Cerro da Vila renovado mostra herança romana de Vilamoura

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Contexto pandémico foi a oportunidade de renovar o Museu da estação arqueológica do Cerro da Vila que continua a produzir conhecimento e novas descobertas.

Uma nova aplicação (app), conteúdos interativos, guias áudio e novos expositores com peças nunca antes exibidas marcam a renovação das Ruinas Romanas do Cerro da Vila, em Vilamoura, que reabriu esta segunda-feira, dia 5 de abril.

As obras foram feitas entre o final de janeiro e início de abril, em plena quarentena, segundo contam ao barlavento os arqueólogos Filipe Henriques e Ana Pratas.

«O Cerro da Vila era uma casa nobre, de alguém endinheirado, socialmente bem colocado na cidade romana de Ossónoba, hoje Faro, que teria aqui uma casa de férias. A casa tinha uma zona produtiva para ser rentabilizada. Aqui, o ambiente era bom para a produção e consumo de bivalves como ostras, amêijoas e vieiras. Depois de produzidos eram colocados em ânforas de cerâmica ou para transporte ou para consumo. Não sabemos, contudo, o nome de quem seriam os proprietários», diz o arqueólogo.

O sítio data «do final da ocupação romana. Era uma casa tipicamente mediterrânica, virada para o centro, com jardim interior. Tinha duas salas em forma de torre, isto já numa época de transição. Mais tarde deixa de ser só casa de férias para ser uma espécie de aldeia. Hoje devemos ver cerca de 20 por cento do que teria sido habitado. Houve balneários públicos devido à imensa atividade portuária que aqui existiu durante 500 anos de ocupação e talvez até mais tarde», descreve Henriques.

Segundo Ana Pratas, as primeiras escavações começaram em 1963, antes mesmo do primeiro campo de golfe em Vilamoura, que surgiu em 1969 e da Marina, inaugurada em 1974. A última escavação arqueológica foi em 2008.

Anos de pesquisa no terreno resultam numa reserva com milhões de artefactos. Duas mil peças estão catalogadas e estudadas, mas nem chegam a 0,1 por cento do total. Nos dias de hoje, todo o espólio está à guarda da empresa Vilamoura World.

«Fazemos investigação, pesquisa, estudo, e documentação todos os dias. Isto é o que nos distingue. Apesar de sermos um museu privado, não somos apenas uma atração cultural. Desenvolvemos estudos e trabalhos arqueológicos todos os dias. Estas renovações foram feitas com amor porque achamos que são importantes para melhorar a experiência do que é Vilamoura. Dar vida à história e ao património», sublinha Scott Bennett, diretor de marketing da empresa.

«O nosso trabalho permitiu-nos introduzir agora novas peças que nunca antes foram mostradas, como um prato de terra sigillata, restaurado e reparado pelos romanos, durante o uso da peça, no século V d.C. Outra é um vaso lacrimal, usado para guardar perfumes, por exemplo. Outra peça nova, descoberta nas escavações entre 2007 e 2008, é uma pedra que terá sido parte de um monumento», além de estátuas, ânforas e anzóis.

«Tudo o que está aqui é fruto da nossa investigação. Já temos algumas publicações científicas e pensámos em mostrar os preparados piscícolas. A cavala e o atum que substituíam o sal na alimentação romana», acrescenta o arqueólogo.

Em relação à estação arqueológica adjacente, tem cerca quatro a cinco hectares de terreno e só cerca de um hectare e meio é que está aberto ao público.

No futuro, os arqueólogos querem escavar sepulturas visigodas, «cinco ou seis das quais, intactas».

«Trazer o museu para o século XXI»

A modernização do núcleo museológico das Ruínas do Centro da Vila era um desejo antigo de muitos clientes da Vilamoura World, diz Scott Benett.

Agora, a experiência começa na receção, onde o público encontra uma «espécie de Google Maps ampliado que nos mostra como era esta vila romana há 2000 anos. Vemos a proximidade com a água, porque existia aqui uma grande lagoa e um complexo portuário», explica o arqueólogo Filipe Henriques.

«Outra novidade é uma infografia com fotografias de quem trabalhou, escavou e investigou este sítio, sobretudo entre 2002 e 2004. Estamos a falar de equipas internacionais», acrescenta.

A museologia tem agora um design moderno e pode ser adaptada a novas exposições. As informações estão em português e inglês e há núcleos pensados para um público infantojuvenil.

 

E para aguçar a curiosidade de quem por ali passa, há uma janela que deixa ver, a partir do exterior, alguns artefactos romanos, islâmicos e da idade do bronze ali expostos.

No entanto, a visita só fica completa depois de se conhecer o jardim. Antes mesmo de vislumbrar as ruínas, o visitante tem agora à disposição uma planta, para perceber o que se encontra em cada local, complementada pelas placas ilustrativas.

Vilamoura World não se quis ficar por reestruturações físicas e também no mundo digital marcam presença com a criação de uma nova app que disponibiliza um guia áudio durante toda a visita, com explicações dos arqueólogos sobre cada artefacto.

Além disso, para quem não puder fazer uma visita presencial, há a possibilidade de se fazer uma visita virtual, de 360º, onde é possível conhecer o museu e até o pormenor de algumas peças, a título gratuito.

«Sabemos que há muitas pessoas que não nos vão poder visitar devido à pandemia e com a aposta no audiovisual online quisemos também dar-lhes opções. Além disso temos apostado muito, no último ano, em trazer escolas. Para nós é muito importante esta ligação à comunidade», conclui Scott Benett.

As Ruínas Romanas do Cerro da Vila ficam na Avenida de nome homónimo, ao lado da Marina e na estrada que dá acesso à Praia da Falésia e está aberto de segunda a sexta-feira, entre as 09h30 e o 12h30, e entre as 14h00 e as 18h00.

Os bilhetes custam entre os dois e os quatro euros e há também disponibilidade para agendar visitas para grandes grupos.