O Festival Verão Azul chega este ano à 10.ª edição e celebra uma década dedicada à descentralização e criação em arte contemporânea no Algarve.
Uma bomba relógio prestes a explodir no Algarve com novos trabalhos de Pauliana Valente Pimentel, M̶i̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville, ZA!, Sérgio Pelágio, entre muitos outros.
O Verão Azul – Festival Transdisciplinar de Artes Contemporâneas apresenta, de 4 a 20 de Novembro, em Lagos, Loulé e Faro, 29 propostas artísticas em áreas como fotografia, música, teatro, performance, cinema, entre outras, continuando a promover a forte criação e difusão de expressões artísticas e singularidades estéticas na região do Algarve.
Com direção artística da dupla de artistas Ana Borralho e João Galante e curadoria de Catarina Saraiva, em 2021, a programação do Verão Azul centra-se em temas da contemporaneidade como o ambiente, os direitos humanos, a igualdade e a precariedade, através do que de mais experimental se faz na produção artística nacional, internacional e local.
Segundo a curadora Catarina Saraiva, «este ano focamos a atenção no encontro, na possibilidade de que cada peça permita criar um espaço para que cada espectador possa encontrar o seu íntimo e a sua alegria. Nesta edição trabalhámos para conseguir chegar a alguma felicidade, àquela que nos permita ter consciência da importância de viver. E de percebermos como por vezes, explodir não é negativo».
Seguindo a lógica de interligação entre municípios do eixo Barlavento-Sotavento algarvio, em cada semana do evento, uma cidade será o centro do festival, com a missão de sensibilizar e de aproximar a comunidade às novas formas de arte.
Com esse intuito, o programa aposta forte numa componente educativa, apresentando uma lista extensa de propostas para escolas e famílias.
No arranque do festival, a dia 4 de novembro, «Faro Oeste», a nova exposição da fotógrafa Pauliana Valente Pimentel, lança um olhar empático e intimista das comunidades ciganas locais, nomeadamente as das zonas de Faro, Loulé e Boliqueime.
Esta nova coleção de fotografias vê o quotidiano destas famílias, realçando as suas tradições, com o intuito de combater preconceitos e estereótipos racistas e xenófobos de que são constantemente alvo.

A mostra permanece em exibição até 19 de dezembro, no Museu Municipal de Faro.
No Teatro das Figuras, o artista multidisciplinar M̶i̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville, na performance «A Importância de Ser Alan Turing», prossegue o projeto de uma série de espetáculos sobre as vidas e obras de artistas e pensadores cuja importância tem sido vital no seu percurso artístico.
Neste trabalho, Bonneville toma como ponto de partida Alan Turing (1912-1954), o matemático, criptoanalista e cientista da computação de primeira geração.

Fruto do desafio feito pelo Verão Azul para três residências de criação, o coletivo de música catalão ZA! estreia «Cantos de Trabalho Impossíveis» – um concerto-fanfarra ou um espetáculo-percurso.
Eduard Pou e Pau Rodríguez, atualizam o repertório tradicional das canções de trabalho algarvias centradas na agricultura e na pesca, que serão apresentadas numa caminhada, do hotel ao centro comercial, terminando no Teatro das Figuras, em Faro.
O resultado é uma obra etno-musicológica feita através da experimentação e do humor, com a participação de cantores e improvisadores locais.
Também em Faro. Em Loulé, Tiago Gandra e de Daniel V. Melim, responsáveis pelo projeto Galeria de Arte Ambulante, estão ao volante do «Centro Cultural do Carro», que é, simultaneamente, uma performance e uma exposição de artes plásticas.
A partir de um velho Mercedes Benz, objeto automobilístico considerado em desuso, descobrem-se obras de arte nos seus mais ínfimos espaços interiores e exteriores.
Uma galeria ambulante que junta peças pouco conhecidas de artistas consagrados às de artistas algarvios, para uma reflexão poética sobre o contexto de criação e a difícil relação da arte com o mercado.
Os artistas promovem ainda duas atividades dedicadas ao público mais novo, em que este é convidado a transformar um carro num objeto de exposição.
No Centro Cultural de Lagos, em «Válvula», o ilustrador António Jorge Gonçalves e o MC e ativista Flávio Almada aka LBC Soldjah dirigem-se aos adolescentes, jovens e adultos com uma conferência-performance a partir da história do graffiti e do rap para nos transportar numa viagem com diversas perguntas que se cruzam com os direitos sociais e humanos.

Ambos são ainda os condutores de masterclasses para jovens: António Jorge Gonçalves vai explicar o método e a dinâmica performativa do desenho digital em tempo real e Flávio Almada partilhar uma experiência exploratória e participativa no universo do hip-hop, por via do ritmo, de técnicas de escrita e da improvisação.

Com uma grande componente infantojuvenil, o festival revela as «Histórias Magnéticas», o projeto do guitarrista e compositor Sérgio Pelágio dedicado à composição de bandas sonoras para histórias infantis.
Ao longo do Verão Azul o músico faz-se acompanhar da narração de Isabel Gaivão para, juntos, apresentarem um conjunto de histórias para guitarra elétrica e voz, onde sobressaem temas como o ambiente, a democracia e os sonhos, seguido de uma oficina criativa para crianças. A comunidade artística local também é chamada a intervir no Verão Azul.

Através de uma convocatória a criadores que participaram no Programa de Formação Artística desenvolvido pelo festival em 2020, este ano a programação conta com Flávio Martins e José Jesus, com a performance sonora «Orelhas de Burro», António Guerreiro e Carolina Cantinho, com o espetáculo de teatro e dança «Chama-se Amor, Amor», e João Caiano e Martim Santos, com a peça de teatro «Ele Escreveu por 25 Tostões».

Quem também mergulha no Verão Azul, de volta a Loulé, é o encenador brasileiro Alex Cassal, que traz «A Biblioteca do Fim do Mundo» – um espetáculo que recria a última noite antes do apocalipse, concebido para ser apresentado em bibliotecas, também com a participação da população local (uma ligação estabelecida durante a fase de criação no âmbito da residência artística Verão Azul).

«Neste mar cristalino, somos ainda confrontados com o alerta à devastação e à alteração da paisagem portuguesa, no poema visual da realizadora italiana Luciana Fina», explica a organização.
«Questo è il piano» é um filme que pretende provocar um debate urgente sobre o ambiente.
Produzido pela associação cultural casaBranca, o Verão Azul tem financiamento da Direção-Geral da Artes e Câmara Municipal de Lagos, contando com coprodução com o Teatro das Figuras de Faro e a Câmara Municipal de Loulé.
O programa completo pode ser descarregado aqui. Também é possível acompanhar o Verão Azul no Facebook e Instagram.
Sobre o Festival Verão Azul
A primeira edição realizou-se em 2011 durante quatro dias, em Lagos, com uma programação essencialmente nacional. Sempre com direção artística de Ana Boralho e João Galante, desde então, o festival estendeu-se também ao Sotavento algarvio. Afirmando-se como um evento de características únicas na região, tem apresentado de forma continuada projetos de teatro, dança, performance, música, cinema e artes visuais, conciliando obras de artistas nacionais e estrangeiros, com um percurso já firmado e reconhecido, com projetos de jovens criadores de carácter mais experimental.
Em 2018, abriu um novo ciclo e passou a festival bienal. Nos seus anos intercalares, dedica-se a trabalhar, juntamente com artistas convidados, a sua intenção artística de descentralização e aprofundamento de relações com os contextos, as comunidades e o tecido artístico locais, promovendo residências de criação, laboratórios de pesquisa e coproduções, cujos resultados serão apresentados em cada edição do festival.