Sun Concept soma seis anos de experiência na construção de embarcações de recreio e profissionais que utilizam apenas a energia solar enquanto força motriz. Estaleiro de Olhão é exemplo de inovação alavancada por fundos europeus no Algarve.
Já está pronto para entrega o OYSTER, novo barco eletrosolar que vai trabalhar nos viveiros de bivalves da Ria Formosa, o primeiro de um conjunto de três, desenvolvido e construído de raiz para a iniciativa Culatra 2030 – Comunidade Energética Sustentável.

Manuel Braz, CEO e um dos sócios fundadores da Sun Concept, não esconde o entusiasmo. «Do ponto de vista da responsabilidade social da nossa empresa, é um projeto que nos foi muito querido desde o início. É uma embarcação especializada feita com base nas especificidades que nos foram pedidas. Tem um casco único, de linhas direitas, adequado a transportar muito peso. É totalmente elétrico e autossustentável. Os painéis solares alimentam as baterias que alimentam os motores, um ciclo que se permanece inalterável em todos os nossos modelos», afirma.
«Foi pensado para ter múltiplas utilizações profissionais. O propósito é completamente diferente do que tínhamos desenvolvido até ao momento. Na nossa opinião, está bem construído, é um produto diferenciador, multifacetado, amigo do ambiente e economicamente viável. Um bom barco para um uso profissional sustentável».
O novo OYSTER resulta de «todo um trabalho de investigação, desenvolvimento e produção levado a cabo pela Sun Concept. Tem um preço competitivo, dispensa combustíveis fósseis, tem um baixo custo de manutenção, e garante uma utilização limpa e amiga do ambiente». Complementa o catálogo da Sun Concept e poderá ter interesse não só na comunidade dos viveiristas em Portugal, mas também em outros locais onde esta seja praticada como seja o caso de Espanha e França.
Mas esta não é a única novidade que a empresa algarvia tem em mãos. Segundo Manuel Brito, sócio e investidor, «desde setembro começámos a sentir que está a haver uma nova procura e toda as semanas temos um conjunto de interações, com pedidos de orçamentos e de informações, que não esperávamos face a tudo o que aconteceu» com o advento da pandemia de COVID-19.
«A empresa acabou de fechar a venda eu um catamarã CAT 12.0 para operar na República Dominicana e está em vias de concretização de fechar a venda de mais dois. Um para Palma de Maiorca, Espanha, e o terceiro ficará no Algarve para completar a oferta de uma unidade de alojamento propriedade de investidores britânicos», revela.
No fundo, estas novas encomendas «destinam-se ao nosso principal objetivo de mercado, que são as empresas marítimo-turísticas. São estas que usufruem, pela utilização intensiva das nossas embarcações, da maior vantagem económica em comparação com as que utilizam embarcações com motorização convencional a combustão. Isto para além da clara diferenciação pelo produto que passam a poder oferecer aos seus clientes».
São estes operadores que, numa ótica de utilizador, vão obter as maiores vantagens ao utilizarem as nossas embarcações, enquanto contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) traçados pelas Nações Unidas.
E, por isto mesmo, poderão ter acesso a formas de financiamento através de Fundos de Apoio, também eles diferenciadores e que permitem alavancar os investimentos nas renovações de frotas ou na criação de novas operações. São oportunidades irrepetíveis que não devem ser desperdiçadas», refere Manuel Costa Braz.
Embarcações que têm diagnóstico à distância
O trabalho da Sun Concept não se esgota na construção física das embarcações. Uma parte importante tem a ver com a digitalização e o desenvolvimento de sistemas de tecnologia de ponta. É uma forma de elevar a competitividade, tanto ao nível nacional como internacional, através incorporação de sistemas inovadores, alguns até inéditos em embarcações comuns.
Manuel Braz explica: «hoje já usamos vários componentes que geram informação específica. A qualquer altura e em qualquer local, é possível saber o estado de vários componentes do barco como sejam a produção de eletricidade dos painéis solares, a energia disponível nas baterias, a autonomia, entre outros parâmetros. O proprietário pode ter tudo isso no seu telemóvel ou PC, a qualquer momento».
«Além disso, atualmente também temos capacidade de acesso remoto à embarcação para podermos analisar o estado dos componentes eletrónicos e mecânicos. Mas queremos ir mais longe. A nossa ideia é combinar todos estes dados avulsos para gerar nova informação mais detalhada e num sistema integrado, capaz de fornecer a qualquer momento, dados sobre o estado efetivo do barco como um todo. Permitindo, remotamente, diagnosticar e atuar diretamente na embarcação, desde que haja autorização expressa do proprietário. Esta capacidade será um conforto para quem está no mar no caso de surgir algum imprevisto técnico. Vamos ter a capacidade de fazer as reavaliações que forem necessárias e poderemos ajudar o operador a resolver os problemas, em qualquer altura, em qualquer local e em tempo real. Sabemos bem o que isto significa no que respeita a paz de espírito de quem navega».
Um objetivo que será possível através do Programa Operacional CRESC Algarve 2020, já que a Sun Concept apresentou uma candidatura ao PAPN – Programa de Apoio à Produção Nacional (Base local), no valor de 235 mil euros, comparticipada a 50 por cento pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
«É um projeto tecnológico de elevado valor acrescentado e com a colaboração de empresas ligadas ao meio universitário que trazem assim um nível de conhecimento que queremos seja claramente diferenciador e prova das capacidades nacionais. A especificidade e a especialização das atividades, cada vez é um bem mais necessário e que tem um custo naturalmente mais elevado. Temos estado a falar em processos de digitalização que acompanham todo o ciclo de produção da embarcação, até à sua utilização», diz ainda.
«Trata-se sobretudo de programação e já temos protocolos com o Instituto Pedro Nunes de Coimbra que nos vão ajudar a executar todo esse processo que deu origem à candidatura. A boa notícia é que quando o sistema estiver pronto, não é apenas para os barcos de nova geração. «Será possível fazer um upgrade nos barcos que já construímos, em qualquer altura, através de um módulo adicional».
Investimento produtivo e novos mercados
Esta candidatura também se destina a apetrechar o estaleiro com novos equipamentos, de modo a aumentar a capacidade de produção. «Um exemplo é a aquisição de uma nova máquina de pintura industrial com processo de pré-aquecimento e mistura interna de compósitos e é utilizada na construção dos barcos. Permitirá melhorar os tempos de produção e a qualidade do trabalho efetuado», revela o gestor.
Outra aquisição, «é uma CNC, um robot de corte que permite fazer peças com alta precisão em vários materiais». Neste momento, a capacidade de produção anual nas instalações atuais na zona industrial de Olhão, são quatro catamarãs, até oito unidades do EVO 7.0 e OYSTER, a nova embarcação profissional. Esta distribuição é adaptada em conformidade com as encomendas recebidas.
«É um equilíbrio que temos de ir mantendo», diz Manuel Brito.
«A nossa expetativa no final de 2019, era que, por esta altura, já deveríamos estar em instalações mais amplas e com uma capacidade de produção bem diferente, tanto em número como em capacidade de construção de embarcações de maior dimensão. As repercussões inerentes ao COVID-19 alteraram radicalmente os nossos planos.
A retração nos investimentos previstos por parte dos nossos principais clientes – operadores marítimo-turísticos devido à diminuição abrupta da atividade turística, fez-nos ter de suspender estes planos. Os operadores que estavam a pensar em adquirir novas embarcações ou renovar frotas, suspenderam tudo o que estava em pré-encomenda. Foi realmente um forte revés já que em 2019 já estávamos a atingir um nível de notoriedade e de interesse bastante elevado», recorda Manuel Brito.
No entanto, «não podíamos ficar de braços cruzados e, este interregno, apesar do prejuízo, permitiu-nos fazer um conjunto de atividades de que agora estamos a ter retorno. São exemplo, o desenvolvimento de novas possibilidades de configuração do catamarã CAT 12.0 que agora tem novas possíveis utilizações: barco restaurante, de passageiros ou utilização especifica para atividades de mergulho, são alguns exemplos. Alargámos o espectro possível de utilização», refere Manuel Braz.
«O CAT 12.0 de passageiros pode transportar cerca de 34 pessoas, bicicletas, e é um produto que hoje os municípios e as empresas necessitam para fazer curtas travessias» em estuários ou entre margens.
Além disso, «fizemos o desenvolvimento do EVO 7.0, que veio substituir o Sunsailer 7.0, o nosso barco de sete metros. Tem várias opções de layout, maior habitabilidade, motores mais potentes e maior capacidade de carregamento energético. Foi lançado em maio deste ano, na feira náutica de Vilamoura e desde então já vendemos quatro unidades. Foi um bom acolhimento».
«E por fim, desenvolvemos a linha profissional da Sun Concept de que o OYSTER agora apresentado é o primeiro exemplo». Foi um enorme desafio de quem não pretendeu baixar os braços» conclui Manuel Braz.
Em relação à importância do Programa Operacional CRESC Algarve 2020, em que a Sun Concept já soma cinco candidaturas aprovadas desde 2016 num montante global de investimento de quase um milhão de euros, o CEO é perentório: «para nós em particular, sendo uma empresa nova a entrar em novas atividades, mesmo com todo o nosso entusiasmo e força em querer fazer e avançar, este apoio que nos tem sido dado, é absolutamente fulcral».
Proteção do ambiente começa aqui e agora
O objetivo da Sun Concept é conceber, desenvolver e produzir embarcações que utilizem exclusivamente energia solar e propulsão elétrica, anulando o consumo de combustíveis fósseis com vista à sustentabilidade ambiental do sector naval, com soluções de alta tecnologia.
Manuel Brito, sócio e investidor da empresa, chama a atenção para o crescendo de barcos a motor de combustão na Ria Formosa. «A Ria produz riqueza, é um ecossistema sensível que dá abrigo à nidificação de muitos peixes e aves. Portanto, é o que se chama um capital natural, mas que está constantemente a degradar-se».
«Esta pressão coloca a prazo tudo o que nela se produz. Fico descontente quando vejo embarcações de recreio a acelerar, poluindo e estragando este património que é de todos. Penso que terá de haver um modelo de gestão, gradual, ao exemplo do que se passa hoje em qualquer país desenvolvido da Europa. Alemanha, França e Suíça, nos lagos e barragens fechadas, já não permitem motores a combustão. Aqui na Ria Formosa navegam centenas de barcos com elevada potência. A natureza não aguenta isto. Quando os mariscadores não conseguirem produzir nada, o que é que se vai fazer? Isso é essencial e quem tem essa responsabilidade política tem de começar esse caminho».