segundo explicou aos jornalistas Gil Silva, o objetivo é «pensar, em conjunto, no que é Faro. Nas cortes reuniam-se pessoas para falarem nos problemas das cidades. A ideia, aqui, é reunir grupos identificativos da cidade e pô-los a conversar sobre as problemáticas que considerarem pertinentes. Não será bem teatro, mas performance», detalhou.
As comemorações no 15º aniversário serão no dia 1 de julho, com uma série de atividades envolvendo companhias locais, «em que vamos mostrar outras partes do Teatro a que o público não costuma ter acesso».
Orquestra Clássica do Sul em destaque
Nos dias 20 e 21 de março, haverá estreia absoluta. «Romeu e Julieta» juntará o Quorum Ballet à Orquestra Clássica do Sul (OCS), numa coreografia de Daniel Cardoso e música de Sergei Prokofiev, trabalho que está na calha desde o ano passado.
O palco farense receberá nova estreia absoluta no sábado, dia 9 de maio, no âmbito do Festival «Os Dias de Jazz». Segundo Gil Silva «o compositor português Filipe Raposo compôs uma obra para a OCS. Será um concerto para piano e orquestra com direção orquestral do maestro Rui Pinheiro».
A OCS voltará a palco de 28 de outubro a 1 de novembro, com um «Integral das Sinfonias de Beethoven» para assinalar o 250º aniversário do nascimento do compositor alemão. Serão tocadas as nove sinfonias, duas por dia, sendo que a nona será tocada no último dia do ciclo.

Coreógrafa lacobrigense Maria Ramos desafiada
Em setembro, de 17 a 26, há lugar para o «Festival Dance, Dance, Dance», numa criação «resultante de um desafio à coreógrafa lacobrigense Maria Ramos. A ideia é que ela faça uma seleção de bailarinos do Algarve e que depois os coreografe», enquadrou Gil Silva.
No fundo, este festival será «um momento para os potenciar, dando palco para que mostrem a sua qualidade, integrados no Festival de Dança Contemporânea que mostra o melhor que se faz a nível nacional com criações locais de Carolina Cantinho, Sérgio Mendes, Filipa Rodrigues, entre outros».
Autarquia prometeu melhorias no espaço
Durante a apresentação da programação para 2020, ficou a certeza que a programação ainda poderá vir a ter algumas surpresas. «Na semana passada fechámos um conjunto de tournées que vêm a Portugal. Estamos a falar de produções internacionais. Também fechámos um conjunto de produções que vão estar em tournée mundial e que vão passar pelo Teatro das Figuras», disse Paulo Santos.
O vice-presidente do município admite que «a dimensão da sala é curta para muitos espetáculos que gostaríamos de receber», mas que este ano «vão ser implementadas outras melhorias que dão mais valências» ao equipamento.
Em relação a estatísticas, em 2019, «tivemos 160 sessões, que se traduzem em 53787 espetadores, uma taxa média de ocupação de 69 por cento. No primeiro ano, em 2005, tivemos 66 sessões com 24718 pessoas. 23 por cento das 160 sessões tiveram esgotadas. Houve um crescimento quase gradual e que tem sido sustentado. Uma das coisas que temos sentido é que antes alguém vinha ao Teatro para um espetáculo em específico. Hoje, compram-se bilhetes para vários espetáculos. Perguntam que mais temos no teatro, na dança, na música e numa vez só compram mais experiências, mais espetáculos», detalhou Paulo Santos.
Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, considerou que o Teatro das Figuras é «o melhor equipamento desta área abaixo do Tejo»
O autarca considerou que «felizmente as coisas têm corrido bem. Hoje há uma confiança na equipa que aqui está, há uma confiança no próprio concelho, na própria região. Conseguimos trazer artistas que fazem poucos espetáculos, como o Luís de Matos e o Caetano Veloso».
«Não é fácil conseguir esta confiança para que os artistas venham ter connosco. A confiança não é no presidente da Câmara, é naquilo que o Teatro tem feito, em particular a sua equipa. Tivemos ao longo do ano muitas sessões completamente esgotadas. E não são apenas pessoas do concelho de Faro, são pessoas da região e às vezes de fora». Para 2020, Rogério Bacalhau tem apenas um desejo. «Que tudo corra da mesma forma ou melhor ainda», concluiu.