A Mákina de Cena – Associação Cultural apresenta a produção «O Relatório da Coisa», criação teatral assinada por Carolina Santos, a partir do conto de Clarice Lispector, nos próximos dias 17, 18, 19 e 21 de setembro, às 21h30, na Casa da Mákina (Rua Gonçalves Zarco, nº 11-13), em Loulé.
Este trabalho, desenvolvido em colaboração com Ana Karina e Marco Martins, será a primeira da temporada oficial da Casa da Mákina, um novo espaço cultural e performativo em Loulé, ativo desde abril, mas que celebrará a sua abertura oficial na terça-feira, dia 17 de setembro, às 21 horas, com a presença de representantes do executivo da Câmara Municipal de Loulé.
Entre analogias e referências múltiplas, «O Relatório da Coisa» de Clarice Lispector (que completa o centésimo aniversário do seu nascimento em 2020), foi publicado em 1974.
Hoje assume um novo significado neste mundo que, além de electrónico, se viciou no virtual e no digital, e onde «ser» já não pertence exclusivamente ao domínio do real e material.
De acordo com este relatório, uma das barreiras a serem vencidas para chegar ao que «é», consiste na desvalorização da palavra, e em anteceder a nomeação.
Assim como o relógio não dá conta do significado do tempo, a palavra poderá ser ineficaz na sua capacidade de significar.
Com a colaboração de Marco Martins e Ana Karina, Carolina Santos propõe-se a transpor «O Relatório da Coisa» para cena, num formato intimista, que cruza a poética do absurdo com a arte de contar histórias, privilegiando a imaginação, ora abolindo a «quarta parede», ora intensificando a solidão do intérprete na procura daquele misterioso espaço que antecede a verbalização das coisas.
Sinópse
D. Madalena Prudência vive só num espaço fora do normal, com uma rotina muito própria de alguém que concentra em si todas as dúvidas relativas à existência do tempo e das coisas, dos fenómenos energéticos da matéria, e do seu futuro na literatura.
Procura terminar um relatório preciso e confidencial, ainda que não consiga, pois tudo o que é essencial é seco, e o seu discurso fica muito vezes molhado pelas emoções.
De imaginação fértil e íntimo sofrido, o seu cansaço e falta de sono dificultam a tarefa de relatar e transmitir certas características de uma vida apodrecível.
O público está lá, faz parte do seu delírio, são os seus ouvintes imaginários reais, que confirmam a necessidade de descrever os erros do Tempo e de Deus.
A loucura nunca existe só, já «o tempo é, sempre, e imutável».