As Missas do Parto põem os madeirenses a ir à missa de madrugada, sendo celebradas na maioria das paróquias do arquipélago, de 16 a 24 de dezembro. No entanto, em algumas localidades decorrem de 15 a 23, devido ao pároco ter a seu cargo mais do que uma comunidade.
A novena à Virgem Maria, pelos nove meses de gravidez, acontece entre as 5 e as 7 horas da manhã, embora haja localidades em que é celebrada à tarde.
Em cada dia, a missa é organizada pelos paroquianos, que têm também à sua responsabilidade o convívio no adro. Após a celebração, formam-se grupos de cantares que, ao som dos instrumentos musicais típicos como o rajão, as castanholas, a braguinha, o pandeiro, a gaita, o bombo e o acordeão, vão entoando o refrão: «Virgem do Parto/ Ó Maria, Senhora da Conceição/ Dai-nos as festas felizes/ A paz e a salvação», entre muitas outras.
Nestes últimos anos, e apesar do frio da madrugada, as Missas do Parto têm registado uma grande afluência em todas as paróquias da Madeira e do Porto Santo, que mantêm viva esta tradição única no país. Cada uma tem a sua particularidade. Por exemplo, em Câmara de Lobos as bandas filarmónicas, durante a noite, percorrem o sítio para «chamar» a população. Quem quiser, abre as portas de sua casa aos músicos, recebendo-os com uma mesa farta de iguarias caseiras típicas desta altura festiva. Em outros concelhos, são os búzios que chamam os paroquianos de madrugada para a celebração.
Já próximo da hora marcada, os paroquianos seguem em romaria para a igreja, em alguns sítios, acompanhados pela banda. A liturgia é muito específica. Cada antífona começa com «Ó» evocando o ventre redondo de Nossa Senhora, a Senhora do Ó, celebrada a 17 de dezembro. Desde o século XIX, a Senhora do Ó é conhecida na Madeira como a Virgem do Parto. Na missa há a invocação ao Espírito Santo, o canto da Ladainha e também os cânticos à Virgem, ao seu parto e à alegria do nascimento de Jesus.
Cacau e canja
Depois da missa, um convívio junta centenas de pessoas no adro da igreja a cantar versos populares, em honra da Virgem Maria. Para combater o frio, serve-se cacau quente e licores. Para saciar a fome, há canja, sandes de carne de vinho e alhos, bolo e broas de mel.
Como são nove Missas do Parto, há quem participe nas várias paróquias. Famílias, amigos e colegas de trabalho formam grupos, fazendo um roteiro. Há missas mais concorridas que outras. Boa Nova, Camacha, Nazaré, Curral das Freiras, Santa Cecília, Ponta Delgada e Canhas estão entre as mais procuradas.
Até o Bispo do Funchal, D. António Carrilho tem por hábito participar. Hoje em dia, não são apenas os paroquianos os interessados. Pastores, enfermeiros, militares, polícias, jornalistas e até pelos «arredados» (as pessoas que raramente vão à missa) as pedem. Graças às novas tecnologias, são divulgadas no facebook. As Missas do Parto são consideradas uma adaptação local das novenas ao Menino Jesus praticadas nos séculos XVIII e XIX no Norte de Portugal. Há também quem defenda que estas remontam ao tempo da colonização e da tradição da Nossa Senhora do Ó que se enraizou e ganhou a conotação de novenário na Madeira.
Reportagem de Marília Dantas | «JM – Jornal da Madeira» | mariliadantas@jm-madeira.pt
Edição partilhada especial de Natal
O «barlavento» aceitou o desafio que Marsílio Aguiar, diretor do «JM – Jornal da Madeira» lançou a um conjunto de títulos publicados de norte a sul de Portugal, Açores inclusive. Um projeto pioneiro e independente de partilha de histórias com objetivo de, em cada jornal regional, celebrar o Natal de todo o país. Participam na iniciativa os jornais «Aurora do Lima»; «Diário do Alentejo»; «Diário do Minho»; «Diário Insular»; «JM – Jornal da Madeira»; «MAIS/Semanário»; «Notícias da Covilhã»; «O Almonda»; «Região de Leiria».