Camarão gigante dá as boas-vindas ao público no Festival do Marisco

  • Print Icon

Camarão gigante foi feito pelo artista Igor Nunes Silva com materiais reciclados e promete surpreender visitantes do Festival do Marisco.

São cerca de 400 peças individuais trabalhadas à mão em madeira, chapas de compósito de alumínio (dibond), boias de marcação e cinzeiros de praia, que dão forma a um enorme camarão que promete ser uma nova atração à entrada do Festival do Marisco, que começa esta quinta-feira, dia 10 de agosto. 

Igor Nunes Silva, artista autodidata e mestre no uso de vários materiais e técnicas artísticas conta que tudo começou com um telefonema de Nisio Calvinho, técnico superior de ambiente da Câmara Municipal de Olhão. «Pediu-me que fizesse algo diferente, capaz de atrair atenções e olhares dos visitantes. Pedi-lhe uns minutos para pensar. Peguei num lápis e fiz um esboço. Lembrei-me de uma antiga caneca que já serviu este evento em tempos e imaginei fazer algo de grandes dimensões com um camarão gigante no topo. Como sou escultor, pensei que seria fácil executar». 

No armazém do departamento de eventos e praias balneares e outros, encontrou tudo o que necessitava. «Não gostam de desperdiçar e não deitam coisas fora. E ainda bem. Logo ao início, deixaram-me à vontade. Deram as chaves, tudo, para poder trabalhar. Começou por ser um puzzle de lixo que ninguém entendia nada. Só começou a ter impacto ao sétimo dia», brinca. 

«Começo a imaginar a obra já feita. Fiz a base, com duas meias-luas para formar a caneca. No interior coloquei o peso necessário para se equilibrar. Depois, fiz as costelas da gamba uma a uma, de forma a ter uma boa relação entre o peso e o tamanho». O toque final foi a pintura, com tinta spray à base de água, amiga do ambiente. Igor orgulha-se do custo da obra: «penso que se somarmos tudo, terá ficado à volta de 60 euros!».

A mão de obra também não custou nada ao município, já que o artista integra, desde há dois meses, a parte de conservação e restauro do Museu de Olhão, onde até dá uma mão extra ao serviço educativo.

Também por isso foi desafiado este ano a fazer quatro caravanas escultóricas para o Carnaval de Moncarapacho: um avião, um barco de Veneza (gôndola), um carro alegórico com gelados e outro com cavalos-marinhos e uma concha gigante.

«Foi a primeira vez que fiz trabalhos porque a minha especialidade escultórica são bustos clássicos, humanos, com rigor. Há uns anos fiz o busto de Jorge Sampaio, ficou na casa de João Cravinho», recorda. O camarão gigante será colocado junto à entrada principal, «mas de forma a que não atrapalhe a circulação de pessoas».

Um olhanense do mundo

Igor Nunes Silva, nasceu a 16 Março de 1977, e cedo partiu em busca de aventura e inspiração para a arte. «Sim, isto é algo que já nasce connosco e depois vai evoluindo na prática», diz. «Quando era miúdo, ais 16 anos fui para a Dinamarca. Quando expirou o visto de turista, disseram-me que teria de estudar ou regressar a Portugal. Fiquei, mas andava um pouco aborrecido até que encontrei uma escola japonesa de artes e tradições culturais. Ao final de algum tempo perguntaram-me se estaria interessado em fazer um intercâmbio» no país do sol nascente.

«Tentei absorver o máximo de informação possível, em workshops de construção de katanas e de armaduras de samurai», recorda. De volta à Europa, viajou por várias capitais. Vendia caricaturas nas ruas de França, Bélgica e Itália, para depois visitar museus e quando conseguia, participar em workshops. No decorrer dos anos 1990, dedicou-se à cibernética, robótica, banda desenhada e à pintura e até arranjou tempo para colaborar com a imprensa. Durante o percurso artístico tem sido também premiado por alguns concursos. Igor orgulha-se também de entre 2014 e 2015, se ter envolvido num projeto artístico no Brasil, iniciado em Campinas e Uberaba, para apoiar causas de solidariedade e humanitária. Expôs uma coleção de obras artísticas originais e dou metade das receitas geradas pela venda de reproduções em serigrafia.

«Não tive lucro, mas foi uma experiência fantástica». Nesse mesmo ano, desenha a capa do álbum comemorativo dos 10 anos de carreira da cantora algarvia Viviane, intitulado «Confidências». Em 2016, colabora no filme «Portugal não está à venda», do realizador André Badalo, e em 2017 participou com ilustrações no livro «Alquimia das Metáforas», de Fernando Reis Luís, sob a chancela da Arandis Editora.

Mais recentemente, em 2020, ofereceu um quadro a Marcelo Rebelo de Sousa, entregue em mãos pelo próprio, na presença do autarca António Miguel Pina. Ao longo do seu percurso, faz sempre questão de manter o vínculo com Olhão e desde 2017 que colabora com a autarquia, passando a participar nas principais iniciativas culturais e artísticas.

«Nem sempre estou a vender quadros e preciso de um meio de subsistência. Tenho anos em que consigo ganhar a vida como artista, outros que não. Em Portugal ninguém vive só da arte. É muito difícil», diz, embora esteja satisfeito com o novo trabalho. «Em breve, possivelmente vou a Angola. Sei que alguém enviou uma fotografia desta peça do camarão à embaixada em Lisboa, e ficaram muito entusiasmados».