Novo super espetáculo coletivo protagonizado pelo acordeonista algarvio Nelson Conceição levou quase um milhar de pessoas ao Largo da Sé, no dia do município de Faro.
Nelson Conceição, acordeonista, professor, compositor, estudioso, produtor e músico bem conhecido e querido de muitos algarvios, está a percorrer a região com uma tournée destinada a apresentar a sua mais recente criação «Eis o Algarve».
Na noite de ontem, 7 de setembro, data em que Faro celebrou o dia do município, Nelson Conceição apresentou ao vivo esta nova criação, no Largo da Sé, na companhia de Ana Patrícia Correia (violoncelo), Francis Mata (bateria), João Pedro Cunha (violino), Luís Henrique (baixo), Marta Santos (viola d’arco) e Zé Miguel Vieira (guitarra).
O espetáculo contou ainda com as vozes de Melissa Simplício, Cristina Paulo e Amabélio Pereira.
No concerto, atuaram cinco membros do Rancho Folclórico: Helena Franco (ferrinhos) e os bailarinos Dahir Bauer, Paula Pereira, Eugénia Pires e Miguel Zeferino
Músico natural da Bordeira, Nelson Conceição divide o seu tempo entre as aulas de acordeão com jovens alunos, audições e concertos.
Tem vindo a participar em vários concursos do instrumento e, envolve-se em iniciativas ambiciosas ou até, por vezes, arrojadas.
O lançamento do último trabalho discográfico «Descobrindo-me», em 2019, e os concertos que levou a cabo para a apresentação do mesmo ficaram na memória de muitos apreciadores do acordeão algarvio.
Agora, neste pós-pandemia, tem em mãos um novo projeto ambicioso.
Trata-se da continuação do projeto «Terra de Acordeão» e Antologia das Charolas de Bordeira.
«Eis o Algarve» teve estreia nas Ruínas de Milreu, em Estoi, e foi também apresentado no Forte do Beliche, em Sagres.
Em novembro, estará no palco do Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa.
Está prevista uma apresentação na Ilha da Culatra, que se antevê como absolutamente ímpar, quer pela paisagem envolvente, quer por toda a logística que envolverá.
Quem acompanha o imaginário cultural e criativo de Nelson Conceição, saberá reconhecer a singularidade e genuinidade em «Eis o Algarve».
Este projeto é resultado de uma encomenda do município de Faro no âmbito da programação em rede «Bezaranha – Há ventos que vêm por bem», e que juntou três associações culturais do concelho para que tornar possível esta criação: a Associação Recreativa e Cultural dos Músicos (produção), o Grupo Folclórico de Faro (apoio à criação) e a Sociedade Recreativa Artística Farense (apoio à produção).
É, ao mesmo tempo, um concerto inspirado e popular.
Reflete uma identidade muito particular, com a qual muitos algarvios de várias gerações se identificam.
Quem duvidar, basta saber que a quase totalidade dos 960 lugares sentados da plateia foi preenchida por um público heterogéneo que, em sucessivos momentos cantou, bateu palmas, dançou nas cadeiras, gritou com entusiasmo.
Também é verdade que poderá não estar toda a região em «Eis o Algarve».
Mas está, de certeza, uma parte especial, evocada por tempos recentes que muitos recordam com enorme prazer.
O corridinho algarvio, os bailes-de-roda noite dentro, as charolas de ano novo, os ranchos folclóricos, os trava-línguas e as lengalengas, tudo ao sabor do acordeão alegre e sentimental.
Nelson Conceição é um profundo conhecedor desse universo cultural popular algarvio, construído com tantos momentos de efémera felicidade.
Viveu-o desde pequeno e ainda vive em adulto.
Todas essas recordações de boa memória estão presentes em «Eis o Algarve».
Fá-lo adicionando-lhe elementos de contemporaneidade que, não sendo originais, contribuem decisivamente para envolver o público e sublimar imaginários de identidade regional.
Pedro Monteiro, professor que influenciou uma geração de farenses e dinamizador do grupo te.atrito, é o narrador que enquadra as imagens que se vão sucedendo no enorme cenário de fundo e que transportam o mais alheado espectador para um Algarve cativante e arrebatador. O espetáculo torna-se não apenas num mero evento musical, mas também, ou talvez mesmo em especial, num evento cultural.
Nelson Conceição, à conversa com o barlavento, destaca o primeiro tema do alinhamento, «Ode ao Algarve», um dos inéditos do espetáculo.
«São 12 minutos e deram-nos mais trabalho a prepará-lo do que quase todos os restantes temas do concerto. É um resumo do que é um determinado Algarve, com as suas tradições, ofícios, cantigas, danças e vivências rurais e piscatórias, através da música e com a poesia de Rui Vargues. É uma peça que tem um narrador, que tem vídeos, alguns gravados para o efeito e outros reaproveitados, com edição de José Jesus. A fasquia está alta e cria muitas expectativas. Revisitámos também temas ligados ao carnaval, ao trabalho nos campos e nos barcos de pesca, aos namoros dos jovens, às festas nas aldeias e aos cantares ao despique».
«Relembramos autores e intérpretes como As Moças Nagragadas, Sebastião Leiria, António Madeirinha, João Barra Bexiga e José Ferreiro ‘Pai’. Relembramos um romance, triste como eram os romances que contavam episódios de vida, relembramos a angústia das mulheres dos pescadores quando eles estavam embarcados em dias de tempestades, relembramos a alegria envolvente da ‘Alma Algarvia’. Passámos por todos os concelhos da região de uma forma ou outra, e quisemos muito que assim fosse!”
Nelson Conceição destaca ainda a recetividade que tem encontrado no público, em Faro e também em Estoi e Sagres.
«O público tem sido sempre fantástico. Penso que estão a sentir os concertos com o mesmo entusiasmo que todos nós, e temos recebido quase sempre críticas muito positivas. Acho que posso dizer que o público se identifica com este espetáculo e fica feliz de poder assistir ao «Eis o Algarve».
E, assim sendo, quem perdeu «Eis o Algarve» em Faro, tem até ao final deste ano duas oportunidades para assistir à mais recente criação de Nelson Conceição e da vasta equipa que com ele tem vindo a revelar esta experiência cenográfica, musical e cultural.
O músico termina a conversa com o barlavento exprimindo a sua satisfação pelo espírito de grupo que se criou em todos os envolvidos em cada um dos concertos.
«Há um espírito de equipa muito grande e isso tem sido um dos fatores do sucesso que estamos a ter. Por isso, no final de cada atuação, faço questão de chamar toda a gente ao palco. Se o público nos quiser aplaudir, estamos todos juntos. Não apenas os músicos, os cantores e os bailadores».
E revela que levar «Eis o Algarve» para fora dos limites da região é um sonho que não sabe ainda se será possível concretizar.