Lagoa acolheu, no passado fim de semana, um dos maiores acordeonistas do mundo da atualidade que abriu uma rara exceção na sua agenda para vir ensinar os talentos da região algarvia. A deslocação de Richard Galliano, a convite da Academia de Música de Lagos, teve dois objetivos: dar ao público algarvio a oportunidade de assistir a um dos seus concertos de alto nível e proporcionar uma masterclass a jovens acordeonistas da região algarvia.
Com mais de meio século de carreira, o músico francês justificou ao «barlavento» porque é tão raro promover este tipo de ações. «Faço cerca de 140 concertos por ano, embarco num número semelhante de voos, coloco muita energia nos concertos, e componho os temas. Resta-me pouco tempo. Esta foi uma exceção, porque tinha curiosidade em conhecer os alunos do professor Gonçalo Pescada. Estes jovens deram-me energia, porque os alunos são como um tónico para mim».
A masterclass contou com 20 participantes, dos quais nove ativos e 11 ouvintes. Sobre as suas características, Galliano disse-nos que «são muito jovens, mas estão bem preparados, demonstrando grande qualidade técnica. Falta-lhes apenas juntar emoção e dinâmica musical. Mas são magníficos, com grande doçura», sublinhou.
Filho do grande acordeonista e pianista Luciano Galliano, iniciou-se no acordeão aos 4 anos de idade. Mais tarde, aprendeu piano e trombone, mas voltou sempre ao instrumento inicial. E veio a criar um estilo, com a introdução do jazz na sua música, inspirado pelo famoso trompetista americano Clifford Brown. «Foi uma questão de sorte. Encontrei um disco dele, adorei a sua interpretação e achei que era uma música linda para misturar no acordeão. Já havia alguns acordeonistas americanos a tocar jazz, mas eram raros. A música que se tocava no instrumento, nessa época, era mais baseada em temas folclóricos. Hoje, sim, mistura-se, jazz, tango e outros géneros», explicou.
Richard Galliano foi campeão mundial, muito novo, em 1966 e 1967, em Espanha e França, respetivamente. E, numa altura em que a tecnologia avança e cada músico procura o último modelo, para melhorar o seu desempenho, «há 50 anos que toco com o mesmo acordeão. Mudei um pouco ao longo dos anos, mas sou constante na minha linha, com música intemporal, o mesmo som e a mesma amplificação», detalhou.
No concerto que teve lugar no Auditório Municipal de Lagoa, no passado sábado, o génio do acordeão encantou a plateia que encheu a sala. Quer nas interpretações a solo, quer nas em que foi acompanhado pela Algarve Camerata, uma orquestra de cordas de nível profissional, composta por professores da Academia de Música de Lagos, sob a direção do maestro João Rocha, também ele um professor desta casa.
Aliás, Galliano teceu os maiores louvores aos membros deste coletivo algarvio. «Os portugueses são muito simpáticos e de uma imensa doçura. Essa característica reflete-se no seu modo de tocar. O próprio maestro João Rocha conduz com muita suavidade. Gostei imenso de ser acompanhado por eles», concluiu.
<h3>Um professor diferente</h3>
Francisco Monteiro, um dos jovens participantes na masterclass, disse ao «barlavento» que Richard Galliano é diferente de todos os outros professores. «A maioria exige técnica e velocidade. Aliás, nos concursos, valorizam demasiado a técnica e cada um tenta tocar mais rápido do que o outro. O professor Richard Galliano agarrava no acordeão, tocava connosco e obrigava-nos a abrandar o ritmo, para que o sentimento da música pudesse vir ao de cima, criando emoção no executante e no público». Este jovem de 17 anos sabe bem do que fala, pois tem experiência internacional, tendo conseguido, entre outros prémios, o 2º lugar para concorrentes até aos 17 anos, no passado mês de Outubro, no Troféu Mundial de Acordeão realizado em Portimão.